Manifestações no Rio de Janeiro: a presidente Dilma Rousseff se reuniu nesta sexta com vários membros de seu gabinete, incluindo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. (REUTERS/Sergio Moraes)
Da Redação
Publicado em 21 de junho de 2013 às 15h42.
Rio de Janeiro - O governo brasileiro, perplexo diante dos protestos históricos, marcados por episódios de violência, em plena Copa das Confederações, tentava entender, nesta sexta-feira, a fúria e o descontentamento da população, e como sair do atoleiro.
A um ano da Copa do Mundo, mais de um milhão de manifestantes saíram às ruas de 80 cidades em todo o país na quinta à noite para protestar contra os custos da Copa e exigir melhorias nos serviços públicos.
No intuito de eliminar rumores, a Fifa afirmou que não havia discutido com as autoridades nem considerou até o momento a suspensão da Copa das Confederações, depois que dois micro-ônibus da organização foram atacados a pedradas por manifestantes em Salvador, Bahia.
"Estamos monitorando a situação com as autoridades", afirmou Pekka Odriozola, chefe de comunicação da organização.
Rio de Janeiro, Brasília e outras cidades viveram momentos de caos, com atos de violência, saques, vandalismo e confrontos de manifestantes com a polícia, nos maiores protestos de rua em mais de duas décadas.
Os protestos deixaram dois mortos - um manifestante morreu atropelado em Ribeirão Preto e uma gari morreu de ataque cardíaco em Belém do Pará depois da explosão de uma bomba - e mais de cem ficaram feridos.
Fartos da corrupção, da má qualidade do transporte, da educação e da saúde, dos preços em alta e dos custos bilionários das obras para a Copa do Mundo de 2014, quando o país enfrenta vários desafios em várias frentes, os brasileiros surpreenderam seu próprio governo e o mundo com a virulência e o tamanho de seus protestos.
Meio do caminho
A presidente Dilma Rousseff se reuniu nesta sexta com vários membros de seu gabinete, incluindo o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Os ministros devem avaliar a maior crise política desde 2005, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi poupado do grande escândalo de compra e venda de votos de parlamentares do Mensalão.
"Temos que entender que estas manifestações estão exigindo mudanças. Representam uma insatisfação popular", admitiu nesta sexta o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, em declarações à imprensa.
"Essa grande camada de brasileiros que emergiu da exclusão e passou a consumir quer novos direitos, e é bom que seja assim. AS pessoas não se contentam com o meio do caminho", acrescentou.
Brasil, a sétima maior economia do mundo e conhecido nos últimos anos por seus programas sociais que fizeram 40 milhões de pessoas passarem à classe média na última década, atravessa um período de crescimento econômico magro e de inflação em alta.
As manifestações começaram há pouco mais de uma semana para exigir a revogação do aumento dos preços dos transportes, e posteriormente outras reivindicações e denúncias foram se somando. O cancelamento do aumento dos preços das passagens em muitas cidades, incluindo São Paulo e Rio, não conseguiu parar os protestos.
Os manifestantes, em sua maioria jovens, de classe média e apolíticos, pedem menos dinheiro para os estádios e mais investimentos em serviços básicos.
Autoridades assustadas
A tentativa de invasão do Ministério das Relações Exteriores, em Brasília, por um grupo de manifestantes radicais na quinta-feira deixou as autoridades assustadas, de acordo com o jornal O Estado de São Paulo.
A polícia conseguiu conter os manifestantes, mas janelas foram quebradas e objetos incendiários foram jogados dentro do edifício.
Foi no Rio de Janeiro que ocorreu o maior e mais violento protesto, com cerca de 300 mil manifestantes que pretendiam marchar até a prefeitura.
Os violentos confrontos com a polícia nas proximidades da sede de governo e em outras áreas do centro da cidade, com saques, fogueiras e atos de vandalismo, deixaram 62 feridos.
"Não podemos admitir que atos de vandalismo perturbem manifestações pacíficas", afirmou o prefeito do Rio, Eduardo Paes.
Em Brasília, onde 30 mil pessoas protestaram, pelo menos 35 pessoas ficaram feridas, três delas em estado grave.
Em São Paulo, membros do PT decidiram acompanhar a manifestação com bandeiras, assim como outros partidos e sindicatos, apesar da natureza apolítica da revolta.
Os militantes do partido foram recebidos com hostilidade por muitos dos 110 mil manifestantes, que proferiam insultos contra eles.
Uma bandeira do PT foi queimada em meio a gritos e aplausos.
A polícia interveio para impedir que os dois grupos se enfrentassem. Um manifestante ficou com o rosto ensanguentado.