Jacarta, na Indonésia: acordo de livre comércio com o Mercosul (Getty Images/Getty Images)
Carla Aranha
Publicado em 31 de agosto de 2022 às 10h33.
Última atualização em 1 de setembro de 2022 às 13h14.
*De Brasília
Depois de assinar um acordo de livre comércio com Singapura, em julho deste ano, o Mercosul deverá dar início às negociações com a Indonésia, segundo informações apuradas por EXAME. A aprovação para o pontapé inicial das tratativas foi dada pelo Conselho de Estratégia Comercial da Câmara de Comércio Exterior (Camex), do Ministério da Economia, em dezembro de 2020. Faltava, no entanto, o sinal verde dos demais sócios do Brasil no Mercosul. Agora, com a anuência de Argentina, Paraguai e Uruguai, as negociações começaram a caminhar.
“A primeira rodada de negociações deve acontecer em setembro ou outubro”, disse o embaixador Michel Arslanian, secretário das Américas do Ministério de Relações Exteriores, em entrevista à EXAME. A reunião entre diplomatas do Mercosul e da Indonésia representa o primeiro passo para a elaboração do tratado entre o bloco sul-americano e Jacarta.
As exportações brasileiras para a Indonésia atingiram 1,6 bilhão de dólares no primeiro semestre deste ano, 24,4% a mais do que no mesmo período do ano passado, segundo a Camex. O superávit da balança comercial chegou a 586,4 milhões de dólares.
Entre os principais produtos exportados, têm destaque o farelo de soja, que representa 55% da receita advinda dos embarques, seguido pelo algodão (11%) e açúcar (7,6%). “Com a eliminação de tarifas comerciais, o que pressupõe um gradual processo de redução mediante negociações entre ambas as partes, os produtos brasileiros deverão conquistar mais competitividade na Indonésia, um dos países que mais crescem no mundo”, diz Arslanian. “Essas tratativas levam tempo, então não é possível prever, neste momento, quando o acordo deverá ser concluído.”
O PIB da Indonésia cresceu 5,4% no segundo trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2021. A aceleração econômica se deve ao aumento nas exportações e do consumo interno. A expansão do PIB superou as expectativas do mercado, que previa uma alta de 5,1%. O Banco Mundial projeta que a economia do país deve crescer 5,1% este ano. No ano passado, a alta foi de 3,7%. Atualmente, a Indonésia representa a maior economia do sudeste asiático e a décima do mundo em termos de paridade de poder de compra, de acordo com dados do Banco Mundial.
Enquanto isso, prosseguem as negociações entre o Mercosul e a Coreia do Sul. As primeiras tratativas tiveram início em 2018. Já foram discutidas questões como medidas fitossanitárias, acesso ao mercado de bens e serviços, compras governamentais e barreiras técnicas. A intenção é que o tratado de livre comércio entre o bloco sul-americano e a Coreia do Sul inclua uma cooperação técnica.
Um relatório elaborado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em parceria com a Korea Foundation, ONG coreana voltada a temas relacionados à diplomacia internacional, aponta o acordo com a Coreia pode atingir um patamar mais elevado, com a criação de um fundo bilateral para projetos de desenvolvimento e pesquisa em áreas estratégicas para o crescimento dos países envolvidos. As negociações do acordo de livre comércio, no entanto, encontram resistência por parte de alguns setores da economia no Brasil. Os fabricantes de calçados e eletrônicos, por exemplo, demonstram preocupação com o aumento da concorrência com produtos coreanos, segundo fontes de mercado.
O Mercosul também negocia um acordo de livre comércio com o Canadá. As primeiras reuniões foram realizadas em 2018. A pandemia e as eleições no Canadá, no ano passado, não ajudaram e o acordo pouco avançou, segundo diplomáticas. O primeiro-ministro Justin Trudeau, do Partido Liberal, conquistou um novo mandato, mas não obteve maioria no Parlamento. Para formar um novo governo, foi necessário negociar com outros partidos.
Em julho deste ano, o Mercosul fechou um acordo de livre comércio com Singapura. Foram quatro anos de negociações. O tratado, o primeiro assinado entre o bloco sul-americano e um país asiático, possibilitou a eliminação de tarifas de importação de cerca de 90% do comércio bilateral. Para entrar em vigor, o acordo precisa ser validado por parlamentares de todos os países envolvidos, o que ainda não tem data para acontecer.
Singapura deve representar uma porta de entrada de produtos brasileiros no Sudeste Asiático. Hoje, empresas brasileiras já utilizam Singapura como um polo de distribuição para a região. O acordo com a cidade-estado, detentora de uma das maiores rendas per capita globais, deve possibilitar maior inserção de produtos como aves, carne suína e derivados de petróleo no mercado asiático.
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