Marconi Perillo: governador apresentou uma proposta para regulamentar a promoção, sem concurso público, de 142 profissionais para o cargo de procurador de autarquia (Agência Brasil/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 11 de dezembro de 2017 às 11h13.
São Paulo - Um projeto de lei que pode custar R$ 80 milhões por ano aos cofres de Goiás e é pivô de uma batalha judicial no Supremo Tribunal Federal desde 2015 ganhou novo capítulo semana passada.
O governo de Marconi Perillo (PSDB) apresentou ao Legislativo do Estado proposta para regulamentar a promoção, sem concurso público, de 142 advogados, gestores jurídicos e procuradores jurídicos ao cargo de procurador de autarquia.
Considerando o salário atual dos servidores, alguns chegariam a triplicar seus vencimentos caso a proposta que regulamenta a emenda que alterou a Constituição estadual em 2014 seja aprovada na Assembleia Legislativa de Goiás.
De acordo com o projeto de Perillo, o subsídio inicial do procurador autárquico será fixado em R$ 14,1 mil. Em média, gestores, procuradores jurídicos e advogados ganham R$ 8 mil.
Na prática, um procurador de autarquia é equivalente a um procurador de Estado, mas voltado exclusivamente para a defesa de assuntos relacionados a autarquias estaduais. Esse cargo tem sido extinto em diversos Estados, como São Paulo, onde os procuradores de Estado acumulam as duas funções.
Em Goiás, a proposta de regulamentação da emenda em debate no Legislativo pode mudar os vencimentos até de quem não está na ativa.
Isso porque ela prevê que aos aposentados com direito a paridade é "facultado optar pelo sistema remuneratório instituído pela lei, hipótese em que terão os seus estipêndios de aposentadoria e pensão parametrizados de acordo com o correspondente salário ou subsídio fixado para seus pares em atividade".
Essa paridade proporcionaria a uma parcela dos inativos - os que recebem R$ 4 mil - a chance de triplicar o valor de suas aposentadorias.
Nos cálculos do vice-presidente regional da Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, Tomaz Aquino, a regulamentação do projeto terá impacto aproximado de R$ 80 milhões por ano.
"O processo é o pernicioso, não só porque permite a transposição imediata, mas porque mantém a janela de enquadramento eternamente aberta. É um trem da alegria permanente", afirma Aquino.
A janela a que ele se refere diz respeito ao número de funcionários que poderiam ser promovidos.
Hoje, segundo o governo de Goiás, o efetivo de advogados, gestores jurídicos e procuradores jurídicos é de 142, mas o número criado de procurados autárquicos chega a 160.
A Associação Nacional dos Procuradores dos Estados e do Distrito Federal entrou com Ação Direta de Inconstitucionalidade no STF para questionar a emenda de 2014, pedindo a suspensão da tramitação do projeto que a regulamenta até que a questão seja julgada pela Corte.
O caso está sob relatoria do ministro Luís Roberto Barroso. Na contramão, entidades de classe, como a Associação Goiana dos Advogados Públicos, entraram com pedidos pela improcedência da ADI.
O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot já deu parecer pela inconstitucionalidade. "A emenda 50/2014, a pretexto de reunir em única carreira servidores e empregados públicos que exerciam atribuições idênticas ou assemelhadas a representação judicial e consultoria jurídicas de autarquias estaduais, operou verdadeira transformação de cargos, com burla à cláusula constitucional do concurso público", afirmou.
Segundo Perillo afirmou em texto enviado à Assembleia, o projeto "não implica, necessariamente, em aumento de despesa de tamanha envergadura".
Segundo o tucano, há previsão expressa no projeto de lei de que 100% das causas ganhas pelo Estado tenham seus valores revertidos ao Tesouro pelo prazo de três anos consecutivos, a partir de 2017, como uma espécie de compensação pelos novos gastos a serem assumidos pelo Estado.
As atribuições do cargo de procurador autárquico foram inseridas como contrabando (nome dado aos tema incorporados de última hora em proposta que tratam de outro assunto) a uma emenda constitucional que, inicialmente, tratava da desvinculação de receitas de órgãos, entidades e fundos do Estado.
Em meio à pauta orçamentária, os deputados também aprovaram artigo que extingue os cargos de procurador e de gestor jurídico do Estado e os assegura "tratamento remuneratório isonômico com os procuradores autárquicos".
Desde que foi aprovada, no entanto, a emenda estava pendente de regulamentação e por isso ainda não foi aplicada.
O "contrabando" foi incluído pelo então líder do governo na Assembleia, Fábio Sousa (PSDB), hoje deputado federal.
"Como os gestores, procuradores jurídicos e advogados já desempenhavam a mesma função dos procuradores autárquicos, foi um reconhecimento a essa classe. Não é um trem de alegria, porque eles já são concursados e, com o projeto, demos a segurança jurídica para que desempenhem suas funções." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.