Santos Cruz: esta é é a terceira baixa ministerial do governo Bolsonaro, que perdeu Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) em fevereiro e Ricardo Vélez (Educação) em abril (Marcos Corrêa/Planalto/Divulgação)
Clara Cerioni
Publicado em 13 de junho de 2019 às 17h51.
Última atualização em 13 de junho de 2019 às 20h13.
São Paulo — O general Carlos Alberto Santos Cruz deixará o ministério da Secretaria de Governo da Presidência da República do governo de Jair Bolsonaro.
O presidente comunicou a demissão ao general em almoço nesta quinta-feira (13) no Palácio do Planalto, antes de Bolsonaro viajar a Belém, no Pará, onde cumpre agenda.
Estavam presentes no encontro o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva.
Quem assume o posto é o general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, atual chefe do Comando Militar do Sudeste, que é próximo ao presidente.
Além de comunicação e articulação política, a Secretaria de Governo também tem na sua alçada o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), de projetos com capital privado na área de infraestrutura.
No início da noite, o presidente divulgou nota afirmando que "deixa claro que essa ação não afeta a amizade, a admiração e o respeito mútuo, e agradece o trabalho executado pelo general Santos Cruz à frente da Secretaria de Governo."
Já Santos Cruz divulgou uma carta agradecendo deputados, senadores, servidores, imprensa, Judiciário, MP e TCU; para a família Bolsonaro, desejou "saúde, felicidade e sucesso".
A demissão de Santos Cruz foi atribuída ao "desalinhamento" com o presidente em questões como comunicação e a centralização de poder na sua pasta. Santos Cruz vinha acumulando desgastes desde que reagiu às críticas de Olavo, a quem atribuiu uma "personalidade histérica".
Bolsonaro, porém, em nenhum momento saiu em defesa do seu ministro e chegou a condecorar Olavo com a Ordem Nacional de Rio Branco em meio à polêmica. A atitude incomodou a ala militar do governo.
Na Esplanada dos Ministérios, contudo, o ministro era visto como o braço direito, conselheiro e figura indispensável a Bolsonaro.
“O gabinete do presidente é logo aqui embaixo, eu desço a escada e já estou dentro dele, a facilidade de eu furar a fila é grande”, disse o ministro em uma entrevista exclusiva a EXAME em abril.
Na segunda-feira (10), o ministro saiu em defesa de Sergio Moro afirmando que o fato de o celular ter sido invadido por hackers “demonstra a ousadia do crime e não pode ser admitido”.
Na terça-feira (11), o ministro foi condecorado pelo presidente Bolsonaro com a Ordem do Mérito Naval junto com outros 11 ministros. O ministro Santos Cruz é a terceira baixa ministerial do governo Bolsonaro, que perdeu Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral) em fevereiro e Ricardo Vélez (Educação) em abril.
Santos Cruz foi alvo, no início de maio, de ataques de alas do bolsonarismo. A movimentação começou quando o humorista Danilo Gentili sugeriu no Twitter em 05 de maio que Santos Cruz estaria de olho em “controlar a mídia”, por conta de uma entrevista que concedeu um mês antes para a Rádio Jovem Pan.
Na ocasião, o ministro da Secom comentou sobre a necessidade de evitar distorções na internet, evitando ataques e o seu uso como “arma de discórdia”. “As distorções e os grupos radicais, sejam eles de uma ponta ou de outra, da ponta leste ou da ponta oeste, isso aí tem que ser tomado muito cuidado, tem que ser disciplinado. A própria legislação tem de ser melhorada”, afirmou na entrevista.
Logo depois, o filósofo Olavo de Carvalho, considerado guru do bolsonarismo, também começou a direcionar duras críticas ao general. Durante todo o dia, a hashtag #ForaSantosCruz ficou entre os assuntos mais comentados no Twitter.
Responsável pela articulação política e a publicidade, Santos Cruz era questionada por travar manifestações mais incisivas de Bolsonaro nas redes. O desafeto de parte da equipe do governo Bolsonaro com o ministro também estava envolvida com a decisão do ministro em revogar uma portaria que determinava aprovação do Planalto para peças publicitárias das estatais.
A decisão havia sido tomada após o presidente desautorizar uma propaganda do Banco do Brasil, marcada pela diversidade. Logo depois, contudo, a Secretaria de Governo divulgou um novo comunicado afirmando que a determinação não havia respeitado a Lei de Estatais.
(Com Estadão Conteúdo)