São Paulo - O conflito entre Rio de Janeiro e São Paulo em torno do rio Paraíba do Sul é apenas o sintoma mais visível de um problema grave: a crise de governança da água. Para especialistas, o governo brasileiro falha em dar respostas adequadas às crises hídricas, o que coloca em risco a própria legitimação de suas instituições.
A investida da companhia de eletricidade de São Paulo (CESP) de reduzir a vazão de água da Usina Hidrelétrica Jaguari - contrariando determinação do ONS e diminuindo assim a quantidade de água do Paraíba do Sul que segue para o Rio de Janeiro - é indicação clara do problema.
Outro sinal: o risco da disputa em torno da transposição do Paraíba do Sul ir parar no Supremo Tribunal Federal (STF). A proposta enfrenta a resistência do governo fluminense e é tema de uma ação do Ministério Público Federal de Campos.
"Quando a gente chega a esse ponto é porque a crise tem sido de governança. A gestão da água vinha numa crescente focada na administração por bacias hidrográficas, mais descentralizada e mais participativa. Infelizmente, na última década, temos tido uma fragilidade, um desmonte desse tipo de gestão, muito desencadeado pelo governo federal. E isso tem a ver, por exemplo, com o enfraquecimento da ANA, que tem menos poder do que a Aneel", afirma Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica.
Para ela, a crise da governança ficou explicita na transposição do Rio São Francisco, "quando todos os comitês de bacias da região foram contra a obra, e mesmo assim ela foi à frente e a questão foi para a justiça, e agora temos uma obra inacabada".
Esse episódio foi, segundo Malu, o primeiro abalo na estrutura do sistema de recursos hídricos no Brasil.
"Se os comitês deliberaram contra, por questões técnicas e ambientais, por que foram ignorados?", questiona.
Outro caso problemático, na visão da especialista, foi a expansão de PCHs (pequenas centras hidrelétricas) em Minas Gerais, que estavam sendo licenciadas, mas o Ministério Público teve que revogar as licenças porque não foi feito um estudo de impacto ambiental nas bacias hidrográficas afetadas.
"Minas Gerais, que é popularmente conhecida como caixa d’água no Brasil, acabou sendo enfraquecida pelo confronto judicializado entre o setor elétrico e o de água", acrescenta.
Rio x SP
Para Márcio Pereira, especialista em meio ambiente do L.O. Baptista-SVMFA, a disputas judiciais não resolvem o problema hídrico. Segundo ele, nem São Paulo, nem o Rio de Janeiro e tampouco o governo federal, têm cumprindo com suas obrigações de gestão.
"As nossas agências reguladoras deveriam fazer a mediação de conflitos, mas esse papel ainda não foi implementado. Cabe ao governo fazê-lo. É o processo de integração entre diferentes politicas que está faltando. O setor elétrico tem uma política, o setor de resíduos tem outro, o de água tem outro, assim fica difícil", pontua.
São Paulo e Rio, segundo ele, poderiam aproveitar a oportunidade para reunir todos os atores que fazem uso da água e encontrar uma solução apartidária, buscar uma oportunidade de iniciar um novo modelo de gestão a fim de evitar conflitos nos próximos anos.
"Sem mexer na nossa Constituição, poderíamos criar um sistema único que centralizasse todos os órgãos. Porque a água é continua, ela só vai ter diferentes domínios de forma circunstancial", completa.
Arthur Rollo, advogado e professo da Faculdade de Direito de São Bernardo, alerta para a tendência dos conflitos de água aumentarem à medida que as fontes atuais são exauridas ou poluídas.
"O poder público tem o dever de preservar os recursos naturais. Isso devia ser permanente. Na verdade, países conscientes em relação à água usam essa política de forma permanente. Mas aqui a gente suja a água da represa, e tem que gastar muito dinheiro para tratar e gerar agua potável", diz.
Mas a população também tem papel ativo. "Tem um principio do direito ambiental que é o principio da participação ambiental, todos têm que participar ativamente da preservação dos recursos naturais para a presente geração e para o futuro. Tem que preservar, fiscalizar e cobrar", finaliza.
