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Ex-secretária de Nuzman relata à Justiça telefonemas de Papa Diack

Senegalês e seu pai, Lamine Diack. teriam recebido US$ 2 mi para votar em favor do Rio de Janeiro na escolha das Olimpíadas de 2016, segundo o MPF

Nuzman: Operação Unfair Play, que investiga o ex-presidente do COB, é um dos desdobramentos da Operação Lava-Jato no RJ (Ueslei Marcelino/Reuters)

Nuzman: Operação Unfair Play, que investiga o ex-presidente do COB, é um dos desdobramentos da Operação Lava-Jato no RJ (Ueslei Marcelino/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 27 de abril de 2018 às 21h52.

A ex-secretária de Carlos Arthur Nuzman no Comitê Olímpico Brasileiro (COB) Maria Celeste Pedrosa depôs hoje (27) ao juiz federal Marcelo Bretas na condição de testemunha em processo derivado da Operação Unfair Play, que investiga um esquema de compra de votos para favorecer a eleição do Rio de Janeiro como sede das Olimpíadas de 2016. Ela deu informações sobre telefonemas que recebeu do senegalês Papa Diack, filho de Lamine Diack, à época presidente da Federação Internacional de Atletismo.

Presidente do COB de 1995 a 2017, Nuzman liderou a campanha do Rio de Janeiro para sede das Olimpíadas de 2016 e também a organização do evento. O Rio foi escolhido em outubro de 2009. Papa Diack e Lamine Diack votaram em favor da cidade brasileira e são apontados pelo Ministério Público Federal (MPF) como beneficiados do esquema de compra de votos. Eles teriam recebido US$2 milhões. Como desdobramento da Operação Unfair Play, Nuzman chegou a ficar preso por 15 dias em outubro do ano passado, mas foi solto após obter um habeas corpus no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e responde ao processo em liberdade.

Em seu depoimento, a ex-secretária explicou que ingressou no COB em 2007 para atuar no apoio à candidatura da cidade e, posteriormente, trabalhou também na empresa Rio 2016 quando esta foi estruturada. Ela esteve presente em diversas viagens de apresentação do projeto do Rio de Janeiro aos potenciais eleitores, mas informou não ter participado dos encontros, ficando nas recepções dos hotéis agendando reuniões com interessados, providenciando mesas nos restaurantes onde as conversas ocorriam e atendendo pequenas solicitações da delegação brasileira como providenciar uma bebida, entre outras tarefas.

Maria Celeste disse se lembrar de ter ocorrido uma reunião com a participação de Papa Diack em julho de 2009, durante o Campeonato Mundial de Atletismo em Berlim, na Alemanha. Ela afirmou também que recebeu telefonemas do senegalês após a eleição do Rio, em que ele se queixava de não conseguir contato com o então presidente do COB. "Eu passava o recado e Nuzman me dizia que não sabia do que se tratava e que não tinha nada a ver com isso. Aí o Papa Diack começou a enviar e-mails pedindo retorno, eu imprimia e entregava a Nuzman", relatou.

Inicialmente, as mensagens não detalhavam o assunto, se resumindo a um pedido de retorno. Posteriormente, o senegalês passou a falar sobre uma cobrança por telefone. "Ele ligava em horários impróprios por não observar o fuso horário, o que me irritava muito. Quando começou a falar de dinheiro, eu falei para ele passar um e-mail. Ele enviou. Eu imprimi e mostrei ao Nuzman e disse a ele que alguém precisava atender esse homem porque não sabia do que se tratava e ele ficava me ligando. Eu disse que não ia mais responder. Então ele falou para ver com o financeiro. Eu entreguei o e-mail impresso lá e esse homem parou de me ligar graças a Deus".

A ex-secretária disse que chegou a pensar que a cobrança dizia respeito ao alguma ação humanitária de cunho esportivo na África, mas achou estranho quando viu que o e-mail enviado por Papa Diack elencava duas opções de contas na Rússia e não em Senegal. "Quando estivemos lá, visitamos algumas escolas e vimos pistas de atletismo com buracos, crianças sem tênis para correr. Muita pobreza".

Celeste destacou ainda no depoimento que a campanha da candidatura do Rio demandou muito trabalho e que não suspeitou nem observou qualquer movimentação que sugerisse compra de votos, inclusive no dia da escolha, quando ela estava presente. Segundo ela, houve uma grande euforia com o anúncio. Ela também elogiou o empenho de Nuzman: "Era um grande líder. Motivava absurdamente o grupo. Mesmo durante as viagens, havia toda uma equipe no escritório, muitas vezes virando a noite, lidando com as diferenças de fuso horário, para contribuir com as apresentações".

Réus

A Unfair Play é um dos desdobramentos da Operação Lava-Jato no Rio de Janeiro. O MPF imputa à Nuzman os crimes de corrupção passiva, organização criminosa, lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Além dele, Leonardo Gryner, ex-diretor-geral de operações do Comitê Rio 2016, responde por corrupção passiva e organização criminosa, enquanto Papa Diack, Lamine Diack e o ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, são acusados de corrupção passiva.

Já o empresário e ex-dono do grupo Facility, Arthur Soares, conhecido como Rei Arthur, é réu por corrupção ativa. De acordo com o MPF, foi ele o responsável pelo pagamento aos senegaleses. Em contrapartida pela ajuda milionária, o empresário teria sido beneficiado com a contratação de uma de suas empresas, a LSH Empreendimentos, pelo Comitê Organizador do Rio 2016.

Também depuseram hoje (27), o doleiro Enrico Machado e seu funcionário Leonardo Aranha. Denunciados em outros esquemas de corrupção também investigados em desdobramentos da Lava-Jato, ambos fecharam acordo de colaboração premiada com o MPF. No depoimento, eles prestaram informações sobre a conta de Arthur Soares no banco EVG, em Antígua e Barbuda, que teria sido usada para transações de recursos direcionados para propina. A instituição financeira foi criada por Enrico.

Na quarta-feira (25), outras testemunhas depuseram na Operação Unfair Play. Um deles, o doleiro Marcelo Chebar, que admite participação em esquemas liderados pelo ex-governador Sérgio Cabral, prestou informação sobre seu envolvimento em transações de Arthur Soares.

Na audiência de hoje, o juiz Marcelo Bretas autorizou ainda que a defesa de Nuzman faça um inventário de itens pessoais que estão encaixotados na sua antiga sala na sede do COB, para que possam ser identificados aqueles que o ex-dirigente da entidade pode retirar de local. Em outro processo, o magistrado ouviu também testemunhas de acusação contra o agente fazendário Ary Filho, amigo há mais de 20 anos e assessor de Sérgio Cabral. Na Operação Mãos à Obra, que investiga o recebimento de vantagens indevidas e desvio de recursos públicos em obras realizadas no estado, ele é apontado como um dos operadores financeiros.

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