Exército: na entrevista, o comandante afirmou que "ditadura nunca é melhor" (Ricardo Moraes/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 20 de setembro de 2017 às 12h50.
Última atualização em 6 de agosto de 2018 às 11h09.
São Paulo - O comando do Exército brasileiro não deverá punir o general Antonio Hamilton Mourão. Na sexta-feira passada, 15, em uma palestra promovida pela maçonaria, em Brasília, o general disse que "seus companheiros do Alto Comando do Exército" entendiam que uma intervenção militar poderia ser adotada, caso o Poder Judiciário não solucionasse o problema político do País, envolto em um mar de lama de corrupção.
Na terça-feira, 19, em entrevista ao jornalista Pedro Bial, da TV Globo, o comandante do Exército brasileiro, general Eduardo Villas Bôas, minimizou as declarações de Mourão e disse que ele não será punido, sob argumento de que é necessário contextualizar a fala dele, que se deu em um ambiente fechado, após ter sido provocado. "Ele (Mourão)não fala pelo Alto Comando, quem fala pelo Alto Comando e pelo Exército sou eu", emendou.
Na entrevista, Villas Bôas diz que "ditadura nunca é melhor" e que é preciso entender o momento na circunstância em que ele ocorreu, com Guerra Fria e polarização ideológica. Hoje, diz o general, o País tem instituições amadurecidas e um sistema de peso e contrapeso que dispensa a sociedade de ser tutelada.
Ainda sobre o general Mourão, o comandante do Exército brasileiro diz que ele é "um grande soldado, uma figura fantástica, um gauchão." E disse que ele inicia a fala que deu toda essa repercussão dizendo que segue as diretrizes do comandante.
"E nossa atuação desde o início das crises, do impeachment, era promover a estabilidade, pautar sempre pela legalidade, e preservar a legitimidade que o Exército tem." E frisou que já conversou com o general "para colocar as coisas no lugar", mas sem punição.
Na segunda-feira, 18, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, convocou Villas Bôas para pedir explicações após a repercussão negativa das declarações do general.
No final de semana, após tomar conhecimento das declarações, Jungmann relatou o fato ao presidente Michel Temer, dizendo que tinha deixado nas mãos do comandante do Exército a decisão sobre como conduzir o caso.
Em outubro de 2015, Mourão já havia protagonizado outro episódio polêmico, ao criticar o governo e a então presidente Dilma Rousseff.
Na ocasião, ele perdeu o Comando Militar do Sul e foi transferido para a Secretaria de Economia e Finanças, um cargo burocrático. Pelo Regulamento Disciplinar do Exército, Mourão poderia ser punido por dar declarações de cunho político, sem autorização de seu superior hierárquico.