O voo da Força Aérea Brasileira (FAB) aterrissou no Galeão, na Zona Norte da capital fluminense, por volta de 2h40 (Força Aérea Brasileira/Reprodução)
Agência de notícias
Publicado em 12 de outubro de 2023 às 08h45.
Um avião com mais 214 brasileiros que estavam em Israel quando terroristas do Hamas lançaram uma ofensiva contra o país e deflagraram uma guerra no país do Oriente Médio chegou ao Rio de Janeiro na madrugada desta quinta-feira, 12.
O voo da Força Aérea Brasileira (FAB) aterrissou no Galeão, na Zona Norte da capital fluminense, por volta de 2h40, trazendo também cães e gatos. Foram, ao todo, 14 horas de viagem, sem escala.
O avião KC-30, um Airbus A330 200, decolou de Tel Aviv na tarde desta quarta com brasileiros que haviam ficado retidos em Jerusalém durante a invasão por terra e mar e o lançamento de foguetes dos terroristas, desde o último sábado. A viagem fez parte da Operação Voltando em Paz, iniciativa de repatriação de cidadãos nacionais promovida pelo governo federal.
Segundo o Itamaraty, idosos, grávidas e crianças são os três grupos prioritários no processo de repatriação.
Os primeiro grupo de brasileiros resgatados pela Força Aérea Brasileira (FAB) em Israel demonstrou alívio e alegria ao chegar ao Brasil na madrugada desta quarta-feira. Na Base Aérea de Brasília, testemunhas da guerra relataram a tensão vivida com o zunido de mísseis sobrevoando os céus de cidades como Tel Aviv e Jerusalém, além dos momentos de angústia em abrigos.
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O voo da FAB, um KC-30 levando 211 passageiros, pousou às 4h06 da madrugada. Parte dos passageiros ficou em Brasília, onde poderia fazer conexões para as regiões ondem moram, enquanto outra parcela de brasileiros, a maioria de turistas com a viagem interrompida, seguiu em avião da Aeronáutica para o Rio de Janeiro.
Horas depois, 104 passageiros desembarcaram Base Área do Galeão, na Ilha do Governador, Zona Norte do Rio.
A empresária Virgínia Salomé não vê a hora de abraçar a irmã mais nova, Andrea Martins, de 49 anos. A carioca viajou para Israel em uma excursão evangélica na segunda passada. A princípio, a ideia era ficar cerca de dez dias em Jerusalém. Mas o cenário mudou quando houve o ataque do grupo palestino Hamas a Israel, que começou no ultimo sábado.
— Todo a família estava em pânico. Cada dia que passa é uma novidade estrondosa. A gente está aliviado porque ela está sempre mandando noticias. E, agora, está voltando para casa. Ela está tentando acalmar a gente. Ela nos avisou que o país estava em guerra. Ela ficou em hotel e nada aconteceu. Não vejo a hora de vê-la. Acho que vou desmaiar quando acontecer nosso encontro — brincou a empresária.
Em viagem de oração a Jerusalém, Cristina Balbi, de São Paulo, estava no local apontado por religiosos em que Jesus foi sepultado, em Jerusalém, quando começou a presenciar o ataque terrorista do Hamas. Ela diz ter visto um míssil ser interceptado pelo sistema de defesa israelense.
— Não sabíamos o que fazer (com as sirenes). Passou dois minutos, ouvimos o estrondo do míssil, o Iron Dome (funcionando, sistema que intercepta a artilharia), por conta dos mísseis lançados pelo Hamas. Naquele momento, a gente estava já indo para o hotel, e fomos para o bunker, em Jerusalém — relatou Cristina Balbio — Fomos ao Jardim do Túmulo, nós vimos o míssil sendo abatido acima da nossa cabeça — relata a brasileira.
No desembarque em Brasília, a nutricionista Giulia Maria Zarello era uma das passageiras emocionadas por retornar ao Brasil. Ela passou apenas três dias em Israel, onde teve que se abrigar em locais protegidos para esperar a situação melhorar.
— Não esperava as crianças aqui no aeroporto. Só esperava o marido — disse ela, emocionada, ao ser recebida pela família.
A mineira Fernanda Damasceno, de Belo Horizonte, ainda na saída da Base Aérea, estava emocionada e chorando por regressar ao Brasil.
— Três dias presa no hotel, correndo para o bunker por causa de sirene. Mas, com fé em Deus e Nossa Senhora, saímos. Teve um dia que não entrei em contato, e a família ficou desesperada. Mas depois eu consegui falar com eles.
O cineasta Júlio Mauro presenciou momentos de correria e pânico diante dos zunidos de mísseis, carros abandonados e tropas israelenses se movimentando em Israel. Também relatou o momento de angústia no trajeto de Jerusalém até Tel Aviv. Ele conta que iria gravar um documentário bíblico, mas teve que mudar o roteiro.
— A gente mudou a nossa história.
Ao todo, seis aeronaves da FAB foram mobilizadas para a operação de resgate, que começou no domingo, um dia depois dos ataques terroristas do Hamas. O conflito já deixou cerca de 3 mil mortos.
Antes do desembarque dos brasileiros, a secretária-geral do Itamaraty, embaixadora Maria Laura da Rocha, disse que ainda há 2.500 brasileiros que serão retirados de Israel pela operação da FAB.
— Continuamos atentos, junto com o Ministério da Defesa, com o comando da Aeronáutica. Nosso objetivo é trazer todos de volta. Ainda temos cerca de 2.500 brasileiros em Israel. Temos 50 pessoas na Faixa de Gaza neste momento, e nossa preocupação é com os nossos nacionais.
Ao lado do comandante da Aeronáutica, Marcelo Damasceno, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, disse nesta madrugada que recebeu uma ligação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para falar sobre a continuidade da missão de repatriação de brasileiros.
— Esse é o primeiro de muitos voos. Algumas pessoas me perguntam quantos voos vamos realizar. Vamos trazer todos os brasileiros na região. Esse é o primeiro que vem de Tel Aviv, mas o Itamaraty já está em contato com países vizinhos para ver se deslocamos os outros brasileiros que estão no entorno — disse Múcio.
De acordo com Múcio, o plano de retirado dos cerca de 50 brasileiros de Gaza ainda está sendo estudado. A ideia é que eles possam seguir de carro até o Egito, ao sul da fronteira, e naquele país ir a um aeroporto.
— A Aeronáutica já tem montado pelo brigadeiro Damasceno um esquema especial para trazer. São grupos pequenos, que lá têm que se deslocar por terra. Nós não temos acesso para que o avião pouse. E estamos trabalhando para levá-los a um lugar seguro para que possam voltar à sua terra. O presidente Lula tem orientado para que não fique nenhum brasileiros, todos que quiserem voltar, que nós possamos apresentar as condições. O Brasil é o primeiro país a realizar essa operação.
Na terça-feira, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, destacou o plano a diplomacia.
— Os voos de repatriação estão começando agora, foi uma grande manobra para repatriar e, evidentemente, feita em conjunto com a FAB, são seis aviões militares que vão trazer os brasileiros que já se inscreveram na Embaixada do Brasil — afirmou.
Ao embarcar na aeronave em Tel Aviv, na terça-feira, brasileiros já demonstravam alegria pela saída. Entoaram o cântico que se popularizou nos estádios de futebol do país: "Eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor". Já dentro do avião, em registros postados em redes sociais, os brasileiros fizeram orações