Luciano Hang, dono das lojas Havan, chega ao Senado para prestar depoimento à CPI da Covid (Leopoldo Silva/Agência Senado)
Alessandra Azevedo
Publicado em 29 de setembro de 2021 às 15h36.
Última atualização em 29 de setembro de 2021 às 18h09.
Durante depoimento na CPI da Covid, nesta quarta-feira, 29, o empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, disse que não é um “negacionista”, mas voltou a defender o tratamento precoce contra a covid-19. Ele disse, inclusive, que a própria mãe, Regina Hang, que morreu em fevereiro em decorrência da covid-19, deveria ter começado a usar o “kit covid” antes mesmo de ser diagnosticada.
Internada em hospital da rede Prevent Senior, operadora que tem sido investigada por supostamente prescrever de forma sistemática medicamentos sem eficácia comprovada e ocultar mortes pela covid-19, a mãe de Hang tomou hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e colchicina, além de ter passado por procedimentos também ineficazes, como ozonioterapia.
Regina Hang morreu em 3 de fevereiro, mas no atestado de óbito não consta que o motivo foi a covid-19. O empresário atribuiu a omissão ao plantonista que preencheu o documento e disse que, em seguida, ele foi corrigido. O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Junior, no entanto, confirmou à CPI que a operadora orientava médicos a mudar o código de diagnóstico (CID) dos pacientes internados com covid-19.
Hang disse não ver “o interesse do hospital” de mentir sobre a morte da mãe dele. “Qual era o motivo, se eu já havia dito publicamente que ela estava internada e estava com covid? Ainda fiz uma live explicando e lamentando o fato de ela não ter feito o tratamento preventivo”, lembrou. Tratamento preventivo, segundo ele, seria tomar remédios antes de ser internada com covid-19.
O empresário também negou ter participado do gabinete paralelo que orientava o presidente Jair Bolsonaro sobre a pandemia, disse que não fez “nada de errado” e ressaltou que a CPI não tem nenhuma prova contra ele. “Não conheço, não faço e nunca fiz parte de nenhum gabinete paralelo”, reforçou Hang.
O empresário admitiu à CPI que tem “duas ou três” contas no exterior, em paraísos fiscais. Segundo ele, todas declaradas na Receita Federal. O colegiado investiga se ele utilizou dinheiro depositado fora para financiar veiculação de notícias falsas sobre a pandemia, mas ele nega. “Nunca financiei nenhum esquema de fake news e não sou negacionista”, disse.
Um dos blogs que teriam sido beneficiados seria o do bolsonarista Allan dos Santos, que é investigado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no inquérito das fake news. O relator, Renan Calheiros (MDB-AL), mostrou à CPI uma troca de mensagens entre Allan e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), na qual o blogueiro conta que havia conseguido patrocínio de Hang para o blog.
O empresário disse que recebe milhares de pedidos de patrocínio diariamente e os envia ao departamento de marketing. “Nós não patrocinamos o programa do Allan dos Santos. Pode ter conversado, pode ter falado comigo, mas não aconteceu”, reforçou. Em relação ao filho de Bolsonaro, Hang afirmou que tem relação “de amizade” com a família. “De vez em quando, se vê. Não é de frequentar a casa, nada”, contou.
Hang também precisou se explicar após ter negado que fez empréstimos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), levou aos senadores a informação de que o empresário já fez diretamente 57 operações com o banco público entre 1993 e 2014, no valor de 27 milhões de reais.
Segundo Hang, o valor é equivalente ao que as lojas Havan faturam em um dia, e a maioria das operações foi para comprar equipamentos e máquinas pela Agência Especial de Financiamento Industrial (Finame), subsidiária do BNDES. “Ninguém perguntou ‘foi para comprar o quê?’. Nós perguntamos se houve a operação”, disse o relator, senador Renan Calheiros (MDB-AL).
O depoimento começou com Hang se negando a prestar o compromisso de falar a verdade, por estar sendo ouvido na condição de investigado, não de testemunha. O advogado do empresário afirmou que “a orientação da defesa dele é que ele não tem de assinar esse documento, porque esse documento é destinado a testemunha”.
Em seguida, o depoente exibiu um vídeo de uma propaganda da Havan, o que foi criticado por alguns senadores, que não entenderam o objetivo da exibição. O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) pediu que ele seja retirado dos registros dos canais de comunicação do Senado.