Brasil

Falta de articulação e gestão desafiam sucesso da política industrial, dizem investidores

Mercado quer ver a Nova Indústria Brasil "mais na rua e com ações concretas", destaca responsável pela 12ª edição do Barômetro da Infraestrutura sobre um dos apontamentos feitos à pesquisa

A pesquisa é realizada pela empresa de consultoria EY e a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB) com gestores, investidores e especialistas que apoiam a estruturação de projetos de infraestrutura (Leandro Fonseca/Exame)

A pesquisa é realizada pela empresa de consultoria EY e a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB) com gestores, investidores e especialistas que apoiam a estruturação de projetos de infraestrutura (Leandro Fonseca/Exame)

Publicado em 18 de janeiro de 2025 às 06h20.

Prestes a completar um ano, o programa da Nova Indústria Brasil (NIB) ainda carece de ajustes estruturais e estratégicos para o avanço da nova política industrial na visão da maioria dos investidores de infraestrutura. A 12ª edição do Barômetro da Infraestrutura revela que apenas 2,06% desses agentes do mercado apontam que, até o momento, não existem fatores relevantes que afetem a capacidade de sucesso da NIB.

A pesquisa é realizada pela empresa de consultoria EY e a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB) com gestores, investidores e especialistas que apoiam a estruturação de projetos de infraestrutura.

Questionados sobre os pontos mais fundamentais que precisam de um melhor encaminhamento para que a nova política industrial tenha bons resultados, 57,8% desses stakeholders apontaram a necessidade de maior capacidade de articulação do governo com o setor produtivo.

Assim como maior velocidade na definição dos instrumentos (48,1%), capacidade na gestão do governo, com a utilização de ferramentas de acompanhamento do programa (46,6%) e formação de mão de obra especializada (41,3%). Um total de 10% disseram não saber responder.

Lançada em janeiro de 2024, a NIB se tornou uma das bandeiras defendidas com maior fervor pelo governo federal, responsável pela iniciativa.

Questionado pela EXAME sobre o resultado da pesquisa, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) afirmou em nota que a iniciativa foi "construída a partir de um amplo debate entre o governo federal, representantes do setor produtivo e trabalhadores no âmbito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Industrial (CNDI)".

A pasta também ressaltou que definiu "14 instrumentos, como mecanismos de financiamento, melhorias no ambiente de negócios, conteúdo local e margem de preferência, com o objetivo de impulsionar a indústria nacional, gerar emprego e renda e, simultaneamente, solucionar questões sociais".

Em balanço no final do ano, o MDIC chamou atenção para um salto de R$ 300 bilhões para R$ 506,7 bilhões de crédito até 2026 no Plano Mais Produção, sistema de financiamento da NIB.

Desse total em linhas de crédito até 2026, R$ 384,4 bilhões já foram aprovadas entre 2023 e 2024. Além disso, o BNDES aumentou o volume de desembolso de R$ 98 bilhões, em 2022, para R$ 148 bilhões, em 2024. O que favoreceu o crédito para a indústria, crescendo 262%, segundo a pasta.

Mas, apesar dos dados, Gustavo Gusmão, sócio da EY na área de Infraestrutura e responsável pelo estudo, avalia que o contraste entre o que avalia o governo e os investidores mostra que o conceito da NIB foi bem recebido, mas ainda falta "uma percepção mais a olho nu do que na prática está acontecendo".

"O governo está satisfeito com o desenho que ele fez do programa e o mercado, que é mais pragmático, quer ver mais resultado. Ele quer ver o programa mais na rua, com ações e resultados concretos, com desdobramentos e, talvez, ganhos mais rápidos", explica o executivo. "Nem que sejam pequenas pílulas de sucesso, sinalizações de avanço nisso. Está faltando ver as engrenagens girando e a governança para poder desenvolver-se melhor."

O MDIC alega que fez aprimoramentos nas Missões 1 a 5 da NIB, lançadas no ano passado estabelecendo metas para 2026 e 2033 e alocando R$ 1 trilhão em recursos, incluindo crédito direto e programas como o Minha Casa, Minha Vida. E cita o crescimento da indústria em 3,6%, "a maior alta em 10 anos".

"O debate para a construção e aprimoramento dos instrumentos da NIB é contínuo. Por essa razão, o governo federal reforçou a atuação do CNDI, que conta com 21 representantes do governo federal e 21 da sociedade civil, trabalhando em prol de um desenvolvimento industrial sustentável, exportador, inovador e produtivo, que vai gerar emprego e renda e melhorar a qualidade de vida dos brasileiros", diz a pasta.

Ceticismo com o PAC

Para Gusmão, o mesmo ceticismo de agentes privados acontece em relação às ações do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Na pesquisa, a iniciativa foi percebida como abaixo da expectativa pela maioria dos agentes do mercado no setor de Infraestrutura.

Somente 2,1% acreditam que as metas do PAC serão integralmente cumpridas e 11,5% que serão majoritariamente alcançadas. Enquanto 43,1% acreditam num cumprimento parcial e 37,2% no minoritário. O ceticismo acontece em meio a uma avaliação positiva da formulação do novo PAC que, acrescenta Gusmão, endereçou pontos de preocupação.

"Mas não basta lançar a ideia", destaca. "Alguns programas, como o próprio Programa de Parcerias de Investimentos do governo federal, o PPI, que vem desde 2016, as pessoas já enxergam os marcos, têm uma confiabilidade das entregas daquele programa e estão vendo isso na prática. Mas ainda não se vislumbrou isso com a Nova Indústria Brasil", completa o responsável pela pesquisa.

O que é a NIB?

A NIB é a aposta do governo federal para reativar o setor que já representou 50% do PIB nos anos 1970, mas vem ladeira abaixo nas últimas décadas como uma das indústrias que mais apresentaram recuo no mundo em quase 50 anos.

Até o momento cinco missões com as cadeias produtivas prioritárias foram divulgadas. Elas tratam de setores como saúde, mobilidade sustentável, moradia, infraestrutura, saneamento básico, transformação digital, agroindústria, bioeconomia e descarbonização.

O MDIC também deve lançar a Missão 6, focada em tecnologias de interesse para soberania e defesa nacionais.

Transição energética e descarbonização

A nova edição do Barômetro da Infraestrutura mostra ainda que, para a maioria dos investidores, o Brasil não está preparado para atender aos objetivos da transição energética e descarbonização.

Um total de 60,8% disseram que faltam linhas de financiamento para o tema evoluir. Quase o mesmo percentual dos 59,6%, que indicaram também falta de clareza em relação ás metas, e 56,1% de políticas adequadas sobre transição e descarbonização.

Apenas 4,1% responderam que o Brasil está preparado para atender esses objetivos.

Acompanhe tudo sobre:IndústriaPolítica industrialInfraestrutura

Mais de Brasil

Lula, Bolsonaro, Tarcísio, Gusttavo Lima, Zema e Caiado: AtlasIntel simula cenários para 2026

Lula diz que terá que 'tomar atitudes mais drásticas' se não achar solução para alta de alimentos

PT confirma Humberto Costa como 'presidente tampão' após saída de Gleisi

Desaprovação de Lula cresce e chega a 53%, diz pesquisa AtlasIntel