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1. Ineficiência que custa caro
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1/24 (Getty Images)
São Paulo – Já pensou em quanta
água se perde no caminho entre a estação de tratamento e a torneira da sua casa? Não é pouca coisa. Um
estudo feito pelo Instituto Trata Brasil revela que quase 40% da água tratada no
Brasil é desperdiçada. Um quadro imperdoável para um recurso tão precioso e cada vez mais escasso. A título de comparação, na Europa, essa taxa é de 15% e no Japão, de apenas 3%. Ligações clandestinas, vazamentos, obras mal executadas ou medições incorretas no consumo de água são as principais causas da perda de faturamento das empresas operadoras e dos estados. A pesquisa mostra ainda que uma redução de apenas 10% das perdas do país representaria uma receita de R$ 1,3 bilhão, o que representa quase metade do investimento feito em abastecimento de água no ano de 2010. No Amapá, pior caso, uma redução de apenas 10% traria um ganho de R$ 8,3 milhões, ou seja, valor 6.135% maior do que o Estado investiu em água em 2010. O estudo utiliza dados de 2010, que são os números oficiais mais recentes, e se baseiam nas perdas financeiras dos provedores dos serviços informadas ao Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), do Ministério das Cidades. Veja a seguir as perdas por estado.
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2. 1º - Amapá
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2/24 (Antonio Milena/Veja)
Participação na produção nacional de água: 0,54% Média de perdas de faturamento: 74,16% Receita operacional direta de água (R$ mil/ano): 28.761 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$/mil): 8.253
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3. 2º Alagoas
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3/24 (Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 1,32% Média de perdas de faturamento: 65.87% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 175.564 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 71.568
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4. 4º Maranhão
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4/24 (Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 2,78% Média de perdas de faturamento: 63,98% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 170.669 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 30.304
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5. 5º Acre
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5/24 (Eduardo Duarte/Creative Commons)
Participação na produção nacional de água: 0,39% Média de perdas de faturamento: 62,78% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 23.472 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 3.958
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6. 6º Amazonas
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6/24 (Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 2,18% Média de perdas de faturamento: 58,37% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 221.486 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 31.049
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7. 7º Pernambuco
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7/24 (Getty Images)
Participação na produção nacional de água: 4,99% Média de perdas de faturamento: 56,83% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 619.446 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 81.531
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8. 8º Rondônia
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8/24 (Getty Images)
Participação na produção nacional de água: 0,67% Média de perdas de faturamento: 54,81% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 107.213 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 13.004
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9. 9º Sergipe
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9/24 (.)
Participação na produção nacional de água: 1,36% Média de perdas de faturamento: 51,63% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 237.867 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 25.392
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10. 10º Rio Grande do Norte
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10/24 (Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 1,96% Média de perdas de faturamento: 49,28% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 278.419 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 27.054
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11. 11º Rio Grande do Sul
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11/24 (Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 6,84% Média de perdas de faturamento: 47,07% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 1.746.744 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 187.040
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12. 12º Piauí
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12/24 (Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 1,31% Média de perdas de faturamento: 47,04% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 215.022 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 19.100
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13. 13º Rio de Janeiro
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13/24 (Rodrigo Soldon/Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 15,01% Média de perdas de faturamento: 46.95% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 2.581.874 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 246.444
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14. 14º Mato Grosso
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14/24 (Mateus Hidalgo/Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 2,1% Média de perdas de faturamento: 43,79% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 212.518 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 16.558
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15. 15º Belém
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15/24 (Renato Ribeiro/Flickr/Creative Commons)
Participação na produção nacional de água: 1,95% Média de perdas de faturamento: 41,32% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 194.406 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 13.687
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16. 16º Paraíba
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16/24 (Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 1,6% Média de perdas de faturamento: 36,79% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 280.482 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 17.175
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17. 17º São Paulo
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17/24 (Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 16,69% Média de perdas de faturamento: 32,55% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 5.700.564 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 275.774
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18. 18º Goiás
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18/24 (Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 4,74% Média de perdas de faturamento: 31,29% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 1.214.641 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 57.278
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19. 19º Bahia
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19/24 (Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 5,94% Média de perdas de faturamento: 30,27% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 1.146.201 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 49.762
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20. 22º Santa Catarina
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20/24 (Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 3,34% Média de perdas de faturamento: 22,03% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 838.722 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 30.015
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21. 23º Tocantins
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21/24 (Divulgação/Prefeitura)
Participação na produção nacional de água: 0,6% Média de perdas de faturamento: 21,93% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 145.988 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 4.102
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22. 24º Ceará
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22/24 (W)
Participação na produção nacional de água: 3,01% Média de perdas de faturamento: 21,76% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 487.080 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 13.547
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23. 26º Mato Grosso do Sul
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23/24 (Wikimedia Commons)
Participação na produção nacional de água: 1,41% Média de perdas de faturamento: 19.65% Receita operacional direta de água (R$mil/ano): 333.433 Aumento na receita se reduzir em 10% as perdas (R$mil/ano): 8.155
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24. ...
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24/24 (E-magic/Flickr)