Vista de São Paulo_Avenida Paulista (Fábio Vieira/FotoRua/Getty Images)
Ligia Tuon
Publicado em 12 de março de 2020 às 11h20.
Última atualização em 13 de março de 2020 às 16h38.
São Paulo - O infectologista David Uip, responsável pela coordenação de um comitê de contingenciamento para enfrentar a chegada do coronavírus em São Paulo, disse em uma reunião no Instituto do Coração (InCor) nesta semana que o número de casos confirmados da doença deve explodir no estado, onde são esperados até 45 mil confirmações nos próximos quatro meses só na região metropolitana da capital.
Para todo o estado, são esperados 460 mil casos de Covid-19, ou seja, 1% dos 46 milhões de habitantes, segundo projeção do Centro de Contingência para o Coronavírus de São Paulo. No cenário mais pessimista 10% dos paulistas (4,6 milhões) contrairão o vírus.
O aumento expressivo do surto na região é esperado, segundo ele, porque a transmissão não é mais feita somente por pessoas que foram viajar para países onde há foco da doença. Após esse período de "explosão" no número de casos, porém, "se resolve tudo", segundo Uip.
A informação sobre as 45 mil confirmações foi amplamente disseminada nesta quinta-feira (12) por meio de um áudio gravado por Fábio Jatene, professor titular de cirurgia torácica da USP, do HC e do Incor e, posteriormente, foi confirmada por Uip em coletiva de imprensa.
Segundo o governo do estado, porém, os cenarios serão avaliados constantemente e o planejamento de leitos e medidas poderão ser revistos.
No áudio, Jatene diz que, além do ex-secretário de Saúde, estava entre os participantes da reunião o intensivista Marcelo Amato, especializado em Unidade de Terapia Intensiva (UTIs). Amato teria dito no encontro que a evolução do coronavírus demandará de 10 mil a 11 mil leitos de UTI, número superior à oferta atual.
Amato falou também sobre o cenário na Itália que, com unidades intensivas lotadas, tem acomodado os pacientes contaminados em centros cirurgicos.
Os especiastas ressaltaram também no encontro que o Covid-19 atinge com mais força idosos, para os quais a taxa de mortalidade já chega a 18%. Entre jovens, esse número é de 0,2%. A recomendação é que pessoas do grupo de risco evitem sair de casa.
Foram compartilhadas na ocasião imagens de tomografia de pacientes chineses contaminados com o vírus e de brasileiros. Além da semelhança dos casos, notou-se que, muitas vezes, o raio-x não é suficiente para captar a evolução da doença.
O ministério da Saúde já confirmou 98 casos de contaminação pelo Covid-19 em todo o Brasil, segundo balanço divulgado pelo no fim da tarde desta sexta-feira, 13. O número de suspeitos está em 1.485.
O estado mais populoso do país, São Paulo, continua com o maior número de casos (56). O Rio de Janeiro aparece em segundo lugar com 16.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) elevou nesta semana o status do Codiv-19 de “ameaça muito grave” para o de pandemia. A doença que começou a se manifestar na China em dezembro já chegou a 116 países, deixou quase 5 mil mortes e já excedeu 130 mil contaminações pelo mundo — a maioria no país asiático, na Itália e no Irã.