Sessão no Congresso (Adriano Machado/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 12 de outubro de 2018 às 11h33.
Brasília - Dos quase 9 mil candidatos que disputaram uma cadeira no Congresso neste ano, menos da metade (44,7%) recebeu recursos do fundo eleitoral, composto por dinheiro público. Levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo mostra que, entre os que usaram esse recurso em suas campanhas, 11,62% conseguiram se eleger. Por outro lado, 175 dos 359 candidatos a deputados e senadores que receberam R$ 1 milhão ou mais do fundo ficaram sem a vaga.
Aprovado no ano passado pelos parlamentares após a proibição de doações empresariais, o fundo eleitoral contou com R$ 1,7 bilhão, valor repassado aos partidos.
Para quem concorreu sem o fundo eleitoral, o porcentual de sucesso foi baixo - só 2% conseguiram se eleger. A exceção ficou com o PSL, que elegeu 37 deputados e três senadores que não usaram esses recursos. Eles foram impulsionados pela campanha de Jair Bolsonaro (PSL) ao Planalto, que também não usou a verba pública até agora. Outros 16 eleitos pelo partido para o Congresso receberam o dinheiro público.
As legendas priorizaram as candidaturas à Câmara, aplicando nelas 46% do total de R$ 1,7 bilhão (R$ 794 milhões) recebido. Esse é o destino preferencial porque a fatia de recursos que as siglas recebem e também o tempo de TV dependem do tamanho da bancada.
A maior parte desse investimento, ou R$ 443,6 milhões, foi feita em parlamentares que não se elegeram, como o deputado e ex-ministro da Justiça Osmar Serraglio (PP-PR) e o deputado federal por quatro mandatos Benito Gama (PTB-BA).
Também ficaram fora da Câmara dos Deputados candidatos como Danielle Cunha (que recebeu R$ 2 milhões do fundo eleitoral) e Cristiane Brasil (R$ 1,85 milhão) - filhas, respectivamente, do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ), condenado e preso na Lava Jato, e do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), condenado no processo do mensalão.
De 81 candidatos ao Senado que foram financiados com pelo menos R$ 1 milhão, só 26 se elegeram. Com R$ 4 milhões recebidos, Dilma Rousseff (PT), por exemplo, não conseguiu a vaga. Outros 20 senadores que tentaram a reeleição com financiamento público falharam, entre eles Lúcia Vânia (PSB-GO), com R$ 3,5 milhões recebidos, Romero Jucá (MDB-RR), com R$ 2,25 milhões, e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB), com R$ 1,57 milhão.
Só oito dos 32 senadores candidatos à reeleição tiveram êxito, o que quer dizer que 85% dos eleitos vão renovar o Senado, ainda que alguns não sejam novatos, como Jarbas Vasconcellos (que recebeu R$ 2,1 milhões) e Jaques Wagner (R$ 1,3 milhão). Partidos aplicaram R$ 174 milhões para obter vagas no Senado, mas 70% (R$ 120 milhões) foram para candidatos que não conseguiram a eleição.
Na avaliação do cientista político Humberto Dantas, o investimento no Senado não foi tão certeiro porque o eleitor foi mais criterioso na avaliação dos nomes propostos, em comparação com a lista de deputados. "Talvez o dinheiro seja menos eficiente porque o eleitor enxerga de maneira mais clara onde está colocando o dinheiro dele. Diante de escândalos em Estados como Paraná e Goiás, o eleitor evitou ex-governadores", afirma. "Ele também demora mais nessa eleição ao Senado, tem dificuldade de eleger dois. Mas ele enxerga nominalmente de maneira clara."
A eleição de 37 deputados do PSL sem recurso de fundo eleitoral é um dos pontos destacados. "O grande impacto dessa eleição foi uma campanha extremamente bem-sucedida e aparentemente muito barata de um partido que se preparou e soube usar as redes sociais", afirma o cientista político.
Depois do PSL, a Rede foi a segunda sigla que mais elegeu deputados sem o uso do fundo eleitoral. Os candidatos têm até o início de novembro para apresentar as contas finais da campanha ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.