O presidente do IBGE, Marcio Pochmann, durante entrevista à EBC em julho (José Cruz/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 31 de janeiro de 2025 às 19h12.
Após o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) suspender temporariamente a criação da fundação de direito privado IBGE+, um dos principais pontos da crise que a instituição vem enfrentando, servidores da área de comunicação do órgão publicaram manifesto criticando a gestão do atual presidente do instituto, Marcio Pochmann. O documento se soma ao coro de profissionais que consideram suas medidas “autoritárias”.
Com mais de 300 assinaturas, o manifesto é uma atitude inédita da comunicação do IBGE. O texto critica os comunicados da presidência, que dizem ser feitos por servidores indicados a seus cargos, e não concursados, e consideram que as informações sobre as pesquisas, principal produto do instituto, se perdem no meio das notícias sobre a agenda do presidente. Eles afirmam que essas notícias paralelas têm gerado sobrecarga de tarefas.
“Os profissionais de comunicação trazidos ao IBGE pelo sr. Pochmann se sobrepuseram aos servidores de carreira concursados e impuseram uma dinâmica que saturou a página do IBGE na internet, a Agência IBGE e as redes sociais do Instituto com notícias sobre o presidente e suas realizações, em detrimento dos releases, notícias e postagens essencialmente relevantes sobre os resultados das pesquisas do Instituto. As divulgações sobre o PIB, a inflação e o desemprego, inclusive os aguardadíssimos resultados do Censo 2022, tiveram que ceder espaço à avalanche de notícias sobre a gestão Pochmann”, diz o manifesto.
Os profissionais criticam a utilização do aparato de comunicação social do IBGE para promoção pessoal, o que dizem estar sendo feito pelo presidente, e reafirmam que a divulgação das estatísticas oficiais deve ser objetiva e impessoal, independentemente de influências políticas. O texto acusa ainda a presidência de não atender a imprensa adequadamente, afirmando que Pochmann se recusa a atender suas demandas e se limita a responder seus questionamentos por meio de notas “tardias” publicadas no portal do IBGE.
“Pochmann, ao contrário de quase todos os que o antecederam no cargo, até hoje não deu uma coletiva para a imprensa que cobre o IBGE rotineiramente, preferindo falar com correspondentes estrangeiros, blogueiros amigos ou com veículos isolados, escolhidos sem qualquer transparência”, dizem os profissionais.
Os comunicadores do instituto criticam também as viagens que estão sendo feitas nesta semana pelo presidente para divulgação do novo plano de trabalho. Eles observam que não há agenda no Rio, onde fica a sede do órgão e onde trabalha a maioria dos servidores do IBGE.
“Outra enorme fonte de atritos está nas turnês oportunistas pelo país, que pegam carona nas divulgações mais concorridas do IBGE, como as do Censo 2022 e de algumas pesquisas anuais, para uma agenda paralela de Pochmann e seus assessores, incluindo contatos com diversos políticos locais.”
Após protesto dos servidores nesta quarta-feira, o IBGE decidiu suspender temporariamente a criação da Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE (IBGE+), que vinha sendo criticada pelo sindicato e pelos funcionários do instituto, além de ser um dos pontos principais da crise na gestão de Marcio Pochmann.
Em nota conjunta com o Ministério do Planejamento e Orçamento (MPO), o instituto diz que a partir da decisão da suspensão estão sendo mapeados modelos alternativos, que podem contar com alterações legislativas feitas em diálogo com o Congresso Nacional.
A crise no IBGE, que vem se agravando nas últimas semanas, teve início em setembro, quando o sindicato nacional dos servidores do Instituto (Assibge) descobriu a criação da "sigilosa" fundação. Desde então, diversos segmentos de profissionais vêm fazendo cartas de repúdio à gestão de Pochmann, que consideram autoritária.
Na semana passada, 136 servidores vinculados a três das maiores diretorias (Pesquisas Econômicas, Geociências e Tecnologia da Informação) — entre eles gerentes, coordenadores e dois ex-diretores — assinaram uma carta aberta criticando a gestão do atual presidente do instituto. O documento, que já chegou a mais de 280 assinaturas, diz que a gestão tem viés “autoritário, político e midiático”.
Uma semana antes, Elizabeth Hypolito e João Hallak Neto, então diretora e diretor adjunto de Pesquisas do IBGE, a mais importante diretoria do instituto, deixaram seus cargos, tendo como principal motivo para o afastamento a falta de interlocução com a presidência do órgão. Em seguida, mais duas diretoras também entregaram seus postos: a diretora de Geociências, Ivone Lopes Batista, e Patricia Amorim Vida Costa, que ocupava o cargo de diretora adjunta de Geociências.