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Fluxo de venezuelanos para Roraima em 2018 é 55% maior do que em todo 2017

Para prefeita de Boa Vista, para evitar uma situação de colapso, 500 pessoas deveriam deixar a cidade por mês

IMIGRANTES VENEZUELANOS EM BOA VISTA:  eles já somam 7,5% da população da cidade   (Nacho Doce/Reuters)

IMIGRANTES VENEZUELANOS EM BOA VISTA: eles já somam 7,5% da população da cidade (Nacho Doce/Reuters)

Valéria Bretas

Valéria Bretas

Publicado em 18 de junho de 2018 às 16h18.

São Paulo – Todos os dias, 416 venezuelanos cruzam a fronteira com Roraima em busca de refúgio no Brasil. Dados obtidos em primeira mão por EXAME mostram que o número de pessoas que tentam fugir do caos social e econômico na Venezuela já é 55% maior nos cinco primeiros meses de 2018 do que em todo o ano de 2017, segundo dados compilados pela Prefeitura de Boa Vista e pelo Exército. 

De acordo com a sondagem, dos 12 mil venezuelanos que entram por mês em Roraima, 22% (equivalente a 2,7 mil pessoas) permanecem em Boa Vista. Hoje, a cidade conta com 25 mil refugiados da Venezuela. 

Se o fluxo migratório continuar nesse ritmo, a previsão é de que Boa Vista receba mais 10 mil venezuelanos até o fim do ano. Hoje, os refugiados vindos do país vizinho representam 7,5% da população do município. 

Para atender ao elevado número de refugiados na cidade, o Exército instalou oito abrigos. Com cerca de 450 vagas cada, todos já estão completamente lotados.

“Precisamos desesperadamente que o governo federal retire parte dessas pessoas. Essa é uma realidade que caiu no nosso colo, mas que é de responsabilidade da federação”, afirma Teresa Surita, prefeita de Boa Vista. Para evitar uma situação de colapso, a prefeitura estima que, por mês, 500 refugiados deveriam deixar a cidade.   

Serviços públicos

Mais do que um problema de habitação, a chegada de tantos refugiados também impacta a oferta de serviços públicos da cidade.

Na rede municipal de ensino fundamental, por exemplo, já há 2.094 crianças venezuelanas matriculadas. Mas não há estrutura para essa demanda. Segundo a prefeitura, as escolas da educação básica da cidade já estão funcionando 6% acima de sua capacidade. Nos próximos meses, o governo federal deve enviar ao município 50 contêineres para serem usados como estrutura provisória de salas de aula.

Na área de saúde, mais de 37 mil consultas médicas a estrangeiros foram realizadas só no primeiro trimestre de 2018. Os venezuelanos representam 47% do total de pacientes atendidos no período. 

Convivência

O quadro, segundo a prefeita, divide o sentimento dos moradores. Parte carrega um sentimento de revolta e concorda com a opinião do governo do estado em fechar a fronteira com a Venezuela. Por outro lado, há também um forte movimento de pessoas querendo ajudar.

“Existe, de fato, uma sensação de que os venezuelanos estão ocupando um espaço que não é deles. Parte da população não sai mais de casa com a mesma tranquilidade de antes”, diz Teresa. A prefeita pondera que os imigrantes não têm uma postura violenta, mas que a quantidade de pequenos furtos aumentou. A dificuldade em conseguir um emprego, segundo ela, é o principal fator para essa situação, que antes era rara na cidade.

“Para conseguir sobreviver, os venezuelanos passaram a pedir esmolas nos faróis e  lotar as praças públicas para pedir dinheiro. A prática de crimes é consequência do desespero”, argumenta a prefeita.

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