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Fiocruz adia entrega de vacina de Oxford para março após atraso de insumos

Inicialmente, a fundação esperava entregar o primeiro 1 milhão de doses da vacina entre 8 a 12 de fevereiro

Vacina covid-19 AstraZeneca/Oxford (GEOFF CADDICK/Getty Images)

Vacina covid-19 AstraZeneca/Oxford (GEOFF CADDICK/Getty Images)

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Reuters

Publicado em 19 de janeiro de 2021 às 19h47.

Última atualização em 19 de janeiro de 2021 às 20h29.

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) adiou do início de fevereiro para março a entrega das primeiras doses da vacina da AstraZeneca a serem produzidas no Brasil devido ao atraso na chegada do insumo farmacêutico ativo (IFA) da China, que era esperado para o início deste mês, mas que ainda não foi recebido.

A informação consta de ofício enviado pela Fiocruz ao Ministério Público Federal (MPF) no âmbito de apuração dos procuradores sobre o andamento dos trabalhos para a vacinação no país contra a Covid-19, informaram a Fiocruz e o MPF.

Inicialmente, a Fiocruz esperava entregar o primeiro 1 milhão de doses da vacina desenvolvida pela AstraZeneca e a Universidade de Oxford produzidas pela fundação entre 8 a 12 de fevereiro, mas esse calendário contava com a chegada em 9 dejaneiro do insumo farmacêutico ativo (IFA) a ser importado da China.

No ofício, a Fiocruz informa que a chegada do IFA está prevista para 23 de janeiro e que estima que as primeiras doses serão disponibilizadas ao Ministério da Saúde no início de março.

O princípio ativo, no entanto, ainda não foi liberado para exportação pelo governo chinês, em meio a uma soma de questões burocráticas e necessidade da China de suprir seu próprio mercado com vacinas, de acordo com fontes ouvidas pela Reuters.

Além disso, as relações entre Brasil e China passam por um mau momento durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, que criticou diversas vezes a vacina chinesa CoronaVac -- atualmente a única disponível no Brasil -- e também irritou a China por sua intenção de bloquear a chinesa Huawei de participar no fornecimento de equipamentos 5G no Brasil.

Em nota, a fundação disse que, apesar do atraso, segue com o compromisso de entregar 50 milhões de doses até abril, de um total de 210,4 milhões este ano.

De acordo com a Fiocruz, serão necessárias de três a quatro semanas para a entrega do primeiro lote de vacinas após a chegada do IFA: uma semana para a produção e as demais para controle de qualidade e documentação.

Poucas doses

O Brasil depende da produção de vacinas da Fiocruz para conseguir vacinar em massa a população.

Apenas para vacinar os três grupos prioritários -- trabalhadores de saúde, idosos, indígenas e pessoas com morbidades-- são necessárias 104,2 milhões de doses de vacina, para um total de 49,6 milhões de pessoas, de acordo com o plano de vacinação do governo federal.

Atualmente o Brasil dispõe de 10,8 milhões de doses da vacina da Sinovac.

A previsão da Fiocruz é produzir 100,4 milhões de doses com os insumos importados no primeiro semestre, e outros 110 milhões na segunda metade do ano já com insumo próprio, mediante acordo de transferência de tecnologia.

Aumento rápido

A Fiocruz, que já abastece o Brasil com a maior parte das vacinas usadas no programa nacional de imunização anual, triplicará a capacidade com os imunizantes contra a Covid-19. A expansão da produção será rápida: após alguns lotes de testes, a expectativa é produzir 350 mil doses diárias até a segunda semana, e o dobro na semana seguinte. Até o final de março, a Fiocruz espera estar produzindo 1,4 milhão de doses por dia, que serão fornecidas integralmente ao SUS. Não há planos de exportar neste momento.

A Fiocruz planeja iniciar a produção local do IFA em abril, o que deve impulsionar a produção. Krieger disse que é “impossível” acelerar o processo, pois os equipamentos ainda estão chegando e a Anvisa tem que aprovar a nova linha de produção, o que está previsto para acontecer em março.

Krieger diz que 150 milhões de pessoas serão “tranquilamente” vacinadas até o fim do ano.

“Iniciando a produção em abril, começaremos as entregas em agosto, com a vantagem de ser um lote grande”, disse. “Esta não é uma corrida de 100 metros, é uma maratona. Temos que nos preparar para produzir milhões e milhões de vacinas neste ano e, provavelmente, no próximo.”

A meta é que a vacina produzida localmente custe menos de US$ 4 a dose incluindo o pagamento de royalties, disse. É muito cedo para especular sobre um prazo para que todos os 212 milhões de brasileiros sejam vacinados -- os imunizantes ainda não foram testados em grupos que representam 30% da população --, mas Krieger diz que 150 milhões de pessoas serão “tranquilamente” imunizadas até o fim do ano.

Estudos mostram que um intervalo de três meses entre as duas doses oferece a melhor proteção, disse Krieger, acrescentando que a segunda dose gera uma resposta imunológica significativa.

Novas cepas

Krieger diz que a Fiocruz deve enviar os documentos para o registro definitivo da vacina Astra/Oxford junto à Anvisa nesta semana, agora que a corrida para liberar tanto o imunizante da Astra quanto o produzido pela Sinovac/Butantan para uso emergencial terminou.

Ainda não há preocupação de que as novas variantes - como a encontrada em Manaus - não respondam às vacinas atualmente disponíveis. Mas, com a espera, o coronavírus continua a se propagar pelo Brasil.

A média móvel de sete dias de casos no país está perto de um recorde há cerca de 10 dias, enquanto a média móvel de mortes diárias está nos níveis vistos pela última vez em agosto. Com cerca de 8,5 milhões de infecções, o Brasil tem o terceiro maior número de casos do mundo, atrás apenas dos EUA em mortes, com mais de 210 mil óbitos devido ao vírus.

“Nenhum país está lidando bem com a segunda onda”, disse. “Mas é claro que estamos no pior momento, com as medidas de contenção tendo baixa eficácia.”

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