Outra denúncia feita na agência é a imposição de situações para usar os trilhos e portos de uma mesma empresa (Eugenio Savio/Veja)
Da Redação
Publicado em 13 de fevereiro de 2011 às 17h20.
São Paulo - Visto como solução para reduzir os custos logísticos do Brasil, o setor ferroviário entrou na lista de problemas do agronegócio. A discórdia começou com a proposta de reajuste do preço do frete entre 20% e 30% este ano, o que provocou a revolta dos usuários. Na quarta-feira, cinco associações ligadas aos produtores de grãos desembarcaram em Brasília para pedir que a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) intervenha no caso e resolva a questão antes do início da safra, em abril.
Além dos reajustes, eles aproveitaram a ocasião para questionar a qualidade dos serviços prestados pelas concessionárias. Os executivos das associações reclamaram que tem havido uma espécie de “venda casada” em ferrovias de empresas que também têm terminais portuários. Também alertaram o diretor-geral da ANTT, Bernardo Figueiredo, sobre uma prática que até então era usual apenas no setor aéreo: o overbooking. As concessionárias estariam contratando cargas acima de sua capacidade.
Figueiredo afirmou que dará prioridade a uma investigação para apurar os fatos. Antes, no entanto, o diretor-geral da ANTT pediu que as associações apresentem um relatório oficial com todas as reivindicações e reclamações. “Os usuários nos relataram algumas novidades no setor ferroviário que são inaceitáveis”, disse Figueiredo, referindo-se à prática do overbooking. “As concessionárias não podem se esquecer que são operadoras de serviços públicos.”
Outra denúncia feita na agência é a imposição de situações para usar os trilhos e portos de uma mesma empresa. Se não aceitarem o frete da ferrovia não podem ter acesso ao porto.
O diretor da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça, diz desconhecer os problemas relatados pelos usuários das ferrovias, seja de venda casada ou de overbooking. “Não tenho ideia do que sejam essas práticas que eles estão falando. Agora terão de provar que isso, de fato, ocorre.”
O executivo afirmou ainda que não pode falar sobre as propostas de reajustes acima de 20% porque os contratos entre concessionárias e empresas são sigilosos. Por outro lado, Vilaça diz que é natural os usuários reclamarem de aumento de preços e fazerem pressão para diminuir os reajustes. Ele destaca, no entanto, que as companhias de transporte rodoviário acabaram de anunciar um aumento de 17% no frete e ninguém fez estardalhaço por isso. “As transportadoras podem pedir 17% por defasagem de preço e as ferrovias não?”, questiona o executivo.
A ANTT vai chamar as concessionárias para conversar e entender o que está ocorrendo. Se não houver uma solução, a agência poderá instaurar processo de arbitragem. Além da Anut, Abiove e Anec, a Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja) e as confederações da Agricultura (CNA) e Indústria (CNI) estiveram na sede da ANTT para reclamar sobre os serviços ferroviários. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.