(EVARISTO SA / AFP/AFP)
Agência O Globo
Publicado em 22 de abril de 2021 às 07h25.
Última atualização em 22 de abril de 2021 às 10h35.
O Palácio do Planalto monitora com preocupação investigações em diferentes órgãos sobre a gestão do presidente Jair Bolsonaro no combate à pandemia. A expectativa do governo é que esses procedimentos sejam usados como munição por parlamentares oposicionistas na CPI da Covid já no início dos trabalhos.
A compra e o incentivo ao uso de medicamentos sem eficácia e a lentidão na resposta ao agravamento da crise em Manaus — houve mortes por falta de oxigênio — são alguns dos pontos vistos com apreensão por integrantes do primeiro escalão.
Na primeira leva de documentos requisitados pela CPI devem estar o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a atuação do Ministério da Saúde na pandemia; as investigações abertas pelo Ministério Público Federal (MPF) contra gestores da pasta, entre eles o ex-ministro Eduardo Pazuello; e um boletim da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) que aponta o negacionismo do governo federal como um entrave na luta do país contra o novo coronavírus.
O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) avalia que o governo “perdeu o timing” para indicar membros da CPI da Covid no Senado. Em entrevista ao GLOBO, o parlamentar afirmou que faltou articulação para que fossem escolhidos nomes “mais isentos”, mas disse que o Palácio do Planalto ainda tem esperança de “virar o jogo”, seja por decisão judicial ou pela desistência de nomes já indicados.
As opções de Bolsonaro para a vaga no Supremo Tribunal Federal (STF) afunilaram. Segundo o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), os dois nomes analisados pelo pai para a mais alta Corte do país são os de André Mendonça, atual Advogado-Geral da União (AGU), e Humberto Martins, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Com isso, nomes que antes figuravam como postulantes, como o do procurador-geral da República, Augusto Aras, e o do desembargador do TRF-2, Willian Douglas, estariam, por ora, fora de cogitação.
Senador também confirmou que as tratativas para o retorno do pai ao PSL foram praticamente inviabilizadas e citou conversas com três partidos.
Uma das principais críticas à gestão do governo federal na pandemia é o fato de, no início, ter recusado a oferta para comprar vacinas.
Somos hoje o quinto país que mais vacina, atrás apenas dos que produzem vacina e que, por isso, destinam primeiro suas doses à própria população. Em setembro do ano passado, o governo fez um contrato de R$ 100 milhões de encomenda tecnológica com a AstraZeneca, que tem os direitos de produção e comercialização da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford. Não dá para culpar o governo. A vacina não chega na prateleira e vai para casa. Está o planeta inteiro disputando o produto.
Essa questão deverá ser abordada na CPI da Covid. A composição não se mostra favorável ao governo. Prevê muitas dificuldades?
Acredito que o governo perdeu o timing para fazer as indicações de membros para a CPI. Faltou presença nossa na articulação para que fossem escolhidos nomes mais isentos. Tem muita gente contra o governo. A própria entrevista que Renan (Calheiros) deu, antes mesmo de assumir a relatoria, reforça isso. Mas ainda podemos tentar virar o jogo.