LÚCIO FUNARO: Delação do doleiro foi enviada ao Supremo e deve embasar segunda denúncia contra Michel Temer / Alexandre Schneider/VEJA (Alexandre Schneider/VEJA)
Talita Abrantes
Publicado em 31 de agosto de 2017 às 12h36.
Última atualização em 31 de agosto de 2017 às 15h36.
São Paulo – Segundo informações do jornal O Globo, o operador Lúcio Funaro teria confirmado em delação premiada que recebeu dinheiro do empresário Joesley Batista, um dos donos da JBS, para ficar em silêncio.
Se confirmado, o depoimento corrobora ao menos parte da narrativa de Joesley de que o presidente Michel Temer (PMDB) teria dado aval para a compra do silêncio de Funaro e do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Na gravação que Joesley entregou à Procuradoria Geral da República como parte de sua delação premiada, o empresário fala a Temer, supostamente de maneira cifrada, que vinha fazendo pagamentos regulares a Funaro e a Cunha. Ao que o presidente responde: "tem que manter isso, viu?".
Ainda segundo o jornal, Funaro já teria admitido em conversas iniciais com a Polícia Federal que recebia pagamentos do empresário como parte da quitação de uma dívida. No entanto, ele mudou a versão após o acordo de delação premiada: agora teria dito que os repasses seriam uma forma de mantê-lo em silêncio.
De acordo com o operador, o ex-ministro Geddel Vieira de Lima teria entrado em contato com sua mulher questionando se ele estava disposto a fazer uma delação premiada. Em 3 de julho, Geddel foi preso preventivamente acusado de obstrução da Justiça.
Segundo delatores, ele seria um dos interlocutores de Temer junto a Joesley Batista e, no início deste ano, foi substituído pelo ex-deputado Rodrigo Rocha Loures na função.
Posteriormente, o ex-deputado (que é apontado como um dos homens fortes do presidente) foi flagrado carregando uma mala de 500 mil reais após um encontro com Saud. Os executivos do grupo J&F afirmam que esse valor era a primeira parcela de um total 20 com o mesmo valor em propina por um auxílio junto ao Cade.
Acusado de corrupção passiva pela Procuradoria-Geral da República, Temer conseguiu barrar na Câmara dos Deputados o avanço da primeira denúncia contra ele. No entanto, Congresso e Planalto seguem na expectativa de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, apresente uma nova denúncia contra o presidente nos próximos dias.
Ontem, o ministro Edson Fachin, relator do caso no Supremo Tribunal Federal, devolveu para a PGR o acordo de delação premiada entre Funaro e pediu ajustes. É de se esperar que o trecho do depoimento revelado hoje sirva para fortalecer as acusações de Janot contra o presidente. O acordo corre em sigilo.