O movimento caminha mais para um “estado de greve” do que para um embate público, como ocorreu na desastrosa greve de Salvador (Marcello Casal Jr./AGÊNCIA BRASIL)
Da Redação
Publicado em 10 de fevereiro de 2012 às 20h03.
São Paulo - Grevistas e autoridades de segurança do Rio travam, no primeiro dia de paralisação parcial de policiais e bombeiros, uma guerra de versões sobre a adesão ao movimento e os efeitos para a população. O movimento caminha mais para um “estado de greve” do que para um embate público, como ocorreu na desastrosa greve de Salvador.
A adesão à paralisação não foi capaz, felizmente, de causar grandes transtornos à cidade, o que possibilitou, por exemplo, que o estado não acionasse o reforço de 14 mil homens do Exército, oferecido pelo governo federal e acordado com o Comando Militar do Leste.
Líderes do movimento grevista e governo do estado ganharam tempo. Se não há transtornos visíveis, é possível reavaliar a extensão e os efeitos da greve. Mas a manutenção de um quadro de efetivos reduzidos nas polícias e nos bombeiros pode ser danosa. Alguns dias sem funcionamento normal nas delegacias representa alguns milhares de ocorrências simples sem registro – com desgastes de imagem para os policiais e para o estado. No caso da Polícia Militar, a duração prolongada de um cenário com efetivo reduzido, com a cidade cheia de turistas, cria uma oportunidade para crimes de rua.
Se não é possível quantificar a adesão com precisão, no caso da Polícia Militar, que trabalha basicamente em rondas e pontos fixos das cidades, há sinais importantes. Uma fotografia do interior do 18º BPM (Jacarepaguá) mostra que, durante a sexta-feira, o pátio ficou repleto de viaturas que deveriam estar policiando o bairro. O policial militar está em situação mais vulnerável. Como respondem aos códigos militares, podem ser detidos ou presos por motivos simples, o que dá aos comandantes capacidade de punir com extrema rapidez.
Além das prisões de militares, o que ocorreu de mais ofensivo foram as versões deturpadas da situação no estado. Na noite de quinta-feira, chegou a ser anunciada no palanque armado na Cinelândia a exoneração de comandantes de UPPs – algo que não ocorreu. Do lado do estado, a preocupação em negar os efeitos da greve e causar uma impressão de normalidade foi além do que é razoável. A intenção de não alarmar a população é algo compreensível. Mas o exagero dessa tendência expõe moradores e turistas a riscos desnecessários.
A Polícia Civil informou, ao meio-dia, que o “atendimento nas delegacias policiais de todo o Estado está funcionando normalmente”. A reportagem do site de VEJA foi a delegacias da zona norte e da zona sul e encontrou todas as unidades abertas, com policiais. No entanto, eles se recusam a registrar casos como roubos e furtos. Estão no local para casos graves, como violência doméstica, ameaças e agressões e homicídios.
No fim da tarde, a Secretaria de Segurança informou o volume de registros em algumas delegacias, comparando com o resultado do dia anterior à greve (9/02). Em Copacabana, o movimento na 12ª DP foi praticamente o mesmo: 27 registros no dia 9, 10 na sexta-feira. Em outras unidades, houve queda expressiva. Na 15ª DP (Gávea), foi feito apenas um registro na sexta-feira. Na mesma unidade, na véspera, foram 9 ocorrências. Na Gávea, os policiais trabalharam com cartazes da greve colados aos computadores.
Pelo lado da Polícia Civil, o compromisso dos grevistas é o de manter 30% do efetivo em atividade – algo difícil de quantificar, mas que os grevistas defendem como os serviços essenciais. A Delegacia de Homicídios, por exemplo, mantém 100% de suas atividades.
Os líderes do movimento grevista preparam, para as 10h de domingo, uma manifestação na Avenida Atlântica, em frente ao Copacabana Palace. Será a melhor oportunidade para identificar a relação da opinião pública com os policiais e bombeiros em greve.