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Gravidez, prostituição: evasão escolar de meninas traz perdas trilionárias

Com meninas fora das salas de aula e do mercado de trabalho, países como o Brasil podem perder 15 trilhões de dólares em produtividade

 (Dondi Tawatao/Getty Images)

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Clara Cerioni

Publicado em 8 de março de 2020 às 08h30.

Última atualização em 8 de março de 2020 às 11h35.

São Paulo — No Brasil, um dos principais desafios de gestores escolares é contornar a evasão escolar, que só no ano passado atingiu 1,1 milhão de meninos e meninas de 15 a 17 anos. Estimativas apontam que 47% das garotas abandonam os estudos, enquanto 53% dos garotos deixam os bancos escolares sem se formar.

Esse cenário por si só já é preocupante, mas é no mercado de trabalho que o impacto da evasão escolar se intensifica entre os gêneros.

Atualmente, há mais de 1,7 milhão de mulheres que não terminaram o ensino médio e também não trabalham, enquanto esse mesmo índice para os homens é de 1,1 milhão. A estatística faz parte de um levantamento do Instituto Unibanco, com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua.

"No Brasil, quem não conclui o ensino médio tem em torno de 50% de chance de conseguir um emprego formal. Mas no caso das mulheres que evadem existe ainda um agravante que é a discriminação no mercado de trabalho", diz Ricardo Henriques superintendente executivo do Instituto Unibanco. Ele sinaliza que, apesar de as garotas não serem maioria em abandonar os estudos, o que é positivo, elas são as mais prejudicadas quando param a escola.

De acordo com um extenso estudo do Malala Fund em parceria com o Banco Mundial, chamado "Oportunidades Perdidas: O alto custo de não educar meninas", a falta de oportunidades educacionais às meninas custa aos países entre 15 trilhões de dólares e 30 trilhões de dólares em produtividade.

Há uma série de fatores que contribuem para essa realidade, como a gravidez precoce, o casamento infantil e a prostituição. Segundo o Censo Educacional do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de 2018, afazeres domésticos e cuidados com pessoas são o empecilho de 23% das brasileiras que não terminaram os estudos. Em relação aos homens, essa taxa desaba para 0,8%.

Problemas financeiros também afetam mais as mulheres do que os homens, como mostra o gráfico abaixo.

Em função dos problemas domésticos que prejudicam, sobretudo, as meninas, surgem em diferentes partes do Brasil iniciativas direcionadas para atacar a evasão escolar feminina. A EXAME mostrou nessa semana a história da diretora de escola na periferia de Camaçari, na Bahia, que criou um "banco de absorventes" para garantir que suas alunas não faltassem às aulas no período de menstruação. 

Na mesma direção, há um projeto no Tocantins, apoiado pelo Banco Mundial, que visa aumentar a eficiência do transporte rodoviário para reduzir o risco de violência de gênero ao longo da rodovia BR-153, onde há uma alta concentração de garotas em situação de prostituição que abandonam a escola pela necessidade financeira. O programa é realizado em parceria com uma escola da região.

"Para além das questões individuais, nós identificamos que as meninas, na maioria das vezes, têm a gravidez e o ser mãe e esposa como um projeto de vida. Assim, elas se sentem protagonistas da própria história", diz Carolina da Costa, vice-presidente da graduação do Insper e especialista em educação.

Além do Brasil, países subdesenvolvidos e em desenvolvimento também enfrentam o desafio de manter garotas na escola. Na Índia, por exemplo, uma em cada cinco meninas abandona a escola depois que menstrua. O principal motivo é a falta de informação e de saneamento básico de qualidade. Essa história é retratada no documentário Absorvendo Tabu, disponível na Netflix, que venceu o Oscar de Melhor Documentário Curta-Metragem em 2019.

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Impactos futuros

Inspirar e empoderar meninas ao redor do mundo através da educação ganhou impulso após a paquistanesa Malala Yousafzai ter se tornado a mais jovem vencedora do Prêmio Nobel. Ela é hoje referência internacional no ativismo do direito à educação de meninas e mulheres.

O estudo do Malala Fund mostra que menos de dois terços das meninas em países de baixa renda concluem o ensino fundamental. A taxa é ainda menor para o ensino médio, em que apenas uma em cada três consegue terminar.

"Quando 130 milhões de meninas não conseguem se tornar engenheiras, jornalistas ou CEOs porque a educação está fora de seu alcance, nosso mundo perde trilhões de dólares que poderiam fortalecer a economia global, a saúde pública e a estabilidade", disse Malala no lançamento da pesquisa no ano passado.

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