Flordelis foi julgada pelo Tribunal do Júri, composto por sete jurados (três mulheres e quatro homens) sorteados (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Estadão Conteúdo
Publicado em 13 de novembro de 2022 às 09h20.
A cantora, pastora evangélica e ex-deputada federal Flordelis dos Santos de Souza, de 61 anos, foi condenada a 50 anos e 28 dias de prisão pelo assassinato do marido, o pastor Anderson do Carmo, ocorrido em 16 de junho de 2019 na garagem da casa em que a família morava, em Niterói, região Metropolitana do Rio.
O julgamento, iniciado às 9h da segunda-feira, 7, acabou às 7h20 deste domingo, 13. Flordelis foi julgada pelo Tribunal do Júri, composto por sete jurados (três mulheres e quatro homens) sorteados entre cidadãos previamente alistados, sob o comando da juíza Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói.
Segundo o Ministério Público do Estado do Rio (MP-RJ), responsável pela acusação, Flordelis e familiares próximos dela estavam descontentes com a conduta do pastor, que gerenciava a carreira da pastora e cantora e administrava o dinheiro. Por isso, decidiram matá-lo, primeiro tentando fazer por envenenando e, por fim, acabaram matando-o a tiros. A pastora sempre negou o crime.
Além de Flordelis, também foram julgados quatro familiares dela: Marzy Teixeira da Silva, filha adotiva de Flordelis, Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis, Rayane dos Santos Oliveira, filha de Simone e neta de Flordelis, e André Luiz de Oliveira, filho adotivo de Flordelis. Só Simone foi condenada a 31 anos e 4 meses. Os demais foram absolvidos.
Deputada federal mais votada do Estado do Rio de Janeiro, a pastora evangélica filiada ao PSD já teve a vida retratada em filme. Flordelis - Basta uma Palavra para Mudar, lançado em 2009, com Bruna Marquezine, Cauã Reymond, Letícia Spiller, Deborah Secco, Reynaldo Gianecchini e Letícia Sabatella.
Flordelis nasceu e cresceu na Favela do Jacarezinho, na zona norte do Rio. Aos 14 anos perdeu o pai e um irmão, mortos em um acidente de carro. Trabalhou como balconista em uma padaria e acompanhava a mãe, Calmozina Motta, em uma rotina evangélica, da qual participava cantando e tocando guitarra.
Posteriormente casou, teve filhos e foi abandonada pelo marido. Em 1993, aos 32 anos, decidiu iniciar um trabalho social com usuários de drogas. No mesmo ano, conheceu Anderson do Carmo de Souza, com quem se casou no ano seguinte. "Nunca planejei ter tantos filhos", contava à imprensa. Uma das primeiras a ser adotadas foi abandonada na Central do Brasil. Um mês depois, houve uma matança na estação. "De uma vez, apareceram na minha casa 37 crianças."
Souza e Flordelis voltavam de uma confraternização e teriam sido seguidos até a casa deles. Segundo a deputada contou à polícia, depois que chegaram em casa, o marido voltou à garagem porque teria esquecido algo dentro do carro. Nesse momento, a família ouviu o som dos disparos e desceu correndo. Souza chegou a ser levado ao Hospital Niteroi D'or, onde morreu. Os atiradores fugiram sem levar nada.
Testemunhas disseram que três homens encapuzados fizeram disparos. O cachorro da família teria sido dopado para não alertar sobre a presença de desconhecidos. Imagens de câmeras de segurança da rua onde fica a casa do casal foram requisitadas e estão sendo analisadas pela polícia.
Foram alvos dos mandados de prisão preventiva: Marzy Teixeira da Silva, Simone dos Santos Rodrigues, André Luiz de Oliveira, Carlos Ubiraci Francisco da Silva, Flávio dos Santos Rodrigues, Adriano dos Santos Rodrigues, Rayane dos Santos Oliveira, Andrea Santos Maia e Marcos Siqueira Costa. Os seis primeiros são filhos de Flordelis, e a sétima, neta da parlamentar.
As investigações concluíram que a deputada federal Flordelis (PSD-RJ) foi a mandante do assassinato, diz a Polícia Civil. Ela foi denunciada à Justiça pelo crime. Na ocasião, a deputada relatou em depoimento e à imprensa que o pastor teria sido morto durante um assalto. Ela informou ainda que eles tinham sido seguidos por suspeitos em uma moto quando retornavam para casa.
"Flordelis é responsabilizada por arquitetar o homicídio, arregimentar e convencer o executor direto e demais acusados a participarem do crime sob a simulação de ter ocorrido um latrocínio. A deputada também financiou a compra da arma e avisou da chegada da vítima no local em que foi executada, segundo a denúncia", afirmaram os promotores.
O motivo do crime "seria o fato de a vítima manter rigoroso controle das finanças familiares e administrar os conflitos de forma rígida, não permitindo tratamento privilegiado das pessoas mais próximas a Flordelis, em detrimento de outros membros da numerosa família", diz o MP.
A peça enviada pelo MP fluminense à Justiça indica ainda que as ações dos outros dez denunciados se deram em diferentes etapas "como no planejamento, incentivo e convencimento para a execução do crime" e ainda em tentativas de homicídio anteriores à morte do pastor, "pela administração de veneno na comida e bebida da vítima, ao menos seis vezes, sem sucesso".
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