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Governo diz que pode faltar oxigênio em pequenos municípios

O diretor de logística do Ministério da Saúde classificou como perigoso o cenário de abastecimento de oxigênio medicinal no país

Oxigênio: “O cenário atual é perigoso, podendo levar ao desabastecimento de oxigênio medicinal na ponta" (Bruno Kelly/Reuters)

Oxigênio: “O cenário atual é perigoso, podendo levar ao desabastecimento de oxigênio medicinal na ponta" (Bruno Kelly/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 18 de março de 2021 às 16h36.

Última atualização em 18 de março de 2021 às 16h54.

O diretor de Logística do Ministério da Saúde, general Ridauto Fernandes, classificou nesta quinta-feira, 18, como perigoso o cenário de abastecimento de oxigênio medicinal no país.

Em audiência pública na Comissão Temporária da Covid-19 do Senado, ele pediu apoio dos parlamentares para que o Congresso e o Ministério da Saúde se empenhem em uma mudança legislativa com urgência, para que as grandes empresas não se recusem a abastecer carretas de envasadores que atendem principalmente cidades do interior.

“O cenário atual é perigoso, podendo levar ao desabastecimento de oxigênio medicinal na ponta, especialmente em pequenos hospitais e municípios do interior”, alertou acrescentando que a expectativa da falta perigosa desse produto na ponta da linha, nos pequenos hospitais, é de poucos dias.

“Temos carretas de produtores da Amazônia que estão esperando numa planta [fábrica de oxigênio] do interior do Maranhão. Já está com a carreta parada lá há dias, e não é abastecida. Temos envasadores do Paraná que chegam às plantas também e não conseguem abastecer. Na hora que chega para envasar os cilindros, há muito mais cilindros para envasar, e ele não dá conta de envasar o que precisava. Aí o pequeno hospital fica com problemas”, explicou o general.

Para Fernandes, a solução é criar um dispositivo em lei que possibilite que as grandes produtoras recebam as carretas, e não as recusem.

“Temos de criar uma ferramenta para que a indústria não possa recusar a carreta que chega para ser enchida. Embora seja um concorrente, alguém que vai receber aquele oxigênio e revendê-lo. No momento, não temos estrutura, o grande não consegue chegar à ponta da linha. Então dependemos das carretas que estão nas mãos dos pequenos, dos envasadores, para poder fazer chegar à ponta da linha. Se não chegar à ponta, nas Unidades de Pronto Atendimento e pequenos hospitais, teremos mais mortes”, avaliou.

Planejamento

Representantes de empresas de produção e distribuição do gás do país também participaram da audiência e responsabilizaram a falta de planejamento das Secretarias de Saúde quanto à demanda do produto pela fabricação do material menor que a necessidade.

Aos senadores da Comissão Temporária da Covid-19, os empresários também ressaltaram a dificuldade em transportar o insumo e pediram que motoristas e técnicos entrem no grupo prioritário na fila de vacinação.

"Como fornecedor não temos a capacidade de prever a demanda, temos a condição de conhecê-la, prepará-la, mas os dados epidemiológicos são obtidos pelas secretarias dos estados", justificou o diretor executivo de negócios da produtora White Martins, Paulo César Gomes.

Já o representante da Air Liquid Brasil, Rafael Montagner, disse que a demanda dos hospitais aumentou dez vezes acima do que estava previsto. "A dificuldade é a falta de previsibilidade para produção para que a empresa possa se organizar", reforçou acrescentando que outro problema da falta de planejamento é a falta estrutura de armazenamento do gás pelas unidades de saúde. "É um desafio de transporte e estocagem dos hospitais”.

Para otimizar o abastecimento, o presidente da Associação Brasileira de Indústria Química (Abiquim), Ciro Marino, cobrou que o Ministério da Saúde centralize essa logística, para que o setor produtivo se concentre apenas na produção. Para a Abiquim, as empresas do ramo têm sido sobrecarregadas burocraticamente pelo assédio de secretarias, prefeituras, agências e órgãos em diversos níveis da administração pública, diante do quadro de incertezas.

“Temos pedido com veemência que o governo federal assuma o controle e a centralização dessas informações perante autarquias, municípios, entidades e tudo, de forma que as empresas possam se concentrar em seus negócios novamente. Que é produzir, organizar, expandir capacidades, de forma que o governo federal possa alimentar essas entidades e municípios com informações adequadas”,  disse Marino.

Sobre esse assunto, a diretora da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Meiruze Freitas, adiantou que mecanismos de centralização da gestão da logística relacionada ao oxigênio medicinal devem estar prontos em breve.

Transporte

Outro problema levantado na audiência foi a questão do transporte desse oxigênio. Para o representante do departamento de logística do Ministério da Saúde, Ridauto Lúcio Fernandes,  não é uma operação simples. É preciso manter uma temperatura específica dos caminhões, processo "bastante trabalhoso". "Se não tiver nessa temperatura, ele pode imbuir e se perder", explicou.

Outra dificuldade apontada durante a audiência pública para abastecer os hospitais com oxigênio, foi a falta de mão de obra qualificada para o serviço. Para que o oxigênio chegue ao hospital é preciso treinar assistentes técnicos e motoristas que estão na linha de frente entregando o produto. “Os motoristas de nossos caminhões não são somente motoristas, mas também são operadores técnicos. Não é mão de obra fácil para ser contratada e treinada”, observou o representante da White Martins.

Novas audiências

O presidente do colegiado, senador Confúcio Moura (MDB-RO), informou que o ministro da Economia, Paulo Guedes, falará na Comissão no dia 25 sobre as ações do governo no combate à pandemia.

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