Protesto contra cortes na Educação anunciadas pelo MEC (Nacho Doce/Reuters)
Clara Cerioni
Publicado em 15 de maio de 2019 às 06h00.
Última atualização em 15 de maio de 2019 às 12h47.
São Paulo — O governo de Jair Bolsonaro enfrenta nesta quarta-feira (15) o que deve ser a maior onda de protestos contra sua gestão desde que assumiu a presidência, em janeiro.
Durante o dia, praticamente todas as capitais do Brasil recebem manifestações críticas aos sucessivos cortes no repasse de verbas na educação, anunciados pelo Ministério da Educação.
O prédio do MEC está desde o início da manhã desta terça-feira (14) cercado por homens da Força Nacional. A solicitação da segurança extra foi feita pelo próprio MEC.
A Câmara dos Deputados aprovou também nesta terça a convocação do ministro da Educação, Abraham Weintraub, para explicar, em audiência no plenário da Casa, os cortes orçamentários na área. A expectativa é que o ministro compareça ao Congresso nesta quarta.
Desde que assumiu o posto no começo de abril, Weintraub congelou recursos tanto da educação básica quanto das universidades federais. Ao menos 2,4 bilhões de reais que estavam previstos para investimentos em programas da educação infantil ao ensino médio foram bloqueados.
O ministro também declarou que haveria um corte de 30% no orçamento de universidades federais que promovessem "balbúrdia" e tivessem desempenho acadêmico abaixo do esperado.
Ele citou a Universidade Federal da Bahia, a Universidade Federal Fluminense e Universidade de Brasília como alvos, apesar de todas estarem entre as 50 melhores da América Latina segundo o ranking Times Higher Education.
Depois, o ministro recuou e afirmou que o corte seria linear para todas as universidades federais, o que segundo reitores inviabiliza a continuidade das atividades; os repasses já passaram por cortes sucessivos nos anos anteriores.
O ministro passou então a destacar que o corte é sobre a verba de custeio e portanto mais próximo de 3%, pois grande parte das despesas universitárias são obrigatórias por lei, como os salários.
Além do corte no repasse para as federais, 3.474 bolsas para estudantes de mestrado, doutorado e pós-doutorado oferecidas pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) também foram suspensas.
Os protestos de hoje, organizados principalmente pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), são em defesa do direito à educação. A expectativa é que a mobilização atinja também pais, professores e alunos da rede particular.
"A educação é a porta de entrada da infância e da juventude para o futuro. O presidente Bolsonaro e o ministro da Educação Weintraub têm anunciado uma série de ataques à educação no Brasil. Já vinhamos e seguimos denunciando: Bolsonaro é inimigo da educação", diz um comunicado da UNE.
Desde a semana passada, quando os cortes das bolsas de pesquisa foram anunciados, a mobilização para a greve se intensificou.
Nesta terça-feira (14), os reitores das universidades estaduais Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e a Universidade Estadual Paulista (Unesp) divulgaram nota em que criticam os cortes de verba das universidades federais e convocam a comunidade acadêmica a “debater problemas da educação e ciência”.
Escolas privadas de São Paulo também vão paralisar as atividades. Os Colégios Equipe, Gracinha, Waldorf Micael, Recreio e Politeia comunicaram os pais sobre a adesão ao protesto.
No Colégio Oswald de Andrade, os alunos enviaram uma carta à direção e aos pais, informando que vão à manifestação. O colégio cancelou passeios e excursões que estavam marcados para esta quarta.
"Todos os setores da educação precisam se organizar para fazermos uma grande resposta aos sucessivos cortes de verbas em todas as áreas do conhecimento. Juntos, poderemos mostrar nossa importância", diz Flávia Calé, presidente da Associação Nacional de Pós-Graduando (ANPG).