FHC: "ele sumiu e agora só a Dilma que é a culpada? Só se lê nos jornais que Lula reclamou da Dilma. Que é isso?" (Branca Nunes/Veja)
Da Redação
Publicado em 17 de março de 2015 às 14h57.
São Paulo - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) avaliou que as manifestações do último domingo, 15, passaram um recado tanto para a presidente Dilma Rousseff (PT) como para o ex-presidente Lula (PT).
Em entrevista ao jornal Valor Econômico, FHC disse que os ânimos se acirraram após a fala de Lula de que exércitos da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) iriam para as ruas defender o governo.
O tucano reclamou ainda do silêncio do petista . "Ele sumiu e agora só a Dilma que é a culpada? Só se lê nos jornais que Lula reclamou da Dilma. Que é isso?", questionou.
Ele avaliou que os protestos e especialmente os panelaços mostraram que é a sociedade que está surda ao governo e não o contrário. Disse ainda não crer que Lula e Dilma não soubessem sobre o esquema de corrupção na Petrobras.
"Em português claro: não é crível que o que aconteceu na Petrobras fosse desconhecido por quem estivesse no poder, seja Lula seja Dilma. Não digo que estejam involucrados no assunto, mas não é crível que estivessem alheios. Foram muitos anos com diretores sustentados pelos partidos."
Fernando Henrique cobrou Lula, Dilma e o PT pelo que considera erros econômicos. Argumentou que as falhas em optar por controle de preços de combustíveis, política de campeões nacionais - de priorizar empréstimos do BNDES para algumas companhias - e mesmo as decisões de política energética não podem ser colocadas na conta do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.
FHC repetiu a argumentação que vem sendo feita pelo PSDB e pela oposição de cobrar um mea-culpa do governo petista.
"Quantas vezes não disse que errei por não ter ajustado o câmbio antes de 1998? Tinha mil razões para dizer por que não ajustei, mas não importa. Não se pode fugir da responsabilidade histórica."
O ex-presidente tucano avaliou ainda que o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi nomeado "não pela razão, mas pelo coração".
Para FHC, fica evidente o entendimento do Planalto de que, se Levy for embora, "a coisa explode". Ele apontou, contudo, não ser fatalista e ver condições para a correção de rumo na economia.
"O desemprego cresceu, mas ainda não é assustador. A inflação subiu, está pegando mais que o desemprego, mas ainda há margem de manobra do governo."
O ex-presidente avaliou que o PMDB pode até ter diminuído em tamanho de bancadas no Congresso Nacional, mas ainda tem consistência e poder de influenciar partidos próximos.
Ele avaliou que a legenda pode ajudar na aprovação de ajustes fiscais, mas que o PT vai ter colocar a mão no fogo.
"Quem vai pagar o preço é o PT. Ninguém vai pôr a mão no fogo para tirar as castanhas. Claro que não são malucos de negar o necessário. Acho que não haverá irresponsabilidade de negar o ajuste, mas vai custar para fazer."
Sobre os rumores de que ele se encontraria com Dilma em um gesto de acalmar os ânimos entre os dois partidos adversários em um momento que ganham força discursos mais radicais de impeachment, FHC disse nunca ter recusado o chamado de ninguém para conversar, mas que o "momento não é de conchavo". "Se a presidente achar que é o momento de chamar, deve ser público", afirmou.