Brasil

Frente de consumidores propõe repassar subsídios da luz para União em 5 anos

A estimativa é que a exclusão total dessas despesas, que segundo cálculos da Aneel devem somar R$ 33,4 bilhões em 2023

Torres de energia em Abu Dhabi nos Emirados Arabes Unidos - Energia; Eletricidade;alta tensão; fios; corrente eletrica

foto: Leandro Fonseca
data: 21/02/2022 (Leandro Fonseca/Exame)

Torres de energia em Abu Dhabi nos Emirados Arabes Unidos - Energia; Eletricidade;alta tensão; fios; corrente eletrica foto: Leandro Fonseca data: 21/02/2022 (Leandro Fonseca/Exame)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 16 de dezembro de 2022 às 18h35.

A Frente Nacional dos Consumidores de Energia elaborou uma proposta para repassar, de forma gradual, os custos dos subsídios hoje embutidos na conta de luz para o Orçamento da União em até cinco anos.

A estimativa é que a exclusão total dessas despesas, que segundo cálculos da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) devem somar R$ 33,4 bilhões em 2023, resulte em uma redução média de cerca de 10% na tarifa de energia.

Os subsídios são pagos por todos os consumidores por meio da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), fundo setorial usado para bancar benefícios para segmentos específicos e políticas públicas, como o programa Tarifa Social. A proposta é retirar, anualmente, 20% da CDE da tarifa. Assim, em 2023, a conta repassada para o Tesouro seria de cerca de R$ 6,6 bilhões — o que representa uma redução de 3% na conta de luz.

A ideia será levada ao futuro governo e, depois, ao legislativo, segundo Luiz Eduardo Barata, presidente do grupo. Contudo, Barata avalia que há "absoluta sintonia" com a equipe de transição responsável pelo setor.

Sobre o fato de o orçamento da União já não ser suficiente para bancar as despesas existentes, Barata diz que é exatamente por isso que a proposta prevê uma medida "programada e gradual". "Entendemos que é uma proposta absolutamente justa. E é perfeitamente ajustável no orçamento da União", disse.

Segundo o especialista, a maioria dos atores do setor elétrico "estão convencidos" que o modelo atual precisa ser revisado. Hoje, os custos totais da CDE representam cerca de 13% da conta de luz dos consumidores. "Essa conta, se nada for feito, tenderá a aumentar. É urgente uma revisão do arcabouço setorial. A inadimplência no setor poderá aumentar porque mesmo a classe média e classe média mais baixa já encontram dificuldades para pagar a conta de luz", afirmou.

Barata afirma, ainda, que não há como esperar uma mudança estrutural, que demandaria muito tempo. "Entendemos que há medidas que podem e devem ser tomadas no sentido de reduzir essa problemática de hoje até que se desenvolva um novo modelo. Então apontamos para a CDE", disse.

O diretor de energia elétrica da Associação dos Grandes Consumidores de Energia e Consumidores Livres (Abrace), Victor Iocca, explicou que uma proposta alternativa ao repasse integral para a União seria a criação de uma espécie de teto de gastos para a CDE. "Deveria impor um limite, como já existiu dentro da CDE, assim como temos um teto de gastos, com uma correção pela inflação, no máximo", disse. Ele afirmou que a maior preocupação são os subsídios concedidos a fontes renováveis e que qualquer movimento no sentido de ampliar esses benefícios deve ser evitado.

Receba as notícias mais relevantes do Brasil e do mundo toda manhã no seu e-mail. Cadastre-se na newsletter gratuita EXAME Desperta.

Congresso Nacional

Em entrevista a jornalistas, representantes da frente sinalizaram preocupação com uma série de iniciativas sobre o setor que têm sido tomadas pelo Congresso Nacional e vêm aumentando os custos para o consumidor, inclusive avançando sobre a competência de órgãos planejadores e entrando em colisão com a Aneel, responsável pela regulação.

Uma das medidas mais recentes dos parlamentares, que se encaixa nessa análise, foi a aprovação na Câmara dos Deputados de um projeto de lei que determina a extensão do prazo para a concessão de isenções de tributos para novos projetos de Geração Distribuída, em sua maioria por meio de sistemas fotovoltaicos. A expectativa é que o Senado seja mais sensível e não aprove o texto.

"Nós entendemos que existem dois movimentos que devem ser feitos: primeiro, uma discussão franca e transparente sobre o que deve e o que não deve ser subsidiado. O segundo movimento é a quem deve competir suportar esse benefício. A nossa convicção é que isso não deve ser suportado pelos consumidores, mas pelos contribuintes", disse Barata.

Barata sinalizou ainda apoio a recomendação do grupo de trabalho de Minas e Energia da transição de rever algumas dessas medidas, como a contratação de térmicas a gás onde não há insumo e infraestrutura para escoamento, prevista na lei que permitiu a privatização da Eletrobras. "Nosso entendimento é que se existe uma lei, ela tem que ser respeitada. Mas se está equivocada, tem que ser corrigida, modificada. Há muita sintonia com a equipe de transição, que já manifestou que vai lutar pela revogação".

LEIA TAMBÉM:

Leilão de transmissão de energia tem deságio de 15% no primeiro lote; acompanhe

Energia solar criará mais de 300 mil empregos em 2023, diz ABSOLAR

Acompanhe tudo sobre:Energia

Mais de Brasil

Lula anuncia pagamento do Pé-de-Meia e gratuidade dos 41 remédios do Farmácia Popular

Denúncia da PGR contra Bolsonaro apresenta ‘aparente articulação para golpe de Estado’, diz Barroso

Mudança em lei de concessões está próxima de ser fechada com o Congresso, diz Haddad

Governo de São Paulo inicia extinção da EMTU