Sérgio Moro: Mônica Moura admitiu que não registrou o pagamento parcelado na Justiça Eleitoral (Nacho Doce / Reuters)
Da Redação
Publicado em 21 de julho de 2016 às 21h10.
São Paulo - Diante do juiz federal Sérgio Moro, da Operação Lava Jato, a empresária Mônica Moura - mulher e sócia do publicitário João Santana, marqueteiro das campanhas de Lula e Dilma - confessou que US$ 4,5 milhões recebidos do operador de propinas Zwi Scornicki em conta no exterior eram referentes "a uma dívida de campanha que o PT ficou devendo prá gente na campanha de 2010".
Ela afirmou que o então tesoureiro do PT João Vaccari Neto orientou-a a procurar Zwi. "Primeira campanha da presidente Dilma. Ficou uma dívida de quase 10 milhões de reais que não foi paga, demorou, foi protelada, eu cobrei muito, tinha muitas dívidas de campanha, se tentou resolver de várias formas. Enfim, depois de muita luta tive uma conversa com o Vaccari que acertava os pagamentos de campanha. Ele mandou procurar um empresário. Assim eu cheguei no sr. Zwi. O Vaccari me deu o contato dele, fui a um escritório dele no Rio. Fui acertar com ele a forma de pagamento."
O juiz Moro questionou a mulher de João Santana se "foi tratado de onde vinha o dinheiro".
"Não, não", ela respondeu.
A sra não perguntou a Vaccari ou a Zwi?, insistiu o juiz.
"Não, não. Estava recebendo pelo meu trabalho. Só perguntei ao Vaccari "como vai ser feito isso". Ele disse "olha, vai ter que parcelar, vai conversar com ele (Zwi) que já está tudo acertado."
Ela admitiu que não registrou o pagamento parcelado na Justiça Eleitoral. "Não, foi caixa 2 mesmo excelência. Não foi declarado."
O juiz perguntou à ré por que não confessou logo que foi presa em fevereiro e depôs na Polícia Federal.
"Primeiro, porque eu passava por uma situação extrema. E o País estava vivendo um momento muito grave política e institucionalmente. As coisas acontecendo com a presidente Dilma, todo o processo, eu não quis atrapalhar esse processo, eu não quis incriminar, não queria contribuir com uma coisa para piorar. Acabei falando que (recebeu) de campanha no exterior. Eu queria apenas poupar (Dilma) de piorar a situação. Eu quis apenas não piorar a situação."
O juiz indagou a Mônica se ela não tinha receio de receber propinas do esquema Petrobras. "Nunca pensei nisso, nunca me passou pela cabeça. Eu estava recebendo remuneração pelo meu trabalho, usando uma conta não declarada no exterior. O receio que eu tinha, óbvio, é que estava usando uma conta não declarada no exterior. Sempre tive muito receio disso, mas, infelizmente, no meu trabalho, na minha atividade, isso acontece sempre. Faz parte dos trabalhos da campanha política. Sempre são pagamentos em caixa 2, uma prática que acontece."
Laudo da Polícia Federal indica que a empresa do casal (Pólis Propaganda) recebeu R$ 170 milhões do PT, entre 2006 e 2014. "São valores expressivos", ela reconheceu. "Fazer TV, campanha no Brasil, é muito caro. Isso (R$ 170 milhões) se refere a campanhas."
Moro perguntou o motivo de não ter incluído os US$ 4,5 milhões recebidos de Zwi Scornicki na contabilidade da agência Pólis Propaganda.
"Os partidos não aceitam, sempre tentei para ficar mais tranquila, não tinha que correr riscos, fazer esse malabarismo de empresário doador de campanha, mas o partido não aceita porque tem o teto, vai extrapolar o teto limite que tem no Tribunal Superior Eleitoral. Os partidos não querem declarar o real valor que recebem das empresas. Em contrapartida nós profissionais ficamos no meio disso. Portanto, nunca era declarado todo o valor. Não era uma opção minha, era uma prática, não só do PT, em todos os partidos."
Moro questionou a mulher de João Santana se ela não considera "uma trapaça a banalização do caixa 2".
"Eu queria receber esses valores o mais rápido possível, mas o Vaccari já havia me informado que ia parcelar, não tinha como pagar de uma vez. Eu queria. O (Vaccari) disse que (Zwi) era um grande empresário, uma pessoa honesta, decente, que colaborava com o partido e que iria pagar essa dívida nossa. Mas eu nunca pensei em dinheiro sujo."