Repórter de Brasil e Economia
Publicado em 15 de julho de 2024 às 18h58.
Última atualização em 15 de julho de 2024 às 19h29.
O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, retirou nesta segunda-feira, 15, o sigilo de uma gravação de uma reunião entre o então presidente Jair Bolsonaro (PL), o general Augusto Heleno, então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Alexandre Ramagem, então chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e advogados do senador Flávio Bolsonaro.
No encontro, realizado no Palácio do Planalto em 25 de agosto de 2020, Bolsonaro, Ramagem, Heleno e os advogados discutiram sobre a investigação que trata de um suposto caso de rachadinha contra Flávio Bolsonaro.
Veja a íntegra da transcrição da gravação aqui.
Veja a íntegra da gravação aqui.
Na reunião, é discutido a possibilidade de contato com funcionários públicos, uso agências e órgãos do governo para acessar informações que pudessem auxiliar a defesa de Flávio. Em um dos trechos do áudio, a advogada Luciana Pires fala da necessidade de buscar dados sobre pessoas envolvidas em apurações sobre o senador.
Bolsonaro sugere então falar com o então secretário da Receita, José Tostes, e o então chefe do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), empresa estatal de processamento de dados do governo. "É o caso de conversar com o chefe da Receita", afirmou Bolsonaro.
O ex-presidente também sugeriu durante a reunião que procurassem Gustavo Canuto, ex-ministro do governo, que comandava a Dataprev na época, para verificar acesso de dados da Receita. O áudio foi apreendido no computador de Ramagem e tem 1 hora e oito minutos de duração.
Em um dos trechos da reunião, Bolsonaro diz que o ex-governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, prometeu resolver a investigação de Flávio em troca de uma vaga no STF. O ex-presidente diz que a vaga seria para o juiz Flávio Itabaiana, responsável por julgar a suspeita de rachadinha cometida no gabinite de Flávio.
"O ano passado, no meio do ano, encontrei com o [Wilson] Witzel, não tive notícia [inaudível] bem pequenininho o problema. Ele falou, resolve o caso do Flávio. 'Me dá uma vaga no Supremo'", diz Bolsonaro.
A gravação foi colhida durante a investigação Operação Última Milha, que tem como objetivo desarticular uma suposta organização criminosa de espionagem ilegal de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), deputados, senadores, ex-presidenciáveis e jornalistas utilizando-se de sistemas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A estrutura também produzia dossiês enotícias falsas para ter ganhos políticos, aponta a investigação da PF. O caso ficou conhecido como "Abin Paralela".
A PF afirma que existiu um núcleo dentro da Abin para produção de provas a favor de Flávio Bolsonaro. Verificou-se que dois investigados no caso realizaram um levantamento sobre três auditores da Receita Federal vinculados ao relatório que deu origem a investigação da rachadinha contra o filho de Bolsonaro.
Em outubro de 2020, o Ministério Público do Rio denunciou à Justiça o senador Flávio Bolsonaro, o ex-assessor dele Fabrício Queiroz e mais 15 investigados pelos crimes de organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e apropriação indébita no esquema da "rachadinha", na época em que Flávio Bolsonaro era deputado estadual no Rio. O senador nega que tenha cometido os crimes. A rachadinha é uma prática em que um parlamentar recolhe parte do salário dos funcionários dos seus gabinetes.