Presidential candidate Jair Bolsonaro of the Party for Socialism and Liberation (PSL) attends the first television debate at the Bandeirantes TV studio in Sao Paulo, Brazil August 9, 2018. REUTERS/Paulo Whitaker (Paulo Whitaker/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 25 de agosto de 2018 às 12h09.
Última atualização em 25 de agosto de 2018 às 17h46.
Uma disputa pelos rumos da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) provocou divisão no comando da campanha do candidato - líder nas pesquisas de intenção de voto no cenário sem o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Nos últimos dias, as diferenças ficaram explícitas em temas como o comparecimento do candidato a debates e a escolha do vice da chapa presidencial.
Um dos grupos é formado por antigos seguidores de Bolsonaro e reúne seus filhos e assessores egressos das Forças Armadas. O outro tem políticos do PSL, legenda à qual o parlamentar se filiou em março deste ano.
O grupo formado pelos irmãos Eduardo Bolsonaro (deputado federal por São Paulo), Flávio (estadual no Rio) e Carlos (vereador na capital fluminense) tenta evitar que o presidenciável adote recomendações do presidente do PSL, Gustavo Bebianno, e do vice, Julian Lemos.
Em geral, quando os dois tomam alguma decisão, enfrentam oposição e críticas do trio, que tenta influenciar o pai. Frequentemente, Bolsonaro adota posição intermediária ou muda de rumo seguidas vezes, com decisões ou declarações contraditórias.
A divergência mais recente ocorreu na quinta-feira, quando Bebianno anunciou que Bolsonaro não participaria mais de debates nos meios de comunicação, durante agenda no interior de São Paulo. Minutos depois, o candidato disse que não faltaria aos confrontos já agendados.
Carlos, que não estava na atividade de campanha, postou mensagem numa rede social: "Bolsonaro tem ido a palestras, entrevistas, sabatinas e debates desde o início, e desde o mesmo início de sempre (sic), os mesmos bandidos inventam a narrativa de que ele não iria."
A divisão já tinha marcado o processo de escolha do candidato a vice-presidente da chapa. Foi a dupla de dirigentes partidários que conduziu as conversas com a professora Janaina Paschoal e com o senador Magno Malta (PR-ES). Após as negativas de ambos, Julian, via Instagram, começou a trabalhar o nome de Luiz Philippe de Orleans e Bragança - da família real brasileira -, apresentando-o como possível vice.
A atitude irritou o grupo dos filhos de Bolsonaro. Eles reagiram pelas redes sociais com declarações ásperas. "Determinados assuntos têm que ser resolvidos internamente e divulgados apenas quando há certeza", comentou Eduardo no Instagram de Julian no mês passado. "Mas a vontade de aparecer fala mais alto e muitos tentam ser o pai da criança. Conselho: faça as coisas por satisfação própria e será recompensado, buscar holofote só atrapalha."
Eduardo também publicou na página de Julian: "há um ditado que diz: quem avisa amigo é. Talvez vocês estejam blindados e não esteja chegando a vocês uma reclamação que eu tenho escutado e muito (...) toda vez que um desses possíveis vices não fecha, o Jair Bolsonaro recebe um desgaste. Tenham mais responsabilidades dos cargos (sic) que ocupam, sejam mais profissionais, mais responsáveis e menos preocupados com a autopromoção."
Já Carlos publicou, em seu perfil no Twitter, uma mensagem que seria direcionada à dupla: "Tem muito vagabundo que chegou ontem e acha que está enganando alguém como guias de Jair Bolsonaro", provocou.
Para ficar mais perto do pai na campanha, o vereador, no dia 14, pediu licença não remunerada de 30 dias na Câmara Municipal do Rio.
O presidenciável teria uma posição apaziguadora em relação a Bebianno porque ele é também seu advogado no processo a que o deputado responde no Supremo Tribunal Federal (STF) por injúria e incitação ao crime. Bolsonaro virou réu após declarar que "não estupraria" a deputada Maria do Rosário (PT-RS) "porque ela não merecia".
No embate interno da campanha, um dos aliados dos filhos de Bolsonaro é o fundador e presidente de honra do PSL, Luciano Bivar.
Segundo fontes ouvidas pelo jornal O Estado de S. Paulo, ele trabalha para afastar os atuais dirigentes do partido dos postos que ocupam. Integrantes da campanha defendem que a medida só seja tomada após as eleições, para não criar desgaste.
Procurado pela reportagem para comentar as divergências, Bebianno disse que há "atrito zero" na campanha e classificou a notícia de "fake news".
Segundo ele, "toda a família de quatro ou cinco pessoas, de vez em quando, tem um desentendimento aqui, outro ali". "Às vezes, um quer feijão preto, outro, marrom. É besteira, isso faz parte da convivência."
Um assessor de Flávio Bolsonaro afirmou que o parlamentar não comentaria o caso. Carlos e Eduardo Bolsonaro não responderam.
Julian Lemos disse que não daria entrevista. Luciano Bivar foi procurado por telefone e por meio da assessoria de imprensa do partido, mas não houve resposta. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.