Segurança nas Olimpíadas no Rio de Janeiro: intenção é mudar a "percepção de desgoverno" e de "incapacidade para prover segurança", afirmou o ministro da Defesa (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 22 de julho de 2016 às 19h04.
Rio - Na tentativa de evitar o que considerava uma "situação vexatória" na Olimpíada do Rio, o governo federal adotou a estratégia de divulgar exercícios que simulam combate a ações terroristas e dar entrevistas sobre investigações de setores de inteligência, criticadas por especialistas em terrorismo.
A intenção é mudar a "percepção de desgoverno" e de "incapacidade para prover segurança", afirmou o ministro da Defesa, Raul Jungmann.
Segundo ele, contribuíram para essa percepção desde a sequência de atos terroristas no mundo, como os atentados de Nice, Orlando e Turquia, à declaração do prefeito Eduardo Paes à rede norte-americana CNN de que o trabalho de segurança no Rio é "terrível".
"Se não fizéssemos isso, o que iria ficar? A percepção de que havia um desgoverno? Uma incapacidade de prover a segurança? Isso seria o pior dos mundos. Não só para o exterior, como internamente. Houve uma sequência de fatos: o assassinato da médica (Gisele Palhares) na Linha Vermelha, o furto dos caminhões da tevê alemã e depois a frase do prefeito Eduardo Paes para um órgão de imprensa internacional de que a segurança do Rio de Janeiro era terrível. Era preciso fazer alguma coisa. E nós iniciamos uma sequência de passar visibilidade aos testes, exercícios, para mudar o clima da percepção social. Sem isso, ficaríamos numa situação vexatória e difícil de reverter", afirmou.
O ministro participou na manhã desta sexta-feira de uma reunião no Comando Militar do Leste, no Centro do Rio, com 65 oficiais das Forças Armadas para avaliar os exercícios simulados ao longo da semana, entre eles o desembarque de tropas da Marinha na Praia do Flamengo e o resgate de reféns em uma barca da travessia Rio-Niterói.
Ele afirmou que não há ameaça consistente de ações terroristas no Rio e disse que a devolução de ingressos por espectadores preocupados também "aconteceu em alguma medida" nos jogos de Londres e Pequim. Para Jungmann, trata-se de "estresse pré-grandes eventos".
"Essa é a Olimpíada da superação. É um momento de crise nacional (com o afastamento da presidente Dilma Rousseff), de dificuldade financeira aqui no Rio de Janeiro. Com a visão de dentro, posso lhe assegurar que as medidas que deveriam ser tomadas em Pequim, Londres, estão sendo tomadas aqui".
Jungmann voltou a criticar o que classificou de "afastamento" do governo anterior das grandes agências de inteligência.
"Esse afastamento se deu por postura do governo anterior de não privilegiar a inteligência. Havia certo preconceito, acho eu. Ou uma não consideração da importância estratégica que tem a inteligência. E veja que ela tem: foi a partir dos dados de informação da inteligência que foi possível atuar preventivamente prendendo esse pessoal no momento em que ele cruza a linha vermelha da troca de informação, do diálogo, para o terreno do ato preparatório", afirmou, referindo-se aos 10 suspeitos de estarem preparando ato terrorista no Rio, presos na última quinta-feira.
O ministro lembrou que a Olimpíada deu projeção ao Brasil, a ponto de o País sofrer com os desdobramentos de um "conflito no Oriente Médio".
"Resta tirar lição importante desses fatos: o Brasil não é uma ilha, é um país com projeção global e precisa ter sistemas de dissuasão diplomáticos e de inteligência cada vez mais compatíveis com essa projeção".
A prisão dos 10 suspeitos de programarem atos terroristas não alteraram o esquema de segurança para o Rio, mas o planejamento já vinha sendo modificado.
O número de militares na cidade havia passado de 18 mil para 22 mil.
No País, de 38 mil para 44 mil. "Quando você soma os nossos 22 mil aqui, com Força Nacional de Segurança, Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, polícias Civil e Militar chegamos a 47 mil agentes. O policiamento diário no Rio é de 7 a 8 mil. Nós temos sete vezes mais efetivo. Numa conta de padaria, temos sete vezes mais segurança no Rio de Janeiro", afirmou Jungmann.