FIla em uma agência da Caixa Econômica, em São Paulo, para sacar o auxílio emergencial: benefício foi decisivo para grande parte das famílias atingidas pela crise (Roberto Parizotti/Fotos Públicas)
Carla Aranha
Publicado em 11 de setembro de 2020 às 16h41.
A maioria dos brasileiros ficou insatisfeita com a redução do auxílio emergencial de 600 para 300 reais. De acordo com pesquisa inédita EXAME/IDEIA, projeto que une Exame Research, braço de análise de investimentos da EXAME, e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública, 53% das pessoas ouvidas tiveram uma reação negativa ao corte no benefício. Apenas 31% acharam a redução positiva.
Mas, apesar da diferença que o auxílio emergencial de 600 reais fez na vida de muita gente, a redução no valor do benefício não pegou de surpresa a maioria da população. Um terço dos brasileiros não esperava sequer a continuidade do pagamento e 23% tinham consciência que haveria alguma redução no valor.
“A maioria tinha uma visão realista sobre a questão, levando-se em conta a crise econômica provocada pelo coronavírus”, diz Mauricio Moura, fundador do IDEIA. Isso não quer dizer, no entanto, que a população tenha ficado satisfeita com o corte pela metade no valor dobenefício – 39% acreditavam que o auxílio de 600 reais seria prorrogado.
Mesmo assim, a aprovação do governo segue em alta, com 40% dos brasileiros apoiando a atual gestão, o maior índice desde fevereiro deste ano. “Os efeitos positivos do auxílio de 600 reais ajudaram a puxar a popularidade do presidente”, diz Moura.
A pesquisa foi realizada com 1.200 pessoas, por telefone, em todas as regiões do país, entre os dias 7 e 11 de setembro. A margem de erro é de três pontos percentuais, para mais ou para menos.
A maioria das famílias (38%) utilizou o benefício para a compra de insumos básicos, como alimentos e produtos de higiene e limpeza, e o pagamento de contas. Outros 28% também conseguiram pagar dívidas e sair do vermelho.
O patamar relativamente alto do auxílio, que fez diferença inclusive para as famílias poderem colocar comida no prato e limpa a casa, tornou mais difícil uma aceitação de uma redução considerável do valor recebido, segundo Moura.
Quando perguntados sobre a hipótese de continuar a receber o auxílio em 2021, a maioria (72%) revelou uma percepção bastante pragmática, dizendo não acreditar que o benefício seria estendido até o ano que vem. Apenas 16% mantém a esperança de continuidade do auxílio, enquanto 12% não souberam responder.
Os pesquisadores também perguntaram qual foi o impacto da pandemia no trabalho e na renda dos brasileiros – 36% conseguiram manter o trabalho, mas enfrentaram uma queda nos rendimentos, seguidos por aqueles (35%) que foram capazes de manter sua atividade profissional e uma situação econômica estável.
“Nesse grupo, estão principalmente os funcionários públicos e trabalhadores de setores menos afetados pela crise, como o agronegócio, mercado financeiro, TI e varejo de alimentação”, diz Moura.
Para um quinto da população, no entanto, os efeitos da pandemia foram brutais. O levamento EXAME/IDEIA mostra que 17% dos brasileiros perderam o trabalho e a renda. Apenas 3% conseguiram um trabalho novo durante a pandemia.
“As famílias mais afetadas ficaram tão vulneráveis que para elas faz muita diferença receber 50 ou 70 reais a mais em relação aos 300 reais do novo valor do auxílio ou do Renda Brasil”, afirma Moura. “No contexto socioeconômico brasileiro, aumentar o valor do benefício é o tipo da ação que pode render ganhos políticos para o presidente”. A tentação em furar o teto dos gastos e manter o Renda Brasil em 300 reais, ou mais, está posta. Resta saber o que o governo irá decidir.