Greve: até esta sexta, 19, 24 instituições federais ligadas ao Sindicato estão paralisadas (Beto Monteiro / Secom UnB/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 19 de abril de 2024 às 11h36.
O governo federal agendou para a tarde desta sexta-feira, 19, uma nova reunião com servidores e professores das universidades e institutos federais em greve. De acordo com o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN), a expectativa é que representantes dos Ministérios da Educação e da Gestão, junto às entidades, façam uma revisão de carreira da categoria.
Até o momento, 24 instituições federais ligadas ao Sindicato estão paralisadas e outras 11 vão interromper as atividades nos próximos dias.
Entre os principais interesses de carreira estão:
Os servidores pedem ainda a equiparação dos benefícios e auxílios com os servidores do Legislativo e do Judiciário ainda em 2024 e também a revogação de atos normativos criados durante governos anteriores que impactam a carreira dos docentes.
O Ministério da Educação informou que está "envidando todos os esforços para buscar alternativas de valorização dos servidores da educação" e que promoveu reajuste de 9% para todos os servidores no ano passado. A correção salarial seria feita somente em 2025 e 2026, com reajuste de apenas 4,5% em cada ano. A proposta foi negada pelos docentes, que mantiveram sua base de reajuste na primeira reunião com a pasta, realizada em 11 de abril.
Na quarta-feira, 17, representantes de entidades sindicais se reuniram com o secretário de Relações de Trabalho do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, José Lopez Feijóo, que insistiu no reajuste zero.
O governo reafirmou posição em defesa do arrocho salarial e reajuste apenas de penduricalhos: o Auxílio-alimentação passando de R$ 658 para R$ 1 mil; a Assistência Pré-escolar de R$ 321 para R$ 484,90 e o valor per capita da Saúde Suplementar reajustado com escalonamento em até 51%.
Em comunicado divulgado pelo MEC, foi informado que há ainda uma reunião agendada para o dia 6 de maio, que vai debater condições de trabalho dos docentes e técnicos, entre elas alteração no registro de ponto eletrônico e revogação de portaria que trata da regulamentação das atividades docentes no âmbito da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica.
Conforme divulgado pelo GLOBO, o impacto seria de pelo menos R$ 8 bilhões. Neste ano, no entanto, o MEC já teve um corte de R$ 280 milhões, sendo R$ 30 milhões na educação básica e parte do orçamento está condicionado ao crescimento das receitas. As universidades federais, mesmo com a promessa de reposição de R$ 250 milhões, têm em 2024 um orçamento menor do que 2023.
A análise da equipe econômica é de que, para 2025, é preciso uma revisão do piso para a educação ou mudança nos critérios de cálculo, mesmo não havendo na Lei das Diretrizes Orçamentárias de 2025 a sugestão dessa mudança. Atualmente, a vinculação dos gastos com educação é de 18% da receita do governo federal.
É um dos gastos que cresce acima do previsto no arcabouço fiscal, de acordo com a equipe econômica, para quem o crescimento torna inviável um equilíbrio nas contas públicas, mesmo com eventual aumento de arrecadação. Procurado, o Ministério do Planejamento informou que os recursos para a educação cresceram dois anos consecutivos.
A mexida no piso é um movimento que tem sido ventilado pelas pastas da área econômica desde o começo do governo Lula. Mas para fazer essas mudanças, é preciso aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PECs). Analistas apontam que um eventual fim do piso levaria a uma redução de investimentos na área.
"A educação básica ainda teria a garantia de financiamento através do Fundeb. Mas o ensino superior e os recursos que não entram como “manutenção e desenvolvimento do ensino”, como a merenda, ficariam vulneráveis a vontades políticas", afirma Tássia Cruz, economista da educação e professora da FGV.
Para Murilo Viana, consultor em finanças públicas, o volume de emendas parlamentares, que também impactam nos gastos do governo, deveria passar por ajustes, antes do piso da educação. Mas o ele reconhece que isso é politicamente inviável.
"Se forem mantidas as vinculações (como seguro-desemprego, abono salarial e os piso de educação e saúde) com o agigantamento do Congresso, a conta não fecha", avisa o consultor.
Possíveis alterações no piso ainda não têm sido tratadas internamente no MEC. Em nota, o ministério diz que “mantém diálogo dentro do governo para eventual ampliação de serviços importantes”.