Rodrigo Maia: disse que o país corre o risco de ver a volta da hiperinflação em um curto espaço de tempo (Ueslei Marcelino/Reuters)
Reuters
Publicado em 9 de março de 2018 às 14h28.
Última atualização em 9 de março de 2018 às 16h13.
Rio de Janeiro - O presidente da Câmara dos Deputados e pré-candidato do DEM à Presidência, Rodrigo Maia (RJ), disse nesta sexta-feira que o governo federal está falido e que, se nada for feito do lado da redução de despesas, o país corre o risco de ver a volta da hiperinflação em um curto espaço de tempo.
Em sabatina após almoço promovido por uma revista no Rio de Janeiro, Maia também mirou na equipe econômica do presidente Michel Temer, afirmando que "volta e meia" o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pensa em elevar impostos, mas que uma alta de tributos não será aprovada pelo Congresso Nacional.
"Na Câmara não passará", sentenciou ele ao afirmou que não há apoio para uma medida tão impopular.
Meirelles também é apontado como possível postulante ao Palácio do Planalto na eleição de outubro, possivelmente pelo MDB, partido de Temer.
O presidente da Câmara também atacou o PSDB ao afirmar que o partido tem muita rejeição, de acordo com as pesquisas de opinião, e que o partido teria muitas dificuldades em eleger o seu pré-candidato, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, em eventual segundo turno.
Maia declarou que decidiu se lançar candidato à Presidência por entender que pode representar um novo de equilíbrio, diálogo e sensatez no atual cenário político. Mesmo com 1 por cento de intenção de votos de acordo com levantamento do Datafolha do final de janeiro, ele garantiu que vai levar sua candidatura até o final e que não entrou na disputa apenas para barganhar.
"Vou até o final. Se eu quisesse negociar, utilizar a pré-candidatura, seria mais fácil agora do que lá na frente", disse ele a jornalistas. "Não nasci deputado, não nasci preso à cadeira de presidente da Câmara e o que eu entendo é que falta uma candidatura que possa vencer o segundo turno num ambiente de equilibro, diálogo e de enfrentar temas polêmicos", disse ele, que garantiu que DEM e PSDB vão estar "certamente" juntos no segundo turno da disputa presidencial.
Maia frisou que não está usando a estrutura do Estado para fazer campanha e que, apesar das críticas, não pretende se afastar do cargo por conta da pré-candidatura.
"Todos os 513 deputados são candidatos e qualquer discurso ali está beneficiando disso e não há na regra necessidade nenhuma de um candidato se afastar da Casa por que é candidato", argumentou.
Entre os temas polêmicos que Maia pretende tratar, caso seja eleito, está o fim da estabilidade de servidores públicos. Segundo ele, é preciso abrir um debate para se tentar derrubar no Supremo Tribunal Federal (STF) o chamado regime jurídico único, que garante a estabilidade.
"Para que ter regime jurídico único? Só para estabilidade?... O que a gente precisa saber é o que é carreira de Estado e acabar com o regime jurídico único para ter flexibilidade quando uma função deixa de ser necessária", analisou.
Em um discurso amplo e diversificado, Maia criticou a concentração no setor de bancos do Brasil e afirmou que ela não é benéfica à sociedade. Ele frisou que um dos motivos para o elevado spread bancário está nessa pouca diversidade de bancos no país.
"O setor está muito concentrado...inclusive, a concentração do setor privado não permite que o Brasil abra mão dos bancos públicos e exercem um importante papel e estão em todo país", afirmou.
"Gostaria que a competitividade aqui fosse igual a dos EUA… temos que estimular que outros bancos e novos bancos funcionem no Brasil. Tem que ver como estimular a maior competitividade", adicionou ele, ao frisar que a Caixa Econômica Federal precisa se concentrar um novo nicho de mercado e se voltar mais para o financiamento de saneamento, habitação e de outros setores.
O presidente da Câmara mostrou ainda preocupação com a aproximação entre a fabricante brasileira de aviões Embraer e a gigante norte-americana Boeing. As conversas entre as empresas estão avançadas para a criação de uma nova empresa no setor, mas o governo, que é detentor de uma golden share na Embraer, tem de ser consultado.
Segundo Maia, o acordo precisa ser bem costurado e olhar para a preservação dos interesses nacionais em primeiro lugar.
"Não sou contra o acordo, mas acho que precisa ser muito bem feito para que a nossa tecnologia que foi criada no Brasil e deu produtividade e competitividade não seja sugada e esvazie a Embraer", avaliou ele
Maia cobrou ainda do governo Temer uma posição enérgica junto aos Estados Unidos, que decidiram sobretaxar o aço e o alumínio importados em nome da segurança nacional. De acordo co o presidente da Câmara, a sobretaxa criará enormes prejuízos ao setor siderúrgico nacional, que já vinha enfrentando dificuldades.
"Acho que o governo tem que ter uma reação dura e enérgica", defendeu.