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Frigoríficos compraram gado ligado ao desmatamento, diz Greenpeace

As pastagens de gado ocupam cerca de 60% da área desmatada da Amazônia, que atingiu maior nível de desmatamento em 11 anos no Brasil

Desmatamento: a pecuária é uma das principais causas do desmatamento da Amazônia, que atingiu maior nível em 11 anos no Brasil no último ano (Ricardo Funari/Getty Images)

Desmatamento: a pecuária é uma das principais causas do desmatamento da Amazônia, que atingiu maior nível em 11 anos no Brasil no último ano (Ricardo Funari/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 4 de junho de 2020 às 15h14.

Os frigoríficos brasileiros JBS, Marfrig e Minerva compraram milhares de cabeças de gado ligados ao desmatamento da Floresta Amazônica desde 2018, afirmou o Greenpeace Brasil em um relatório publicado na quinta-feira.

O relatório fornece uma janela para a chamada lavagem de gado, na qual os bois criados em terras desmatadas ilegalmente são transportados entre fazendas para esconder suas origens.

A pecuária é uma das principais causas do desmatamento da Amazônia, que atingiu maior nível em 11 anos no Brasil no último ano. As pastagens de gado ocupam cerca de 60% da área desmatada da floresta, segundo dados publicados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em 2016.

Os três frigoríficos teriam comprado gado de uma fazenda chamada Barra Mansa, no Mato Grosso, entre janeiro de 2018 e julho de 2019, sendo que a JBS adquiriu pelo menos 6.000 bovinos, a Minerva comprou pelo menos 2.000 e a Marfrig outros 300, de acordo com investigação do Greenpeace.

Durante esse período, pelo menos 4.000 cabeças de gado foram transferidas para a Barra Mansa de uma fazenda próxima, chamada Paredão, disse o Greenpeace. Paredão está ilegalmente localizada dentro de um parque estadual amplamente desmatado, segundo registros de terras e dados de desmatamento por satélite. Registros públicos mostram que as fazendas compartilham um proprietário, Marcos Antonio Assi Tozzatti.

Os números de telefone listados para uma empresa vinculada a uma das fazendas e regsitrados no nome de Tozzatti estavam desconectados.

Questionadas sobre as alegações, JBS, Minerva e Marfrig reafirmaram em declarações à Reuters compromissos assumidos desde 2009 de não comprar gado de áreas desmatadas ilegalmente ou de fazendas sob embargo ambiental.

As empresas disseram que o sistema brasileiro de rastreamento de gado dificulta a análise de "fornecedores indiretos", que podem ser fazendas em péssimas condições que vendem gado para outras em boa posição.

A JBS afirmou que Barra Mansa está em conformidade com as regras de compras responsáveis da empresa e que Paredão nunca foi listada como fornecedora de gado da JBS.

A Minerva disse que bloqueou a fazenda Paredão de seu sistema desde 2018, mas Barra Mansa é um de seus fornecedores licenciados e que agora será investigada por quaisquer irregularidades.

A Marfrig declarou ter comprado 180 bovinos no período em questão de Tozzatti e da Barra Mansa, que cumprem todos os padrões da empresa, e acrescentou que não estava familiarizada com a fazenda Paredão.

A Reuters revisou registros do governo corroborando relatório do Greenpeace e documentos das transferências de gado, incluindo dezenas de bovinos enviados de Barra Mansa para os matadouros das empresas, mas não conseguiu verificar todas as transações envolvidas.

O relatório detalha como os três frigoríficos exportaram 53.256 toneladas de carne avaliadas em 267 milhões de dólares em períodos aproximadamente correspondentes às compras de gado da Barra Mansa. Hong Kong e Emirados Árabes Unidos foram os principais consumidores, enquanto cerca de 15% dessas exportações no período foram para a Europa.

A falta de rastreamento de ponta a ponta no mercado de gado brasileiro dificulta que os compradores tenham certeza se a carne está ligada ao desmatamento, segundo o Greenpeace.

"Nenhum frigorífico ou supermercado no Brasil que compra animais da Amazônia atualmente pode garantir que todo o gado produzido e comprado na Amazônia brasileira seja totalmente livre de desmatamento", informou relatório do Greenpeace.

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