Turquia inicia vacinação de profissionais de saúde contra Covid-19 com aplicação de vacina CoronaVac (Murad Sezer/Reuters)
Fabiane Stefano
Publicado em 16 de janeiro de 2021 às 14h34.
Última atualização em 16 de janeiro de 2021 às 14h54.
Se uma vacina contra a covid-19 já estivesse disponível em clínicas particulares, a maioria dos brasileiros iria preferir esperar o início da campanha nacional de imunização contra a doença, na qual serão distribuídas gratuitamente as doses pelo governo.
Dados inéditos da última pesquisa EXAME/IDEIA, projeto que une EXAME Research, braço de análise de investimentos da EXAME, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública, mostram que 57% da população não aceitaria pagar pela vacina em clínicas particulares.
“A expectativa das pessoas é de uma vacina gratuita e amplamente distribuída”, diz Maurício Moura, fundador do IDEIA. "Nas faixas de renda mais baixas da população, a rejeição é maior e os dados mostram que 64% não aceitam pagar. Porém, mesmo pessoas das classes A e B, em sua maioria, também não concordam em pagar pela vacina."
A pesquisa também aponta que, para 67% dos brasileiros, a vacinação contra a covid-19 no Brasil está atrasada. A insatisfação com o ritmo da vacinação, porém, não afetou a aprovação ao governo do presidente Jair Bolsonaro, que voltou a subir neste mês. Hoje, 37% dos brasileiros afirmam estar satisfeitos com a gestão federal, diante de 35% no mês passado. '
O levantamento ouviu 1.200 pessoas entre os dias 11 e 14 de janeiro. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
Apenas 22% dos brasileiros estão dispostos a pagar pela vacina na rede privada se o preço for inferior a 100 reais. Outros 14% aceitam adquirir o imunizante se ele custar até 250 reais. Já 4% das pessoas entrevistadas topam pagar por uma vacina com preço de até 1 mil reais e apenas um 1% dos respondentes aceitam um valor superior.
Nas faixas de renda mais alta da população, a disposição em comprar a vacina é maior, mas o preço pode ser um fator limitador. Entre os que recebem mais de cinco salários mínimos, 19% aceitam pagar até 100 reais e 20%, até 250 reais. A título de comparação, hoje, a vacina da gripe comum é oferecida por cerca de 100 reais nas clínicas particulares
Já 9% dos entrevistados com maior renda aceitam um preço entre 500 e 1.000 reais. Para imunizantes com preço acima de 1 mil reais, apenas 8% das pessoas concordariam em pagar.
Quando a pesquisa EXAME/IDEIA observa questões etárias, o grupo de pessoas entre 40 e 49 anos é o mais disposto a pagar pela vacina: 46% aceitam comprar, considerando todas as faixas de preço. Apenas 2% das pessoas grupo considerariam comprar uma vacina com preço acima de 500 reais.
Os jovens são os que têm menos interesse numa vacina privada: 64% das pessoas entre 16 e 24 anos não aceitam pagar pela vacina. Chama a atenção que 58% dos mais velhos (pessoas com 50 anos ou mais) também não estão dispostos a pagar pela vacina contra covid-19, ainda que o grupo seja o mais vulnerável à doença – 70% das mortes por covid-19 no Brasil ocorrem em idosos.
A perspectiva de demora na vacinação contra a covid-19 no Brasil fez com que clínicas privadas buscassem alternativas de imunizante a ser oferecido na rede particular. Segundo a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas (Abcvac), foram encomendadas 5 milhões de doses do laboratório indiano Bharat Biotech.
A expectativa é que o imunizante contra a covid-19 esteja disponível na rede privada no país em março.