Fuga de Mossoró: incidente gerou uma crise no Ministério da Justiça e Segurança Pública, recém-assumido pelo ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski (Secretaria Nacional de Políticas Penais/Divulgação)
Agência de notícias
Publicado em 28 de fevereiro de 2024 às 06h55.
Última atualização em 28 de fevereiro de 2024 às 06h56.
A fuga de Deibson Cabral Nascimento e Rogério da Silva Mendonça do presídio federal de Mossoró (RN) completa duas semanas nesta quarta-feira. O incidente gerou uma crise no Ministério da Justiça e Segurança Pública, recém-assumido pelo ex-ministro do STF Ricardo Lewandowski, por se tratar da primeira vez que alguém consegue escapar de um presídio federal.
Há indícios de que, logo após à fuga, os dois percorrerem cerca de 38 quilômetros. A dificuldade nas buscas foi agravada com as chuvas na região em Mossoró e no município vizinho de Baraúna. Depois da saída, a primeira pista da dupla foi achada na localidade do Rancho da Caça, a sete quilômetros do presídio. Os dois invadiram uma casa e roubaram roupas, biscoito, queijo, melancia, pão de forma, margarina e fósforos.
Dois dias depois, duas camisas azuis, como as dos uniformes dos detentos, uma rede e rastros de sapatilhas semelhantes às usadas pelos fugitivos foram encontrados na Serra de Mossoró, próximo ao Parque Nacional da Furna Feia. A unidade de conservação, que tem 8.494 hectares e fica entre Mossoró e Baraúna, tem 218 cavernas.
Em coletiva nesta segunda-feira, o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que os presos ainda estão "nas cercanias" do presídio.
— As informações são que eles ainda estão na região. Hoje tivemos outra prisão, mediante mandado judicial, de um colaborador. Imaginamos que estão nas cercanias — frisou Lewandowski
Ajuda de facção carioca
A Polícia Federal levantou indícios de que os dois fugitivos estão recebendo dinheiro de integrantes do Comando Vermelho, facção nascida no Rio de Janeiro que tem forte atuação nas regiões Norte e Nordeste. Os investigadores descobriram que o mecânico Ronaildo Fernandes recebeu R$ 5 mil em sua conta para repassar à dupla.
Ronaildo Fernandes é dono da propriedade em Baraúna, na divisa entre Rio Grande do Norte e Ceará, onde os dois ficaram escondidos por oito dias. Eles chegaram ao local na madrugada de sábado (16) para domingo (17), se refugiaram em uma cabana montada no meio da roça e cavaram buracos para escapar da vista de drones e helicópteros que sobrevoam a região, que fica a cerca de 30 quilômetros do presídio. O mecânico foi preso preventivamente nesta segunda-feira sob suspeita de ter colaborado com os presos. Ele alega inocência, dizendo que foi coagido a prestar o auxílio.
Na última segunda-feira, Nascimento e Mendonça foram vistos por moradores da região de Baraúna. Os cães farejadores chegaram a identificar o rastro deles, mas a dupla correu para dentro da mata fechada.
De acordo com o colunista de O GLOBO Lauro Jardim, a dupla foi vista novamente no dia seguinte, num vilarejo no Rio Grande do Norte. Eles foram reconhecidos por moradores e voltaram para as matas, antes da chegada da polícia.
A força-tarefa destacada para prendê-los é integrada por 540 agentes federais — da PF, PRF e Força Nacional —, além de quadros das forças estaduais.
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Rogério da Silva Mendonça e Deibson Cabral Nascimento, também conhecido como "Tatu" ou "Deisinho", são do Acre e estavam na Penitenciária Federal de Mossoró desde 27 de setembro de 2023.
No ano passado, a Secretaria de Estado de Segurança Pública do Acre divulgou que Rogério e Deibson estavam entre os presos que participaram da rebelião ocorrida em julho de 2023 no presídio de segurança máxima Antônio Amaro Alves. Durante a ação, cinco detentos foram executados com requintes de crueldade, com decapitações e esquartejamentos.
Deibson estava preso desde agosto de 2015, já tendo passado também pelo presídio federal de Catanduva (PR). Ele tem condenações e responde por assaltos, furtos, roubos, homicídio e latrocínio.
Rogério, que também tem vasta ficha criminal, também cumpria pena no Acre, quando foi determinada sua transferência para o Rio Grande do Norte. Ambos são apontados como membros de organização criminosa e cumpririam pena de dois anos, até 25 de setembro de 2025.
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Outras prisões
A PF já havia prendido outros quatro homens suspeitos de ajudar os dois fugitivos do presídio federal de Mossoró. Um deles é o irmão de Deibson Nascimento. Preso na última sexta-feira, no Acre, Johnney Weyd Nascimento foi condenado por roubo e participação em organização criminosa e tinha um mandado de prisão em aberto. Além das prisões, os agentes cumpriram nove mandados de busca e apreensão nas cidades de Mossoró (RN), Quixeré (CE) e Aquiraz (CE).