Dinheiro: estima-se que a Petrobras e as empresas tenham firmado contratos com bancos públicos e privados avaliados em R$ 130 bilhões (Arquivo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 3 de março de 2015 às 09h43.
Brasília - O governo continua tentando mapear o estrago dos desdobramentos da Operação Lava Jato no sistema financeiro e, consequentemente, na economia.
A presidente Dilma Rousseff convocou, na segunda-feira, 2, os presidentes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e do Banco do Brasil, Alexandre Abreu, para uma reunião no Palácio da Alvorada.
Também esteve no encontro o novo presidente da Petrobras, Aldemir Bendine.
Nenhum desses encontros apareceu na agenda oficial da presidente, apenas com o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams.
Segundo fontes, o encontro serviu para que os executivos negociassem um plano para evitar o calote das empreiteiras investigadas pela Operação Lava Jato nos pagamentos de financiamentos que já foram liberados.
Estima-se que a Petrobras e as empresas tenham firmado contratos com bancos públicos e privados avaliados em R$ 130 bilhões.
Essa estimativa foi feita por uma equipe liderada por Bendine quando ele ainda estava à frente do Banco do Brasil.
Os presidentes dos bancos públicos e da estatal também tentam evitar suspensão de operações de longo prazo, essenciais à sobrevida financeira das empresas.
Um dos casos emblemáticos das consequências da Operação Lava Jato é a situação da Sete Brasil, empresa criada para gerenciar a contratação de sondas para exploração do pré-sal pela Petrobras.
Segundo relatos, na reunião foi discutida de que forma é possível chegar a uma solução para que seja aprovado o financiamento de US$ 5 bilhões do BNDES, da Caixa e do banco inglês UK Export Finance à companhia.
Essa operação é considerada essencial para que o Banco do Brasil possa aprovar um empréstimo-ponte de R$ 800 milhões à empresa.
Exigências
O BNDES fez exigências, segundo informou o jornal O Estado de S. Paulo, que a Sete Brasil diz não poder atender: uma fiança bancária de US$ 1,5 bilhão, uma auditoria independente para averiguar os preços das sondas contratadas e o uso integral dos recursos para pagar apenas o primeiro lote de sondas, sete no total.
Um dos presentes na reunião com a presidente Dilma informou que as negociações envolvem um provável recuo nas exigências do banco de fomento para a liberação do empréstimo.
O socorro à Sete Brasil é considerado prioritário e emblemático pelo governo pelo envolvimento que a fornecedora da Petrobras tem com outras empresas.
Assessores da presidente ressaltam que a operação é importante para evitar um agravamento ainda maior da crise da indústria naval, com impacto em toda a cadeia produtiva e na geração de empregos.
A Sete Brasil enfrenta dificuldades para conseguir recursos e saldar as dívidas de curto prazo.
A empresa, que tem como sócios os bancos Bradesco, BTG Pactual, Santander, fundos de pensão de estatais, FI-FGTS (fundo de investimento em infraestrutura gerido pela Caixa) e a própria Petrobras, tem a responsabilidade de construir 28 sondas de perfuração para a estatal.
Do lado político, o governo quer sinalizar que, apesar dos diversos problemas envolvendo empresas ligadas à estatal, o setor de petróleo e gás "não pode parar".
Dilma já tinha se reunido, em janeiro, com Coutinho e Bendine - quando o último ainda era o presidente do BB - e pedido "empenho" na solução da encruzilhada em que a Sete se envolveu.
Pela configuração do financiamento que estava sendo negociado, o BNDES ficaria responsável por liberar US$ 3 bilhões, a Caixa por US$ 1,5 bilhão e o banco inglês UK Export Finance, que financia exportações, com uma quantia inferior, em torno de US$ 200 milhões.
Toda a negociação foi suspensa, porém, depois de a Sete Brasil ter sido citada em um esquema de propina em depoimento de delação premiada de Pedro José Barusco Filho, ex-gerente de engenharia da Petrobras e ex-diretor da fornecedora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.