Líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha, durante reunião do Conselho Nacional do PMDB (Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Da Redação
Publicado em 5 de novembro de 2014 às 17h58.
Brasília - Ainda no papel de espectador dos movimentos do líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), para chegar à Presidência da Câmara dos Deputados, o governo teme se expor em uma disputa pública com o parlamentar, considerado desafeto político do Palácio do Planalto, mas deve agir fora dos bastidores a partir da próxima semana.
Cunha esteve diversas vezes em campos opostos ao governo em votações na Câmara e está construindo sua candidatura à revelia da cúpula do PMDB.
Nessas negociações já arregimentou o apoio da sua bancada, de alguns partidos aliados, como PR e Solidariedade, e até mesmo de legendas de oposição.
Uma alta fonte do governo afirmou à Reuters nesta quarta-feira que o governo está preocupado com o avanço da candidatura de Cunha, mas que por enquanto seria arriscado fazer uma estratégia de confronto.
"Não queremos falar nada sobre Eduardo Cunha agora", disse a fonte à Reuters sob condição de anonimato.
"Nós definimos uma política em que, no primeiro momento, o governo não vai agir publicamente em relação à sucessão na Câmara", explicou a fonte.
Mas a inércia do governo pode estar dando cada vez mais fôlego a Cunha, que atua com desenvoltura no Congresso e tem dito nas reuniões em que busca apoio dos seus pares que não aceitará imposições da presidente Dilma Rousseff e que a Casa terá pauta própria, caso ele chegue à Presidência.
No PT, há incomodados com a falta de uma estratégia de resistência a Cunha.
E há outros que apostam que os movimentos do peemedebista, antecipando acordos com bancadas que serão modificadas na próxima Legislatura com a chegada de novos deputados, podem dar errado.
Opiniões Consolidadas
Segundo essa fonte, entretanto, a partir da próxima semana PT e governo passarão a mexer suas peças no tabuleiro da sucessão na Câmara. A eleição para presidente da Casa só ocorrerá em fevereiro de 2015, quando os novos deputados tomam posse.
"Acho que até o dia 12 tanto o governo quanto o PT vão ter opiniões sobre isso. Opiniões mais consolidadas (sobre a sucessão)", afirmou a fonte.
"Temos que ouvir os partidos da base e tentar montar um cenário para trabalhar", acrescentou.
PMDB e PT, que a partir de 2015 contará com a maior bancada na Casa, mantinham um acordo que previa rodízio no comando da Câmara. Com base nisso, seria a vez do PT apontar um candidato com apoio dos peemedebistas.
Na bancada do PT, no entanto, cresce o movimento daqueles que acreditam que será mais fácil derrotar Cunha apoiando uma candidatura de um dos partidos aliados e não de um petista.
Essa fonte disse, entretanto, que a tendência é que haja uma candidatura do PT, mas que essa decisão ainda será tomada a partir da próxima semana.
Nesta quarta, após uma reunião do conselho político do PMDB para debater a reforma política, o presidente do PMDB da Bahia, Geddel Vieira Lima, um dos caciques do partido, disse que o governo deveria evitar o confronto com Cunha e fazer uma aliança.
"O governo deveria negociar com Cunha para fazer uma aliança e poderia ganhar com isso", disse.
Segundo ele, o presidente nacional do PMDB e vice-presidente da República, Michel Temer, não tem como impedir ou interromper a construção da candidatura de Cunha para assumir a Câmara.
Temer e Cunha têm péssimas relações, que durante a campanha eleitoral se deterioram.
O deputado capitaneou o movimento para tentar impedir a renovação da aliança do PMDB com o PT pela reeleição de Dilma.
"O Michel não tem o que fazer. Como ele vai se posicionar contra uma candidatura de um deputado do partido", disse Geddel a jornalistas.