Brasil

Fiquei lá no morre ou não morre, diz delator da Lava Jato

Em dezembro de 2006, o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras quase morreu após uma viagem à Índia


	Ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa: a sustentação política de Costa na diretoria de Abastecimento foi mantida pelo PMDB
 (Geraldo Magela/Agência Senado)

Ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa: a sustentação política de Costa na diretoria de Abastecimento foi mantida pelo PMDB (Geraldo Magela/Agência Senado)

DR

Da Redação

Publicado em 24 de março de 2015 às 11h47.

Curitiba e São Paulo - Era dezembro de 2006 quando o ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, um dos personagens da Operação Lava Jato, quase morreu após uma viagem à Índia.

Com malária e pneumonia, a chance de viver, segundo médicos, era de 5%. Sua sobrevivência teve um preço para o PP, partido que o colocou no cargo: dividir o setor com o PMDB.

Entubado, Costa ficou 15 dias na CTI de um hospital no Rio. Passou 2 meses afastado do cargo na diretoria de Abastecimento se tratando.

Período que, segundo ele, serviu para que 3 gerentes quisessem ocupar seu lugar. O relato foi gravado em vídeo pela força-tarefa da Operação Lava Jato.

"Fiquei lá no morreu ou não morre. (Três gerentes) fizeram 'N' contatos políticos, porque tinham grande ideia que eu não ia voltar", contou.

"Nesse meio tempo, o PMDB do Senado resolveu me apoiar. Tem PMDB do Senado e tem PMDB da Câmara. Não são o mesmo PMDB."

A doença havia enfraquecido a força política de Costa na diretoria de Abastecimento.

À força-tarefa da Lava Jato, ele contou que após se recuperar foi procurado pelo deputado federal Aníbal Gomes (PMDB-CE), enviado pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL).

"O contato do senador Renan Calheiros que esteve comigo na Petrobras aqui no Rio de Janeiro e esteve comigo na Petrobras em Brasília foi o deputado Aníbal Gomes. Ele pediu uma audiência", disse.

"Os contatos que eu tive com os senadores do PMDB foi mais com o Renan Calheiros e com o Romero Jucá."

A sustentação política de Costa na diretoria de Abastecimento foi mantida pelo PMDB. Segundo ele, houve reuniões e jantares no 2º trimestre de 2007, na casa de Renan em Brasília, para tratar, primeiramente, da manutenção de Costa no setor e, depois, para falar de obras da estatal petrolífera.

"Sabemos que tem um problema lá, que querem te tirar, a gente acha que você deveria continuar. Já conversamos com o PP a respeito disso", teriam dito representantes do PMDB para Costa.

"Se eles me tirassem naquele momento, ia assumir outro (do) PT. Era PT na Gás e Energia, PT na Exploração e Produção, PT na área de Serviços, PT na Abastecimento. Ia ser PT de ponta a ponta. Obviamente que o PMDB também não queria isso."

A contrapartida que o PP daria ao PMDB, após consolidar Costa no cargo, era a divisão da diretoria de Abastecimento. O PP, com PT e PMDB, são suspeitos de lotear diretorias da Petrobras para arrecadar entre 1% e 3% de propina em grandes contratos, mediante fraudes em licitações e conluio de agentes públicos com empreiteiras organizadas em cartel.

"Ajudar o que fosse possível o partido, igual ao PP. Mesma coisa", teriam dito representantes do PMDB, segundo Costa.

O ex-diretor é o primeiro delator do esquema de corrupção e propina instalado na estatal petrolífera e desbaratado pela força-tarefa da Lava Jato.

Ele foi preso duas vezes entre março e agosto de 2014 e, desde o fim do ano passado, cumpre prisão domiciliar.

Acompanhe tudo sobre:Capitalização da PetrobrasEmpresasEmpresas abertasEmpresas brasileirasEmpresas estataisEstatais brasileirasGás e combustíveisIndústria do petróleoOperação Lava JatoPetrobrasPetróleo

Mais de Brasil

Enem 2024: prazo para pedir reaplicação de provas termina hoje

Qual é a multa por excesso de velocidade?

Apesar da alta, indústria vê sinal amarelo com cenário de juros elevado, diz economista do Iedi

STF rejeita recurso e mantém pena de Collor após condenação na Lava-Jato