Fiocruz: nomeação de candidatos que perderam a eleição é permitida por lei, mas a decisão dos funcionários tem sido respeitada desde o governo FHC (Divulgação/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 2 de janeiro de 2017 às 11h41.
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está tentando acionar diretamente o presidente da República, Michel Temer, para reverter a nomeação da pesquisadora Tania Cremonini de Araújo-Jorge como sua nova presidente.
Os rumores sobre a escolha de Tania pelo ministro da Saúde, Ricardo Barros, causaram alvoroço entre os servidores da fundação porque a pesquisadora perdeu a eleição conduzida entre os funcionários da instituição para a escolha do novo presidente. A vencedora do pleito foi Nísia Trindade, com 2.556 votos, contra os 1.695 obtidos por Tania.
Questionado, o Ministério da Saúde afirmou que não iria se manifestar, uma vez que a decisão é de competência do presidente Michel Temer. Integrantes da pasta ouvidos pela reportagem, no entanto, dão como certa a indicação de Tânia.
A indicação pelo ministério de um candidato derrotado nas eleições internas está prevista no regimento. No entanto, o governo tem respeitado os resultados do pleito desde o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso.
A notícia de que a nomeação de Tania será publicada no Diário Oficial nesta segunda-feira, 2, caiu como "uma bomba" e "criou turbulência" na fundação, disse o atual presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha.
Apesar do ponto facultativo, servidores foram à sede do instituto, no campus Manguinhos, na zona norte do Rio, para um ato de protesto contra a suposta escolha da pesquisadora.
"Era totalmente imprevisível e irracional. Nísia teve 60% dos votos e tem apoio de todo o corpo de diretores da Fiocruz�, afirmou Gadelha, para quem a confirmação da nomeação da segunda colocada seria considerada "uma intervenção extemporânea de natureza política".
Em reunião emergencial realizada nesta sexta-feira, 30, para tratar do caso, o Conselho Deliberativo da Fiocruz decidiu encaminhar uma nota oficial ao presidente Temer e ao ministro Barros e criar uma comissão para dialogar com o governo federal em Brasília. Como o ministério preferiu não se manifestar, a diretoria da fundação começou a articular contato com o próprio Temer.
Segundo Gadelha, o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan) e membro do Conselho Superior da Fiocruz, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, conversou com o presidente por telefone, pedindo que ele reveja a nomeação.
"A questão agora está na sensibilidade do presidente Temer para reverter (a escolha) e dar paz a uma instituição que mesmo com a turbulência que o País viveu manteve capacidade de resposta significativa", disse.
Servidores da Fiocruz já estão classificando o movimento como intervenção política e temem que a fundação perca sua independência.
Desde que assumiu a pasta, o ministro Ricardo Barros tem assumido posições polêmicas, como afirmar que as multas aplicadas aos planos de saúde são abusivas.
A Fiocruz tem manifestado preocupação em relação às declarações de Barros e chegou a publicar uma carta em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS), cujo fortalecimento é uma de suas atribuições.
Daniela Amorim, Mariana Durão e Lígia Formenti