Ex-assessor de Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, foi preso no interior de São Paulo (Nelson Almeida/AFP)
Estadão Conteúdo
Publicado em 19 de junho de 2020 às 09h12.
Última atualização em 19 de junho de 2020 às 15h15.
A prisão de Fabrício Queiroz ativa nova "bomba-relógio" no governo de Jair Bolsonaro, com potencial de ser ainda mais perigosa do que as outras investigações envolvendo o presidente e sua família, avaliam cientistas políticos ouvidos pelo Estadão. Para eles, o governo fica ainda mais fragilizado e com nova pendência na Justiça, ao lado de ações como o inquérito das Fake News, a cassação da chapa e a investigação sobre a interferência na Polícia Federal.
"Tudo vai depender dos próximos dias, do que o Queiroz depor. E se ele decide falar de maneira sincera? Do ponto de vista da periculosidade, ele é muito mais perigoso, por exemplo, do que o inquérito das Fake News", avalia Marco Aurélio Nogueira, cientista político e professor da Unesp. Para ele, a prisão mostra que as acusações contra a família de Bolsonaro estão vindo de "vários lados", fechando o cerco ao presidente.
Apesar da investigação parecer mais nociva para Flávio do que para o presidente, ela certamente trará consequências ao governo diz o cientista político e professor da FGV de São Paulo Marco Antônio Carvalho Teixeira. "Obviamente o cerco inicial se dará em cima do filho do presidente, mas com certeza não ficará restrito a isso e deverá chegar ao núcleo central do governo, num momento em que o mandatário está acuado por todos os lados e sua gestão vive um dos momentos de maior fragilidade", destaca.
Outro fator é a imprevisibilidade sobre a reação de Queiroz diante de sua prisão, e possivelmente de sua filha e esposa. "Não sabemos a reação dele diante da prisão. Fala-se em delação premiada. E Queiroz acompanha a família Bolsonaro há anos, não é de hoje que conhece o presidente", diz a cientista política e professora da PUC-SP, Vera Chaia.
Advogado ter hospedado Queiroz não configura crime, avaliam especialistas
Especialistas em Direito Penal ouvidos pelo Estadão dizem que, até o momento, é improvável que o advogado Frederick Wassef responda na Justiça por hospedar o ex-assessor Fabrício Queiroz em Atibaia. A possibilidade de imputação de obstrução de Justiça depende de provas contra o advogado.
Juristas ressaltaram que Queiroz não estava foragido e que, apesar da situação "muito estranha", o fato de Wassef tê-lo abrigado não é ilegal. Essa é a opinião do criminalista Fernando Castelo Branco, do Instituto de Direito Público.
Já o advogado Gustavo Badaró, professor da Universidade de São Paulo (USP), vê "mais dano político do que jurídico" na prisão - embora não descarte possíveis acusações contra Wassef. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.