Fake news: "Por que reinventar algo se você já tem evidências de que aquilo enganou pessoas em outros lugares?", diz especialista (Montagem/Exame)
Estadão Conteúdo
Publicado em 16 de setembro de 2019 às 10h48.
Última atualização em 16 de setembro de 2019 às 10h57.
São Paulo — Notícias falsas e boatos "estrangeiros" têm alimentado a desinformação no Brasil. Neste ano, o Estadão Verifica desmentiu ao menos 18 boatos que já haviam circulado em outras línguas e foram adaptados para o português.
O exemplo mais recente de checagem é o de uma foto de uma mulher usando cocaína que foi usada para atacar parlamentares de esquerda na Argentina e na Espanha e, mais recentemente, no Brasil.
Além deste boato, entre os conteúdos desmentidos pelo Estadão Verifica, outros ganharam impulso por causa do contexto político do Brasil.
A ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner, alvo de ataques do presidente Jair Bolsonaro, foi personagem de dois deles. Em um dos casos, uma imagem falsificada procurou associar Cristina e a ex-presidente Dilma Rousseff ao traficante colombiano Pablo Escobar.
Em outro exemplo recente, publicações nas redes sociais procuraram justificar censura imposta pelo prefeito do Rio, Marcelo Crivella, a uma revista em quadrinhos com beijo gay.
Neste caso, disseminadores de conteúdo falso se valeram do boato de que um livro com cenas adultas estaria sendo vendido para crianças - mentira que já havia circulado antes no Peru e na Argentina.
A pesquisadora britânica Claire Wardle, diretora da organização First Draft, diz que os agentes de desinformação observam o que é bem sucedido em outros lugares e ficam "inspirados" — às vezes utilizam exatamente o mesmo conteúdo, especialmente imagens ou vídeos que podem fazer sentido no contexto local.
"Por que reinventar algo se você já tem evidências de que aquilo enganou pessoas em outros lugares?"
Dos 18 "boatos sem fronteiras" compilados pelo Estadão Verifica, metade dizia respeito à saúde. Três dessas checagens esclareciam boatos relacionados ao câncer - um deles afirmava que o bicarbonato de sódio poderia curar a doença.
A teoria foi importada de um médico italiano que perdeu a licença em 2006.
De acordo com Claire, preocupações com a saúde são medos universais. "É por isso que a desinformação sobre a saúde é tão eficaz", afirmou ela.