Advogada representante dos médicos que trabalharam na Prevent Senior, Bruna Morato, chega à CPI da Covid (Roque de Sá/Agência Senado)
Alessandra Azevedo
Publicado em 28 de setembro de 2021 às 12h08.
Última atualização em 28 de setembro de 2021 às 14h56.
A advogada de 12 médicos que denunciaram a Prevent Senior, Bruna Morato, disse à CPI da Covid nesta terça-feira, 28, que a operadora de plano de saúde prescrevia medicamentos sem eficácia para covid-19 como parte de um acordo feito com o governo federal para validar a tese de que a doença era tratável e que a economia não precisava parar.
Ao propagar a ideia falsa de que havia remédio para a covid-19, o objetivo era dar “esperança” para que as pessoas saíssem de casa, já que o lockdown prejudicaria a economia, disse Morato.
“O que falaram era de alinhamento ideológico. A economia não podia parar, e o que eles tinham que fazer era conceder esperança para que as pessoas fossem à rua. E a esperança tinha um nome: hidroxicloroquina.”
"A informação que me foi passada: havia um interesse inicial, vinculado ao governo federal, de que o Brasil não podia parar. Estavam preocupados com um lockdown", disse Morato.
"Pediram uma colaboração da Prevent na produção de informações que convergissem com essa teoria, que é possível você utilizar um determinado tratamento como proteção", continuou a advogada.
Segundo Morato, ao buscar proximidade com o Ministério da Saúde, em 2020, a diretoria da Prevent foi informada que, no governo federal, havia médicos fazendo assessoria “totalmente alinhados com os interesses do Ministério da Economia” — o chamado “gabinete paralelo” do presidente Jair Bolsonaro.
Morato afirmou que tem sofrido ameaças desde que o dossiê veio à tona. "Sim, sofri ameaça. Não posso afirmar que as ameaças que recebi foram por conta da Prevent, de responsabilidade da Prevent, porque ninguém se identificou ou foi responsabilizado", ponderou.
Segundo o dossiê elaborado pelos médicos, a Prevent Senior teria indicado sistematicamente o uso de medicamentos sem eficácia para a covid-19, como hidroxicloroquina e azitromicina, e ocultado mortes de pacientes em um estudo para testar os remédios. O plano de saúde teria feito experimentos com pacientes sem a autorização das famílias.
Ainda de acordo com o dossiê, o protocolo de uso do “kit covid” teria sido conversado com integrantes do gabinete paralelo do governo Jair Bolsonaro, como forma de comprovar a tese de que os medicamentos eram eficientes contra a covid-19.
À CPI, o diretor da empresa, Pedro Benedito Batista Júnior, disse que os médicos não eram obrigados a prescrever o “kit covid” e negou ter ocultado óbitos. Mas confirmou que a rede alterava o diagnóstico de covid em pacientes depois de duas ou três semanas de internação, a depender do caso.