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Futuro chanceler está perto de Trump e longe da China

Ruptura da lógica hierárquica - evidenciada com a indicação do novo ministro do governo Bolsonaro - causou mal-estar e preocupação no Itamaraty

Jair Bolsonaro e Ernesto Fraga Araújo: O quanto das ideias do futuro chanceler será transferido para a prática da política externa brasileira ainda não se sabe. (Valter Campanato/Agência Brasil)

Jair Bolsonaro e Ernesto Fraga Araújo: O quanto das ideias do futuro chanceler será transferido para a prática da política externa brasileira ainda não se sabe. (Valter Campanato/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de novembro de 2018 às 09h15.

Última atualização em 16 de novembro de 2018 às 09h16.

O futuro chanceler brasileiro, o embaixador Ernesto Fraga Araújo de 51 anos, acredita que a mudança climática é um dogma científico influenciado por uma cultura marxista que quer atrapalhar o ocidente e favorecer a China. "Esse dogma vem servindo para justificar o aumento do poder regulador dos Estados sobre a economia e o poder das instituições internacionais sobre os Estados nacionais e suas populações, bem como para sufocar o crescimento econômico nos países capitalistas democráticos e favorecer o crescimento da China".

A tese publicada em seu blog, o Metapolítica 17, no último dia 12 de outubro, revela a aversão à esquerda do futuro ministro das Relações Exteriores. Em ensaios e artigos, Ernesto Araújo coloca a China como um inimigo do desenvolvimento do Ocidente. Ele afirma que o "globalismo" tem entre seus projetos "transferir o poder econômico" do Ocidente para o País asiático e que esse movimento era algo que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estaria tentando evitar.

O "globalismo", diz o futuro chanceler, "surgiu quando alguém entendeu que o consumismo era o melhor caminho para o comunismo" e a ideia de um mundo onde não haveria fronteiras para o comércio e o investimento avançou para um mundo no qual os países não têm mais identidade. "É a globalização econômica que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural".

O futuro chanceler afirma que o "marxismo cultural" estaria transformando os seres humanos em uma "paçoca maleável" incapaz de assumir um papel social ou ter ideias "que não sejam os chavões politicamente corretos veiculados na mídia". Esse processo estaria enfraquecendo o Ocidente não do ponto de vista econômico ou militar, mas do ponto de vista da identidade, do "espírito". Por isso, ele afirma que o "globalismo" é "anti-humano" e "anticristão".

Em artigo publicado na revista do Instituto de Pesquisas de Relações Internacionais (Ipri), ele sustenta que Trump é um raro líder que identificou o processo de decadência do Ocidente e decidiu reagir. É nesse contexto que Trump estaria travando sua guerra contra a China.

A China, diz ele num post, está até hoje sob um sistema de dominação "disfarçado de pragmatismo e abertura econômica". Em outro post, ele menciona o maoísmo. "Haddad é o poste de Lula. Lula é o poste de Maduro, atual gestor do projeto bolivariano. Maduro é o poste de Chávez. Chávez era o poste do Socialismo do Século XXI de Laclau. Laclau e todo o marxismo disfarçado de pós-marxismo é o poste do maoísmo. O maoísmo é o poste do inferno. Bela linha de transmissão", escreveu. Ernesto Laclau era um teórico político argentino identificado como "pós-marxista" que viveu entre 1935 e 2014.

No artigo, Araújo diz que, além de uma política externa, o Brasil precisa de uma metapolítica externa, "para que possamos situar-nos e atuar naquele plano cultural-espiritual em que, muito mais do que no plano do comércio ou da estratégia político-militar, estão-se definindo os destinos do mundo."

O quanto das ideias de Araújo será transferido para a prática da política externa brasileira ainda não se sabe. A sua escolha não foi propriamente uma surpresa no Itamaraty, já que ele era cotado há várias semanas para o cargo. Mas avaliava-se que, pelo fato de ser um diplomata recém-promovido a embaixador, ele deveria perder o posto para algum colega mais experiente e ocupar alguma outra posição na equipe do presidente eleito.

A ruptura dessa lógica causou mal-estar e preocupação. Porém, os diplomatas são treinados para seguir instruções com um rigor semelhante ao dos militares. Até para proteger a instituição, o sentimento predominante é o de "dar uma força" ao jovem chanceler.

Procurado, Araújo não se manifestou. As assessorias do Itamaraty e da equipe de transição informaram que, por ora, ele não concederá entrevistas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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