Mourão: entrevista ocorre em um momento que o Brasil é pressionado por países europeus por ações mais efetivas na preservação do meio ambiente (Romério Cunha/VPR/Flickr)
Agência O Globo
Publicado em 8 de outubro de 2020 às 11h32.
Última atualização em 8 de outubro de 2020 às 11h32.
O vice-presidente Hamilton Mourão, presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, afirmou a imprensa alemã que o governo brasileiro não é conivente com ilegalidades na Amazônia e disse que grande parte dos incêndios que ocorrem hoje são reflexo de desmatamentos feitos há muitos anos.
Em entrevista à "Deutsche Welle", o vice-presidente disse que o governo não nega que os incêndios deste ano estão piores que os do ano passado, mas afirmou que "cerca de 70% desses incêndios estão ocorrendo em áreas que já foram desmatadas há muitos, muitos, muitos anos e que são ocupadas por fazendeiros".
"Apenas um terço deles está acontecendo em áreas em que eles não deveriam acontecer. E nós estamos lutando contra eles. Desde o início da Operação Brasil Verde 2, que lançamos no mês de maio, paramos cerca de 6 mil focos de incêndio. Portanto, temos feito nosso trabalho", disse.
A entrevista ocorre em um momento que o Brasil é pressionado por países europeus por ações mais efetivas na preservação do meio ambiente. Nesta quarta-feira o Parlamento Europeu aprovou relatório que diz que o acordo de livre comércio União Europeia-Mercosul não pode ser ratificado pelo bloco "como está" e ressalta a importância do compromisso dos países com a "implementação do Acordo de Paris" para sua aprovação.
Uma emenda ao relatório que citava "preocupação com a política ambiental de Jair Bolsonaro" chegou a ser aprovada, mas a menção ao presidente brasileiro foi retirada no texto final.
Em setembro, um grupo de oito países europeus fez um apelo para que o Brasil tome "ações reais" para combater o crescente desmatamento da Floresta Amazônica. A Parceria das Declarações de Amsterdã, atualmente liderada pela Alemanha, enviou carta aberta ao vice-presidente manifestando preocupação sobre o que avalia ser o recuo do Brasil em relação ao sólido histórico de proteção ambiental do país.
Nesse contexto, o governo brasileiro planeja uma viagem com embaixadores europeus e de outros continentes para a Amazônia, no começo do mês que vem, mas parte dos países convidados ainda não confirmou presença.
Na entrevista à DW, o presidente do Conselho da Amazônia disse que o governo não é "conivente com ilegalidades na Amazônia" e que os agentes ambientais têm "liberdade para fazer seu trabalho", na
aplicação de multas. O vice-presidente também disse que é preciso colocar mais recursos no combate às ilegalidades na região.
"O que está claro é que o desmatamento vem aumentando desde 2012, tendo acelerado no ano passado. Desde a segunda quinzena de junho, o desmatamento vem diminuindo. Então o trabalho está começando a render agora e claro, ainda temos o problema dos incêndios. Estamos na estação seca. O período de seca de ano a ano começa a ficar cada vez maior e, claro, temos que ter mais recursos, temos que colocar mais recursos no combate às ilegalidades que acontecem na Amazônia", disse.
Mourão também afirmou que, apesar dos 5 milhões de infectados e das 148 mil mortes provocadas pela Covid-19, o Brasil "lidou muito bem com a crise pandêmica".
"Lamentamos por termos perdido as vidas de quase 150 mil brasileiros, mas já curamos mais de 4 milhões de pessoas aqui no Brasil. Portanto, acho que apesar desse número de casos e de mortes, lidamos muito bem com essa crise pandêmica", disse à DW.
O vice-presidente afirmou ainda que Carlos Alberto Brilhante Ustra, militar condenado por tortura durante a ditadura militar e elogiado pelo presidente Jair Bolsonaro, era um "homem de honra e um homem que respeitava os direitos humanos de seus subordinados".
"Em primeiro lugar, não estou alinhado com a tortura, e, claro, muitas pessoas ainda estão vivas daquela época, e todas querem colocar as coisas da maneira que viram. É por isso que eu disse antes que temos que esperar que todos esses atores desapareçam para que a história faça sua parte. E, claro, o que realmente aconteceu durante esse período ... esse período passou", disse.