Paulo Abi-Ackel: o tucano foi autor do parecer aprovado pela maioria da Câmara (Facebook/Reprodução)
Estadão Conteúdo
Publicado em 14 de setembro de 2017 às 19h45.
Brasília - Governistas querem emplacar um deputado do PSDB ou do PMDB como relator na Câmara da nova denúncia contra o presidente Michel Temer por organização criminosa e obstrução de Justiça, apresentada nesta quinta-feira, 14, pelo procurador-Geral da República, Rodrigo Janot.
Vice-líder do governo na Câmara, o deputado Beto Mansur (PRB-SP) afirmou à reportagem que o governo quer o deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG) como relator da segunda acusação.
O tucano foi autor do parecer aprovado pela maioria da Câmara recomendando a rejeição da primeira denúncia contra Temer.
Segundo Mansur, governistas tentam convencer o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), para que ele mesmo escolha Abi-Ackel como relator oficial.
Procurado, o tucano disse que precisa entender a denúncia antes de decidir se aceitaria ou não ser relator.
Em reservado, outros governistas, porém, defendem um nome do PMDB pró-Temer para relatar a nova denúncia. A avaliação é de que o presidente precisa mostrar que tem força dentro do próprio partido, o que não aconteceu na primeira denúncia apresentada pela PGR.
Na primeira acusação da PGR, Pacheco escolheu como relator Sérgio Zveiter (Podemos-RJ), na época filiado ao PMDB e que deu parecer pela aceitação da denúncia.
O relatório, porém, foi rejeitado pela comissão, o que fez com que o presidente do colegiado tivesse de escolher um novo relator, no caso Abi-Ackel.
Os governistas que defendem um nome do PMDB para relatoria avaliam que um relator do PSDB pode aumentar a crise interna na sigla e, assim, aumentar o número de tucanos que votarão contra Temer.
Na votação da primeira denúncia no plenário, a bancada do PSDB deu 22 votos pelo arquivamento e 21 pelo prosseguimento da investigação.
Procurado, o presidente da CCJ disse que só decidirá quem será o relator quando estudar a nova denúncia. Ele avaliou, porém, os nomes de Paulo Abi-Ackel e do deputado Marcos Rogério (DEM-RO), também apontado nos bastidores para relatoria do caso, como "ótimos nomes".
Como vem mostrando o Broadcast Político, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado, Pacheco dava sinais de que poderia escolher um nome mais governista para relatar uma eventual segunda denúncia.
Pessoas próximas ao deputado afirmam que ele deve escolher um relator com um perfil mais moderado, mas não necessariamente que tenha votado contra o presidente na primeira denúncia.
A decisão de Pacheco deve passar por questões regionais. De olho em uma eventual candidatura ao governo de Minas Gerais em 2018, o deputado não deve indicar um parlamentar que faça franca oposição ao Palácio do Planalto e se indispor com o seu partido, o PMDB.
Além disso, contribuiu para essa percepção a investigação aberta pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e que levou à prisão e rescisão do acordo de delação premiada de dois delatores do grupo J&F, que controla o frigorífico JBS: Joesley Batista, um dos donos do grupo, e do ex-executivo Ricardo Saud.
Com a possibilidade de Pacheco escolher um relator com perfil governista, opositores de Temer já planejam apresentar votos em separado recomendando a aceitação da denúncia.
"Dependendo do voto do relator, pretendo, sim, apresentar outro voto. Já vou começar a estudar hoje a denúncia", disse Zveiter ao Broadcast Político.