Darcton Policarpo Damião (Miguel Ângelo/Portal da Indústria/Divulgação)
João Pedro Caleiro
Publicado em 5 de agosto de 2019 às 18h40.
Última atualização em 6 de agosto de 2019 às 14h28.
São Paulo - O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) divulgou nesta segunda-feira (05) o nome do novo presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), um dos responsáveis pelo monitoramento do desmatamento no Brasil.
Darcton Policarpo Damião, que é da Aeronáutica e tem doutorado em desenvolvimento sustentável pela Universidade de Brasília, será o substituto interino de Ricardo Galvão, exonerado após embates públicos com Jair Bolsonaro.
No dia 19, o presidente afirmou, sem apresentar evidências, que os dados do instituto mostrando alta do desmatamento na Amazônia eram mentirosos e sugeriu que Galvão poderia estar "a serviço de alguma ONG".
O sistema de monitoramento Deter apontou aumento de 88% do desmatamento na Amazônia em junho em relação ao mesmo mês do ano anterior e de 40% nos 12 meses anteriores. Apesar de preliminares, a tendência dos dados costuma ser confirmada posteriormente por outros sistemas.
"O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações - MCTIC informa que, nesta 2. feira (05), o Dr. Darcton Policarpo Damião foi escolhido para substituir interinamente o Sr. Ricardo Galvão na diretoria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Darcton Policarpo Damião possui um currículo extenso com graduação em Ciências Aeronáuticas na Academia da Força Aérea - AFA, MBA em Gestão Empreendedora pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica - ITA, mestrado em Sensoriamento Remoto pelo INPE, doutorado em Desenvolvimento Sustentável na Universidade de Brasília - UnB dentre outros cursos".
Ricardo Galvão estava no órgão desde 1970 e cumpria mandato até 2020. Ele é formado em Engenharia de Telecomunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em Engenharia Elétrica pela Unicamp e doutor em Física de Plasmas Aplicada pelo Massachusetts Institute Of Tecnology (MIT).
Após ser questionado por Bolsonaro no dia 19, Galvão respondeu publicamente e disse em entrevista que a atitude foi “pusilânime e covarde” e que as declarações pareciam “conversa de botequim”.
Os dias seguintes foram marcados por novos questionamentos de Bolsonaro, dizendo que as informações prejudicam a imagem do país e que queria as receber antes delas serem tornadas públicas.
Na última quarta-feira (31), técnicos do Inpe estiveram reunidos com Pontes e também com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para explicar como é feito o monitoramento.
Após a reunião, Salles admitiu pela primeira vez, desde o início do impasse, que o desmatamento está em alta na Amazônia, mas voltou a falar que havia problema com os dados, como uma suposta duplicação de alertas e desmatamentos mais antigos que estariam sendo vistos somente agora.
Para fazer tais afirmações, Salles comparou os dados do Deter, o sistema de detecção em tempo real do desmatamento, com imagens de um outro sistema, chamado Planet, que foram compradas pelo Ibama.
Os técnicos do Inpe explicaram como funciona a coleta de informações, que servem para nortear as ações de fiscalização do Ibama, e reafirmaram sua transparência e correção.
Na quinta-feira, Salles, dessa vez ao lado de Bolsonaro, voltou a falar em inconsistências e afirmar que a alta poderia ser menos significativa do que a mostrada, além de dizer que iria contratar um novo sistema de monitoramento.
Em nota após a entrevista coletiva, o Inpe disse que “os alertas são produzidos seguindo metodologia amplamente divulgada e consistentemente aplicada desde 2004” e que “contribuiu para a redução do desmatamento na região amazônica, quando utilizada em conjunto com ações de fiscalização”.
Na nota, o órgão afirmou também que não teve acesso prévio à análise feita por Salles, mas que seus técnicos responderam a todas as questões apontadas na apresentação.
Após o encontro com Pontes na sexta-feira, Galvão disse que concordou com a decisão pela sua saída e que sua maior preocupação no encontro era que a crise não respingasse no Inpe.
“Isso não vai acontecer. Discutimos em detalhes como vai ser a continuação da administração do Inpe.” Ele disse que não precisou defender os dados para o ministro Pontes pois ele concorda e “sabe como funciona.”