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Gestão Bolsonaro não terá marqueteiro, diz ministro da Secretaria

Para Carlos Alberto dos Santos Cruz, o marketing de governo "não pode ser uma forma de expansão de ideologia"

Ministro disse que o governo Jair Bolsonaro não terá marqueteiro nos moldes de gestões anteriores (Adriano Machado/Reuters)

Ministro disse que o governo Jair Bolsonaro não terá marqueteiro nos moldes de gestões anteriores (Adriano Machado/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de janeiro de 2019 às 11h16.

Brasília - O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que o governo Jair Bolsonaro não terá marqueteiro nos moldes de gestões anteriores, mas profissionais para fazer planejamento de mídia. Para ele, o marketing de governo "não pode ser uma forma de expansão de ideologia".

Santos Cruz avalia que administrações passadas puseram a comunicação a serviço de um "projeto de poder" e anunciou a revisão de todos os contratos da área, estimados em até R$ 400 milhões apenas na Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom).

General da reserva do Exército e ex-secretário nacional de Segurança Pública, o ministro afirmou que a discriminação de oficiais das Forças Armadas para cargos-chave no governo parte apenas de quem tem "interesse político". Veja abaixo alguns dos assuntos debatidos.

COMUNICAÇÃO DE GOVERNO - "Temos que tomar muito cuidado para o marketing de governo não ser uma forma de expansão de ideologia. Sou contra a divulgação de ideologia. Acho que, por filosofia, sempre foi assim em governos passados. Sou a favor da informação de qualidade pelo bem público e não pelo projeto de poder. Você deve usar tecnologia e as técnicas de comunicação para divulgar coisas válidas, não seu projeto de poder. Esse negócio de marqueteiro assumiu uma conotação tão negativa, parece uma especialidade em você enganar o cara. Uma coisa que era para fazer divulgação faz um marketing para mudar a realidade. Não, você tem que transmitir a realidade para a população."

CONTRATOS - "Eu vou rever todos os contratos da Secom. São cerca de R$ 400 milhões em valor de contrato, embora a execução, o gasto, possa ficar abaixo. O porta-voz é uma escolha pessoal do presidente. O general Otávio Santana do Rêgo Barros é uma pessoa preparada e treinada, era chefe do Centro de Comunicação Social do Exército e foi aproveitado. O uso das redes sociais é irreversível, a tecnologia chegou para ficar."

FUTURO DA EBC - "Não posso dizer agora qual é a solução. Qualquer solução tem que obedecer a um quadro de funcionários, a grande massa é concursada, tem que respeitar a legislação. A EBC (Empresa Brasil de Comunicação) tem duas televisões, a NBR e a TV Brasil, oito rádios e um quadro de 2.025 funcionários. É um número gigantesco para, talvez, a penetração que tem, a expressão em termos de mídia. Ainda tenho que estudar todo o problema de orçamento e contratos. Acho que não tem nenhuma novidade em dizer que tudo isso será revisto, toda a estrutura, todo o quadro de pessoal. Tem que ver problemas patrimoniais, não é assim 'fecha a porta'."

MILITARES NO GOVERNO - "Tem muito essa discussão hoje. Eu sou de origem militar, o Rêgo Barros (porta-voz de Bolsonaro) é de origem militar, tem o Heleno (ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional). Agora até ex-militar está contando na matemática. Não presto atenção nisso. A sociedade aceita perfeitamente bem. Quem faz essa discriminação é alguém interessado politicamente em fazer. A sociedade quer que você governe de maneira limpa, sem corrupção, e entregue o benefício no serviço público. Quem está dirigindo, para ela não interessa. Interessa a prestação do serviço público de qualidade e de maneira honesta. Se a gente evitar viver aqueles dez anos de escândalos diários na primeira página que a gente viveu, é isso o que o pessoal quer. A sociedade quer um governo limpo, transparente."

EMENDAS PARLAMENTARES - "A emenda é uma coisa técnica, um direito que tem o parlamentar de desfrutar daquela emenda em benefício da base dele. Não deve ser instrumento de barganha política. As regras devem ser claras, e o parlamentar deve poder acompanhar a emenda que ele colocou no Orçamento em benefício do público dele, pela internet, e para que o público possa saber que emenda é essa, qual município e para que é, colocar uma ponte... Naquilo que for da minha alçada no trato de emendas vai ser absolutamente transparente. Talvez até vocês estejam acostumados com um ritmo de pagamentos de política antiga. Eu não pretendo que seja assim. A emenda foi criada não para beneficiar o parlamentar, mas a ponta da linha. A grande estrela é o público. Os interesses dos parlamentares são normais, mas você não pode retardar o benefício do público por conta de algum arranjo. Naquilo que depender de mim será 100% técnico e 100% transparente."

ONGs - "Precisamos ter um mapeamento completo de quantas ONGs tem, quais são os recursos utilizados, as fontes de recurso, a capacidade técnica e os resultados. Se eu lhe entrego uma quantidade de recursos públicos, sua responsabilidade não é só fazer a contabilidade correta. Eu também tenho que avaliar o resultado. Pode até existir uma boa tomada de contas, mas é deficiente a avaliação de resultado. Também temos que acompanhar a capacidade de quem não recebe recurso público. Por exemplo, se a ONG vai cuidar de meninas grávidas, mas não recebe recursos públicos, o Ministério da Saúde tem que saber que capacidade técnica essa organização tem. O problema não é de interferência. Mas quando usa dinheiro público, tem obrigação de prestar contas e explicar resultados."

ATAQUES NO CEARÁ - "Isso é ação terrorista. É o crime organizado fazendo ações de terror contra a população, destruindo patrimônio público. É crime bárbaro. A reação tem que ser muito forte. Lei a gente tem, mas precisa aplicar de maneira séria. Temos a tal da progressividade de pena. Uma mudança na progressão é uma coisa a ser ao menos pensada. O Estado tem o direito e a obrigação de colocar disciplina dentro do presídio. A sociedade toda tem responsabilidade, todos os Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário), por terem tolerado esse crescimento do crime organizado. O problema é maior do que o limite do governador Camilo Santana (PT)." As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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