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Favelas brasileiras combatem crise climática com soluções próprias

Paraisópolis criou horta no meio da favela que capacita agricultores urbanos


Gilson Rodrigues, presidente do G10 Favelas (ao centro), do lado de Miguel Oliver, presidente da agência Efe, na Agrofavela Refazenda, em Paraisópolis (Sebastião Moreira/EFE)

Gilson Rodrigues, presidente do G10 Favelas (ao centro), do lado de Miguel Oliver, presidente da agência Efe, na Agrofavela Refazenda, em Paraisópolis (Sebastião Moreira/EFE)

EFE
EFE

Agência de Notícias

Publicado em 2 de outubro de 2024 às 17h39.

As favelas do Brasil, onde vivem cerca de 20 milhões de pessoas, há anos sentem os efeitos de uma crise climática que obrigou seus moradores a criar suas próprias iniciativas sustentáveis diante do descaso do Estado.

“A temperatura nas favelas é muito mais alta no verão. Enquanto a cidade está a 30 graus Celsius, em Paraisópolis (segunda maior favela de São Paulo) chega a 39”, afirmou Gilson Rodrigues, presidente da organização G10 Favelas, no 2º Fórum Latino-Americano de Economia Verde, organizado pela Agência EFE.

Os tijolos das casas a céu aberto, as calçadas de cimento e os telhados de metal transformam muitas das favelas em verdadeiras saunas, em um contexto em que as ondas de calor são cada vez mais frequentes no país.

A falta de saneamento também faz com que as favelas corram o risco de inundações durante a estação das chuvas.

“Somos marginalizados pelos serviços que não chegam”, criticou Rodrigues, cuja família vive em Paraisópolis há 70 anos, após fugir da seca no estado da Bahia.

Nesse cenário, o G10 Favelas, uma organização sem fins lucrativos que reúne líderes e empreendedores dessas favelas extremamente vulneráveis, tem agido à revelia do poder público.

Uma horta no meio da favela

Uma das iniciativas apresentadas por Rodrigues no fórum é a “AgroFavela-Refazenda”, uma horta de 900 metros quadrados, um oásis no meio de Paraisópolis, que também capacita “agricultores urbanos” por meio de um curso de treinamento para mulheres, muitas delas vítimas de violência de gênero.

Os alimentos produzidos de forma sustentável também são utilizados em outro projeto, o “Mãos de Maria”, que por sua vez produz panelas para famílias em situação de insegurança alimentar.

Outro projeto sugere a inclusão de pequenas hortas e lotes individuais em telhados de tijolos e concreto aparente.

“Estamos criando soluções para podermos dizer que funciona”, disse Rodrigues. Assim, Paraisópolis se tornou um laboratório de ideias do qual surgiram cerca de 50 iniciativas financeiras, de comunicação, logística, agricultura, construção e reciclagem.

Nessa última, implementaram o programa “Costurando Sonhos”, que capacita mulheres em moda por meio da reciclagem de peças de vestuário, como uniformes de bancos, companhias elétricas e companhias aéreas. Suas criações já foram expostas em Milão, por exemplo.

“Existe uma alternativa, elas estão fazendo isso e estão ganhando dinheiro”, declarou Rodrigues.

Por sua vez, Claudio Providas, representante do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil, presente no painel, pediu às autoridades que “elevem o nível de ambição, acelerem as políticas públicas” e, assim, transformem realidades como a de Paraisópolis.

“A mudança climática afeta de forma desigual” e impacta especialmente “os pobres e aqueles com poucos recursos”, afirmou.

O 2º Fórum Latino-Americano de Economia Verde reuniu especialistas e líderes regionais em São Paulo na terça e quarta-feira para discutir políticas inovadoras, a urgência de reduzir as emissões de carbono e oportunidades de investimento sustentável.

O fórum é patrocinado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil), e pela empresa Norte Energia, e conta com o apoio da Vivo e da Câmara Espanhola de Comércio no Brasil.

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