Fila de beneficiários do auxílio emergencial em agência da Caixa, em São Paulo: governo anunciou corte do valor e pagamento de mais quatro parcelas (Bruna Prado/Getty Images)
Fabiane Stefano
Publicado em 1 de setembro de 2020 às 14h21.
Última atualização em 2 de setembro de 2020 às 11h24.
Nove em cada dez brasileiros querem a manutenção do auxílio emergencial. Para 53% das pessoas, o benefício deveria ser mantido com o valor de 600 reais por mês. Outros 37% consideram que o auxílio deve continuar, mas com redução do valor.
Os dados fazem parte de uma pesquisa exclusiva da plataforma Exame/IDEIA, projeto que será lançado nos próximos dias que une Exame Research, braço de análise de investimentos de Exame, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública.
O levantamento foi realizado com 1.235 pessoas, por telefone, em todas as regiões do país, entre os dias 24 e 31 de agosto. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
Apesar do desejo da maioria de manutenção do valor de 600 reais, o presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta terça-feira, 1 de setembro, a redução do auxílio emergencial para 300 reais por mês. Serão pagas mais quatro parcelas com o novo valor.
A prorrogação do valor de 600 reais é percebida de formas diferentes na população brasileira. Entre os que completaram apenas o ensino fundamental, esse índice é maior que a média geral: 59% responderam que o benefício deveria ser mantido no patamar original.
Essa perspectiva não muda muito nem mesmo entre a faixa da população que completou o nível superior e pertence às classes sociais mais favorecidas -- 42% das pessoas que pertencem a esse estrato desejam a manutenção dos 600 reais.
O auxílio fez diferença na vida de muita gente. “Essa iniciativa do governo foi importante para manter a economia funcionando”, diz Maurício Moura, fundador do IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião, e professor da George Washington University na área de políticas públicas
Na região Nordestes, 59% dos moradores também gostariam que deveria continuar na casa de 600 reais, enquanto no sul, uma região mais rica, apenas 36% das pessoas fizeram a mesma afirmação.
A pesquisa também perguntou qual seria a reação em caso de redução do valor. Para 48% dos ouvidos, um corte no valor é ruim mas aceitável, uma vez que os efeitos da crise causada pela pandemia devem permanecer por mais tempo. Para 23% das pessoas, a redução do valor é inaceitável.
O governo pretende lançar nos próximos dias o programa Renda Brasil, planejado para turbinar o Bolsa Família. Para 30% das pessoas, é compreensível que o Renda Brasil distribua menos de 600 reais mensais, pois o pior da pandemia já passou.
A maioria (66%) dos brasileiros que recebeu a ajuda de 600 reais gastou tudo ou pelo menos uma parte do recurso com produtos de consumo pessoal e da família, o que ajudou a economia a respirar. Outros 24% aproveitaram para pagar dívidas. Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, essa foi a opção de 28% dos consumidores.
Quem ganha mais foi capaz de quitar mais as pendências financeiras -- 46% das famílias com renda mensal de mais de cinco salários mínimos aproveitou o auxílio emergencial para fazer frente ao pagamento de dívidas.
“A resposta do auxílio emergencial dialoga com o que está acontecendo no mundo, com a população entendendo que os mecanismos especiais para a economia foram elaborados para salvar os países durante a crise do coronavírus”, diz Moura.
O auxílio emergencial de 600 reais alcançou 66 milhões de brasileiros, que receberam, no total, mais de 160 bilhões de reais. Mais de 36 milhões de trabalhadores informais tiveram acesso a 73 bilhões de reais. "A perda econômica para o país causada pela pandemia poderia ter sido muito pior não fosse o auxílio emergencial”, diz Moura.