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Falta de saneamento gera 344 mil internações e sobrecarrega o SUS com doenças evitáveis

Estudo do Trata Brasil mostra que ausência de serviços adequados de água tratada e coleta de esgoto resulta milhares em internações por doenças como diarreia, hepatite A, dengue e leptospirose no Brasil

 (TV Brasil/Reprodução)

(TV Brasil/Reprodução)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 19 de março de 2025 às 00h01.

Última atualização em 19 de março de 2025 às 10h07.

A falta de acesso ao saneamento básico continua a ser uma das principais causas de internações e mortes evitáveis no Brasil. Em 2024, o país registrou 344,4 mil internações relacionadas às chamadas Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI), segundo estudo do Instituto Trata Brasil, em parceria com a EX Ante Consultoria, publicado nesta quarta-feira, 19.

O levantamento mostra que a ausência de serviços adequados de água tratada e coleta de esgoto resulta em internações por doenças como diarreia, hepatite A, dengue e leptospirose.

O impacto também atinge as finanças públicas, já que essas doenças sobrecarregam o Sistema Único de Saúde (SUS) com gastos elevados.

Se o retrato do presente é desafiador, o passado já foi bem pior. Desde 2008, houve uma redução de 3,6% ao ano nas internações por DRSAI, quando o número de internações foi de 615,4 mil casos. Em 2024, o maior grupo de internações foi o de doenças transmitidas por insetos, especialmente a dengue, com 168,7 mil internações.

Doenças de transmissão feco-oral, como diarreia e amebíase, foram responsáveis por 47,6% das internações, o que totaliza 163,8 mil casos. A redução nas internações por doenças feco-orais foi mais expressiva, com uma queda de 345,5 mil casos desde 2008.

O estudo do Trata Brasil destaca que, embora o número de internações tenha diminuído ao longo dos anos, a implementação de políticas públicas eficazes deve ser acelerada para alcançar a universalização do saneamento no país.

Em 2023, o Brasil registrou 11.544 óbitos por DRSAI. O número de mortes foi especialmente alto entre crianças de 0 a 4 anos e idosos.

As taxas de mortalidade por doenças de transmissão feco-oral foram mais elevadas, com 5.673 óbitos registrados em 2023, o que representa 49% do total de mortes por DRSAI.

A mortalidade por doenças transmitidas por insetos, como a dengue, foi a segunda maior causa de óbitos, com 5.394 mortes no mesmo período.

Economia de R$ 1,25 bilhão por ano no SUS

A falta de acesso ao saneamento básico também gera impactos econômicos. Se a universalização do saneamento fosse alcançada, a estimativa é que o Brasil reduziria em 86 mil o número de internações anuais por DRSAI, o que economizaria R$ 49,9 milhões por ano no SUS.

A longo prazo, esse investimento em infraestrutura pode gerar uma economia de R$ 1,25 bilhão.

A universalização dos serviços de saneamento tem potencial para reduzir em 69,1% as taxas de internação por DRSAI em áreas atendidas, dentro de 36 meses após a implementação de infraestrutura adequada.

Desigualdades regionais e a falta de acesso ao saneamento básico

A falta de saneamento afeta desproporcionalmente as populações de diferentes regiões e grupos sociais.

O Maranhão se destacou como o estado com a maior taxa de internações e óbitos por DRSAI, especialmente por doenças feco-orais. O estado registrou 45,8 internações por cada 10 mil habitantes, número que supera a média nacional de 16,2 internações por 10 mil habitantes.

No Nordeste, onde doenças de transmissão feco-oral predominam, o Maranhão, a Bahia e o Piauí apresentaram as maiores taxas de incidência.

A região Norte também enfrenta altos índices, com destaque para o Pará, que registrou 21,9 internações por 10 mil habitantes.

As populações mais afetadas incluem crianças e idosos. Em 2024, 43,5% das internações foram de crianças de 0 a 4 anos e de idosos com mais de 60 anos. A taxa de internação por DRSAI foi de 53,8 casos por 10 mil crianças de 0 a 4 anos e 23,7 casos por 10 mil idosos, o que revela uma vulnerabilidade maior desses grupos a doenças relacionadas ao saneamento inadequado.

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